14 fevereiro 2015

Cinquenta tons de clichês e uma sucessão de equívocos e boas intenções


 "Cinquenta Tons de Cinza" um filme xarope e careta com atuação limitada dos dois jovens atores (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Uma estudante de literatura pobre, virgem, inocente e, claro, romântica, se encanta por um jovem bonito e bilionário disposto a lhe proporcionar gentilezas, surpresas e presentes e a lhe impressionar pilotando perigosamente helicópteros e aviões. Só que, para tristeza dessa Cinderela, ele, o príncipe, é do tipo sadomasoquista, que só gosta de transar usando chicotes, algemas, vendas e toda a parafernália do gênero. 

Até que "Cinquenta Tons de Cinza" ("Fifty Shades of Grey"), baseado no best seller de E. L. James poderia ser um bom filme, se a gente pensar que a história é, digamos, inusitada. Mas não foi isso que quis a diretora Sam Taylor-Johnson. E sua intenção fica clara desde o início, que parece preparar o espectador para a sequência de clichês que estão por vir. 

A partir do momento em que Anastasia Steele (Dakota Johnson) conhece Christian Grey (Jamie Dornan), tudo é previsível, muito pela atuação sofrível dos dois jovens atores. 

Mais do que ela, Dornan é limitado. Não passa nada de virilidade, é zero em sensualidade e seu porte e gestos estão mais para seminarista do que para dominador numa relação sadomasoquista. 

Para completar, a direção decidiu enfeitar a história com pequenas doses de psicologia de almanaque, talvez numa tentativa de justificar o comportamento do mauricinho. Como se as opções e necessidades individuais da busca do prazer precisassem de motivo, de perdão. 

Uma lástima e um desserviço contra a diversidade e as idiossincrasias. Quem espera algum conflito entre a mocinha e o "tarado" também vai sair decepcionado do cinema. Não há. 

Quem leu o livro costuma classificá-lo como "pornô para mulheres". Nem isso o filme traz. As cenas de sexo são tão coreografadas e tão minuciosamente limpas que a ideia clássica de dominação e submissão desses casos se perde. É tudo muito clean, inclusive a chamada "sala de jogos", onde, supõe-se, o rapazinho rico abate suas presas. É sadomasoquismo papai-mamãe. Classificação: 16 anos




Tags: Cinquenta Tons de Cinza; erótico; romance; clichês; Sam Taylor-Johnson; Universal Pictures; Cinema no Escurinho

"Cássia Eller" desnuda particularidades da vida e da carreira da cantora de poucas palavras e muita atitude

O filme "Cássia Eller" é uma homenagem à cantora, ao mesmo tempo tímida e transgressora (Fotos: H20 Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Documentários sobre personalidades e cinebiografias são sempre perigosos. Na maioria das vezes, tendem a ser chapa branca, exaltando qualidades e minimizando problemas e excentricidades dos biografados. Pois esse não é o caso de "Cássia Eller", onde Paulo Henrique Fontenelle foi além da homenagem à cantora, ao mesmo tempo tímida e transgressora, que morreu prematuramente em 2001 de uma maneira que, a princípio, parecia nebulosa. Prato cheio para a imprensa ávida por capas escandalosas.



Fontenelle tem experiência. É dele o elogiado "Loki", sobre Arnaldo Batista, que revelou curiosidades, segredos e idiossincrasias impensáveis do ex-mutante. E, quando muitos imaginavam que não havia nada de novo sobre Cássia Eller, ele vem mostrar que sim, que a cantora era dona de uma timidez quase doentia e que o furacão em que ela se transformava no palco não passava de arma, de defesa. 

A música era seu jeito de se relacionar com o outro. Imagens inéditas do inicinho da carreira e depoimentos de figuras impensáveis como Oswaldo Montenegro revelam particularidades que fizeram - e fazem - a força da artista.

Fans e admiradores vão, certamente, se emocionar com apresentações históricas de Cássia Eller e rever suas entrevistas lacônicas, quase enigmáticas. E os apenas curiosos vão se deliciar com depoimentos preciosos de Nando Reis, Lan lan, Zélia Duncan e até uma engraçadíssima e debochada Ângela Rô Rô falando sobre a canção "Malandragem". 

A companheira de Cássia, Maria Eugênia, os músicos que acompanhavam a cantora e empresários do show business não se negaram a falar. E não escondem assuntos como drogas, indisciplina, traições e a concepção e o nascimento de Chicão, filho de Cássia que comparece discretamente no filme. Classificação: 12 anos

Tags: Cássia Eller; H2O Film; cantora; biografia; Cinema no Escurinho