27 março 2015

A sensibilidade por trás da lente de Sebastião Salgado

Sebastião Salgado apresenta seu trabalho fotográfico de 40 anos ao longo do documnetário (Fotos: Imovision/Divulgação)

Maristela Bretas


A ideia de contar a história de um dos mais renomados fotógrafos do mundo sob outro ângulo não poderia resultar em nada mais que um ótimo documentário. Merecedor de uma indicação ao Oscar, como foi. E é esta produção que estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH. "O Sal da Terra" ("The Salt of the Earth") conta um pouco da longa trajetória do brasileiro Sebastião Salgado e apresenta seus principais projetos fotográficos ao longo de 40 anos, até chegar ao mais recente - "Gênesis" - uma expedição que registrou civilizações e regiões do planeta pouco exploradas.

A produção começa em um de seus principais trabalhos fotográficos - Serra Pelada - para depois retornar a sua infância em Aimorés, no interior de Minas. Durante a faculdade de Economia no Espírito Santo, feita por exigência do pai que queria um filho formado, conheceu Lélia, sua mulher, companheira e parceira na divulgação dos trabalhos até hoje.


Com a Ditadura Militar, deixou o Brasil com a família e foi morar na França, país onde Salgado se encantou pela fotografia e fez dela seu trabalho e paixão, percorrendo os cantos mais remotos do planeta. O filho Juliano Ribeiro Salgado passava pouco tempo com o pai, mas já adulto, se uniu a ele para registrar as imagens de suas viagens.

E foram estas imagens e o trabalho de Sebastião Salgado que encantaram o não menos famoso cineasta Win Wenders ("Paris, Texas") que reuniu sua equipe e se juntou à família para filmar "O Sal da Terra". Da compra da primeira câmera para a esposa, que acabou ficando para ele e mudando sua vida a primeira foto tirada, Salgado, vai contanto com registros marcantes, em preto e branco, sua experiência como fotógrafo social.

São depoimentos em vídeo de familiares, inclusive do pai, da  equipe de filmagem e de personagens de diversos locais e etnias, mesclados com fotos de Salgado (algumas também do filho Juliano) que expõem tanto a beleza quanto a crueldade do ser humano, não importando o lugar do planeta. O fotógrafo deixa claro sua preocupação em expor a situação de miséria e conflitos de alguns locais na África, como Ruanda e Etiópia.

Natureza

A preocupação em dar sua contribuição ao meio ambiente o levou a "replantar" a fazenda onde viveu a infância com a família e transformá-la no que é hoje o Instituto da Terra, um modelo de trabalho ambiental reconhecido mundialmente. 


Além disso, Salgado mudou um pouco seu foco trabalho e resolveu mostrar que existem lugares e povos no Planeta ainda inexplorados (e assim deveriam ficar), dando origem ao projeto "Gênesis", como no início dos tempos.

"O Sal da Terra" é um belo documentário biográfico, principalmente pelas imagens capturadas por Salgado, mesmo as mais chocantes, e merece ser visto não só pela fotografia, mas pela forma como ele usa a lente de sua câmera para expor a dura realidade social. O filme pode ser conferido nas salas 3, do Ponteio Lar Shopping (14h10 e 18h40), e 10, do BH Shopping (17 horas e 22h20).




Ficha técnica:
Direção: Win Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
Distribuição: Imovision
Duração: 1h50
Gêneros: Documentário/ Biografia
Países: Brasil/ França
Classificação: 12 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

Tags: O Sal da Terra; Sebastião Salgado; Win Wenders; documentário; biografia; Imovision; Cinema no Escurinho

25 março 2015

“O Amor é Estranho” é um drama sobre união homoafetiva, família, igreja e preconceito

George e Ben, após viverem 40 anos juntos, terão de morar em casas separadas devido à crise (Fotos Pandora Films/Divulgação)

Jean Piter


Ben (John Lithgow) e George (Alfred Molina) decidem se casar, depois de estarem juntos há 40 anos. A cerimônia é simples e singela, com a presença de amigos e familiares. Um dia muito feliz. Realização. O dia seguinte é de crise. George perde o emprego de professor de música que tinha na igreja. Sem dinheiro para manter as despesas, o casal vai morar em casas separadas de amigos até conseguir vender o apartamento e comprar um novo imóvel mais barato. 

Amor e outros conflitos

É difícil imaginar uma situação assim. Dividir a casa com uma pessoa por quatro décadas e, de uma hora pra outra, ter que se separar por dificuldades financeiras. O amor continua o mesmo; carinho, cuidado, amizade, afinidade... Esse é o maior drama do filme, contado de forma linear e com um ar bastante melancólico.

Embora ainda seja polêmica a união de pessoas do mesmo sexo, esse não é o único tema abordado na história. As dificuldades financeiras apontam para a fragilidade do modo de vida americano. Onde as pessoas gastam tudo ganham para manter um bom padrão de vida. Sem direitos trabalhistas, como no Brasil, a vida fica bastante complicada quando se perde o emprego. Coisas do capitalismo de países liberais. 

Há também uma crítica à igreja, que, assim como o povo de Minas Gerais, permite tudo, menos um escândalo. Todo mundo sempre soube que George era gay e que morava com outro homem. Mas, ao se casar e tornar isso público, ele se torna indigno de trabalhar em uma instituição religiosa tradicional. Nessa hora, deixar os alunos que viu crescer é como ver os filhos serem tomados à força. 

Sobram críticas também para a família e para os amigos. Há os que estão dispostos a ajudar de bom coração e os que viram as costas nos momentos de dificuldade. Mesmo os que estendem a mão, por vezes são insensíveis. Principalmente os mais jovens. O que não chega a ser incompreensível. É difícil morar de favor e não ter privacidade. Ao mesmo tempo, é incômodo mudar a rotina da casa por conta de um hospede. 

Vale o ingresso

Não há beijos calorosos dos protagonistas, nem cenas sexo. A história se concentra na cumplicidade e na falta que faz a pessoa amada, quando está distante. É um filme sobre preconceito e aprendizado. Emociona sem forçar a barra. E ainda tem Marisa Tomei, bonita como sempre e atuando com primor. O amor é mesmo estranho, mas, em meio a tantos pequenos conflitos nossos de cada dia, a gente nem se dá conta disso.




Ficha técnica:
Direção: Ira Sachs
Produção: Parts and Labor / Charlie Guidance
Distribuição: Pandora Filmes 
Duração: 1h35
Gênero: Drama
Países: EUA, França
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: O Amor é Estranho; John Lithgow, Alfred Molina, Marisa Tomei; Pandora Filmes; drama; Cinema no Escurinho