08 fevereiro 2015

“Corações de Ferro” é bem mais que um filme sobre a Segunda Guerra


Brad Pitt é o sargento durão que lidera um grupo de soldados nos ataques aos alemães (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Jean Piter


Quantos filmes você já viu sobre a Segunda Guerra Mundial? Em quantos deles os americanos são heróis? Por mais que as histórias se repitam, o tema parece inesgotável. E é fato: o gênero agrada, e muito, em todos os cantos do mundo. “Corações de Ferro” ("Fury" – 2014) não foge à regra. Não traz muita novidade, mas vale a pena ser visto.

O longa conta a história de cinco soldados do exército dos EUA que recebem a missão de atacar os nazistas em território alemão, no ano de 1945. O grupo é liderado pelo veterano de guerra, sargento Don "Wardaddy" Collier (Brad Pitt). Em seu grupo está o jovem recém-chegado Norman "Machine" Ellison (Logan Lerman). Mesmo em desvantagem numérica, e com poucas armas, eles não fogem das batalhas. E mandam bem!

Brad Pitt é um líder um tanto clichê; durão, mas de bom coração. Sábio e corajoso. Seu leal e obediente grupo também tem seus clichês. Chega a ser um tanto caricato. Michael Peña, como sempre, interpreta um norte-americano de ascendência latina, Trini "Gordo" Garcia. Jon Bernthal vive o truculento e ao mesmo tempo sentimental Grady "Coon-Ass" Travis.


Brad Pitt nem de longe lembra o tenente Aldo Raine que viveu em “Bastardos Inglórios” (2009). Ele consegue criar um personagem novo, firme e convincente. Méritos de um ator maduro e bom de serviço. Shia LaBeouf dá um loucura bem medida ao soldado religioso Boyd "Bible" Swan. Ele rouba a cena em muitos momentos.

Logan Lerman é certamente o grande destaque do filme na pele de Norman "Machine" Ellison. Um soldado que ingressou no exército para ser datilógrafo e acabou indo para o campo de batalha. Ele interpreta muito bem o militar medroso e inseguro que, aos poucos, vai encarnando o espírito da guerra.

Uma grata surpresa!

Um dos méritos de “Corações de Ferro” é apresentar ao mundo a bela e talentosa Alicia von Rittberg. Ela tem um papel pequeno, com poucas falas, mas com expressões que beiram a perfeição. A moça é bem mais que um rosto bonito.

Efeitos visuais

Diferente de outros filmes de guerra, “Corações de Ferro” traz explosões e tiros que parecem bem mais realistas. As balas cortando o ar com raios de luz lembram as cenas das guerras do Iraque e da Síria, vistas recentemente na TV.

Nem heróis, nem vilões

Os americanos matam ou são mortos. Os alemães pensam da mesma forma. No filme isso é quase visível. Está nas entrelinhas. Não há aquele velho antagonismo extremo do bem contra o mal, como nas outras produções. Há momentos de nobreza e de crueldade dos dois lados. Uma escolha acertada do diretor e dos produtores. Afinal, em uma guerra não há heróis nem vilões. Há apenas mortos e sobreviventes pra contar a história.




Ficha técnica:
Direção: David Ayer
Produção: Le Grisbi Productions / QED International / LStar Capital / Crave Films
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 2h14
Gênero: Guerra, Drama, Ação
País: EUA, Reino Unido, China
Classificação: 16 anos
Nota: 4,0 (0 a 5)

Tags: Corações de Ferro; Fury; Brad Pitt; Shia LaBeouf; Columbia Pictures; Sony Pictures; Segunda Guerra Mundial; drama; ação; Cinema no Escurinho


06 fevereiro 2015

Matemática é arma de guerra em “O Jogo da Imitação”

Benedict Cumberbatch dá a carga de dramaticidade na medida certa em cada cena (Fotos: Diamond Films/Divulgação)

Jean Piter



As histórias da Segunda Guerra Mundial parecem ser mesmo inesgotáveis. E isso não é algo ruim. Não para o cinema, que todos os anos lança filmes sobre o tema. “O Jogo da Imitação” é mais uma dessas obras que chega ao Brasil. Ou melhor, não é só mais um, é um dos grandes lançamentos do ano.

O filme é baseado na biografia do matemático britânico Alan Turing (Benedict Cumberbatch). Durante a Segunda Guerra Mundial, ele se candidata a ajudar o serviço de inteligência da Inglaterra a decifrar o código indecifrável de mensagens dos nazistas: o Enigma. A máquina alemã transmitia mensagens criptografadas em uma época em que ainda não existiam os computadores.

Turing era um gênio no que fazia. Por outro lado, era um completo antissocial. Tinha dificuldades em se relacionar com outras pessoas e de conviver com sua homossexualidade reprimida, já que, na época, esse comportamento era considerado crime na Inglaterra.

Atuação notável

Benedict Cumberbatch interpreta Alan Turing de uma forma que impressiona e merece todos os elogios. Ele coloca a carga dramática na medida certa em cada cena. Em outros momentos, sua atuação é irritante de tão realista. Frases grosseiras e expressões frias o transformam em uma pessoa realmente problemática. Por vezes, lembra Russell Crowe em “Uma Mente Brilhante” (2002).



Montagem

A edição é outro ponto alto de “O Jogo da Imitação”. O filme intercala passado e presente com cenas reais da Segunda Guerra. Algumas partes mostram a adolescência de Alan Turing, nos tempos de escola, quando já se mostrava uma pessoa nada popular. Ele contava apenas com a amizade de um colega de classe enquanto todos os outros o submetiam a humilhações.

A linha principal do filme mostra o trabalho de pesquisa e as inúmeras tentativas de decifrar as mensagens nazistas. A fase conclusiva, pós-guerra, é sobre a investigação da polícia inglesa em relação à homossexualidade de Turing. A forma como essas fases são intercaladas, ao som da música de Alexandre Desplat, dão um ar dramático bem dosado à obra.

Keira Knightley interpreta Joan Clarke, uma colega de trabalho de Turing. Ela é mais que uma coadjuvante. É uma personagem que sustenta a bela atuação de Cumberbatch. Matthew Goode também chama a atenção como Hugh Alexander, membro da equipe que tenta decifrar o Enigma. E Mark Strong atua bem como o agente secreto Stewart Menzies.

Como acontece em quase todas as histórias heroicas do cinema, os diálogos são preenchidos por frases feitas e sermões motivacionais. Não são muitos, mas são desnecessários. Um ponto a menos que não tira a grandeza do filme, nem mesmo depõe contra o brilhantismo da interpretação de Cumberbatch.

Ficha técnica:
Direção: Morten Tyldum
Produção: Black Bear Pictures / Bristol Automotive
Distribuição: Diamond Films Brasil
Duração: 1h55
Gênero: Biografia, Drama, Guerra
País: EUA, Reino Unido
Classificação: 12 anos
Nota: 4,0 (0 a 5)

Tags: O Jogo da Imitação; Benedict Cumberbatch; Keira Knightley; Alan Turing; Enigma; Segunda Guerra Mundial; Diamond Films; biografia; drama; Cinema no Escurinho