08 março 2015

Diretor se perde em enredo e faz de "Renascida do Inferno" um terror fraco e confuso

Zoe é a cientista que morre durante o experimento e é ressuscitada pelos colegas de laboratório (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Começou bem, mas se perdeu entre o terror e a ficção de quinta. Acho que essa é a melhor definição para "Renascida do Inferno" ("The Lazarus Effect"), em exibição em 14 salas de shoppings de BH, Contagem e Betim. O enredo do filme é interessante até certo ponto: um grupo de cientistas, fazendo pesquisa sobre o cérebro humano num pequeno laboratório de faculdade, desenvolve uma fórmula capaz de reanimar animais. Uma estudante é contratada para filmar todas as etapas.

Um acidente durante o experimento provoca a morte de uma das pesquisadoras - Zoe (Olivia Wilde). Frank (Mark Duplass), chefe do grupo e namorado da cientista, resolve aplicar a técnica na colega para reanimá-la. Ele e seus colegas só não contavam que o que voltaria do mundo dos mortos colocaria em risco a vida de todos dentro e fora do laboratório. 

Inicialmente, Zoe adquire poderes extrassensoriais - pode levitar, ouvir o que os outros falam na sala ao lado, controlar objetos e ler a mente dos colegas. Em seguida, sai pelo laboratório querendo matar tudo mundo que participou de sua reanimação. Não se sabe se ela está possuída ou usando 100% de seu cérebro, como aconteceu com "Lucy". O diretor David Gelb transforma "Renascida do Inferno" em um samba do crioulo doido.

Você até espera que entidades do além vão participar da história após a ressuscitação. Mas o que se vê é um terror de poucos sustos (só dei dois pulos na cadeira), com cenas bem previsíveis e um final fraco e confuso.

Vale no máximo como uma sessão da tarde de nível médio ou como opção para quem estiver sem nada melhor para ver, o que está difícil, pois há muitos filmes bons nos cinemas. E para piorar, o trailer oficial conta praticamente toda a história. Veja abaixo:





Ficha técnica:
Direção: David Gelb
Produção: Lionsgate/ Blumhouse Productions / Mosaic Media
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h23
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: Renascida do Inferno; Olivia Wilde, terror; Lionsgate; Paris Filmes; Cinema no Escurinho

07 março 2015

"Dois dias, uma noite" - Individualidade versus solidariedade

Marion Cotillard é uma operária que precisa convencer seus colegas de trabalho a abrirem mão de um bônus para mantê-la no emprego (Fotos Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Dirigido pelos irmãos belgas Jean Pierre e Luc Dardenne, "Dois dias, uma noite" ("Deux jours, une nuit") é o exemplo concreto de como uma ideia e um roteiro simples podem se transformar num grande filme. Sandra (Marion Cotillard ) é operária numa fábrica em alguma cidade da Bélgica e, depois de uma licença médica, corre o risco de perder seu emprego. Na sua ausência, seus colegas votaram pela sua demissão para, em troca, ganhar um bônus de 1000 Euros mensais. Coisas de capitalismo selvagem.

Encorajada pelo marido Manu (Fabrizio Rongione), ela tem apenas um fim de semana para reverter essa situação e tentar convencer seus colegas a, numa segunda votação, abrir mão da bonificação para que ela permaneça no trabalho. A partir daí, Sandra empreende uma via crucis, batendo de porta em porta como uma pedinte, repetindo o mesmo discurso em busca do apoio dos colegas.


O velho conflito entre a individualidade e a solidariedade é, claro, a grande temática do filme, que ganha contornos intimistas com a excelente atuação de Marion Cotillard como a operária deprimida, insegura e frágil. De cara limpa, essa fantástica atriz que já encantou o mundo com sua "Piaf", envolve facilmente o espectador na sua luta desconfortável de quase mendiga, em meio a recaídas na doença e tentativas de derrotar a própria descrença. Sem jogos, sem charme. Apenas a calça jeans, a camiseta. O corpo magro e o rosto se encarregam das expressões reveladoras.

O que faz a diferença em "Dois dias, uma noite" é que não há nenhum julgamento dos personagens. Os que dizem não ao apelo de Sandra expõem seus motivos claramente e o público se vê no dilema de também tentar compreender suas razões. Afinal, numa Europa em crise, quem pode abrir mão de um bônus de 1000 Euros mensais em nome da solidariedade?

Outro destaque da história que envolve e enternece é que a cada discurso de Sandra em favor de sua permanência vislumbra-se a possibilidade de alguma mudança. Concordando ou não em votar a favor dela, seus colegas veem suas vidas sendo transformadas por aquele drama que parecia particular. Classificação: 12 anos


Tags: Dois Dias, Uma Noite; Marion Cotillard; Imovision; Individualidade; solidariedade; questão universal; Bélgica; drama; Cinema no Escurinho