29 março 2015

"Meus Dois Amores", uma fábula entre o riso e o pensar

Manuel é um vaqueiro mineirinho falastrão que ama igualmente sua noiva Das Dô e sua mula Beija-Fulô (Fotos: Downtown Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Houve quem o comparasse com "Lisbela e o Prisioneiro" e até com "O Auto da Compadecida", mas talvez seja um exagero. Também baseado em livros como os antecessores, "Meus Dois Amores" retrata, como os demais, a singeleza do regionalismo, com seus coronéis poderosos, padres interesseiros, falsas beatas rezadeiras, pistoleiros, sargentos, feiticeiros e todo o repertório de tipos que costumam habitar o que chamam de Brasil profundo.

Adaptado de um conto de Guimarães Rosa - "Corpo Fechado" - o filme pode ser visto e apreciado por quem conhece pouco ou nada de literatura. Esse espectador vai dar muitas risadas com a história do vaqueiro Manuel, mineirinho esperto e falastrão que ama igualmente sua noiva Das Dô e sua mula Beija-Fulô. E que se vê jurado de morte pelo matador Targino depois de ter lhe vendido, malandramente, um cavalo manco e imprestável. Quase um filme de Mazzaropi.



Mas como o argumento, o mote e as ideias são de Guimarães Rosa, torna-se impossível, para quem conhece o autor, assistir ao filme sem reconhecer seu sotaque, sua linguagem. Estão lá, além dos arquétipos e recados do escritor, a dubiedade do humano em seus eternos embates e dilemas entre o bem e o mal, realidade e fantasia, Deus e o Demo. A começar por Manuel, às vezes Peixoto, às vezes Veiga, algumas vezes valente como o pai, noutras sensível como a mãe, sempre balançando entre o heroísmo e a covardia.

Elenco e figurinos contribuem para valorizar o filme. Além de Caio Blat e Maria Flor, que estão impagáveis como Manuel (Peixoto/Veiga) e Das Dô, Alexandre Borges está excelente como o matador Targino, Júlio Adrião brilha como o feiticeiro Toniquinho das Pedras, e Lima Duarte e Vera Holtz dão seus recados como o pai e a mãe de Manuel.

Também convincentes estão Milton Gonçalves, Fabiana Karla, Ana Lúcia Torres e os outros, todos devidamente mal vestidos e mal penteados como convém aos que vivem na roça. 
Ao contrário do que acontece em muitos filmes brasileiros, os responsáveis pela caracterização não se esqueceram de amarelar e estragar os dentes dos personagens, o que assegura mais veracidade às atuações. 

Mesmo que seja exagero compará-lo a duas pequenas obras-primas como são "Lisbela e o Prisioneiro" e "O Auto da Compadecida", "Meus Dois Amores" não deixa a desejar. Visto como mais uma simples comédia caipira ou como uma reflexão da obra do grande Guimarães Rosa, o filme emociona, faz rir e pensar. 

Belas paisagens e a prosódia perfeita dos atores ajudam a enriquecer essa típica fábula brasileira. Na trilha sonora, destaque para a bonita gravação de Lenine cantando a mineiríssima "Fé cega, faca amolada". "Meus Dois Amores está em exibição nas salas Cineart dos shoppings Cidade, Contagem, Del Rey e Via Shopping. Classificação: 14 anos

Tags: Meus Dois Amores; Caio Blat; Maria Flor; Luiz Henrique Rios; Guimarães Rosa; Downtown Filmes; comédia; Cinema no Escurinho

28 março 2015

"Cinderela" - A magia de um belo conto de fadas

Lily James interpreta a bela jovem que perde seu sapatinho de cristal e conquista o coração de um príncipe (Fotos: Walt Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


A Disney volta a mostrar o porquê de ser única quando se trata de fazer um filme perfeito de fantasia. "Cinderela" ("Cinderella") é bonito, cativante e faz a gente se sentir num verdadeiro conto de fadas. Como no desenho criado pela produtora em 1950. Desta vez, o live-action inspirado no clássico conto de fadas escrito por Charles Perrault em 1697, exibe belas imagens e um elenco que deu vida e graça aos famosos personagens.

Depois de perder a mãe e ter sua vida perfeita abalada, Ella vê o pai se casar com uma cruel mulher. A madrasta Lady Tremaine vem morar em sua casa com as duas filhas - Anastasia e Drisella -, que a tratam mal quando o pai não está perto. Tempos depois, o pai de Ella morre, a família fica sem dinheiro e o trio da crueldade faz de Cinderella sua serva.


Um dia, a jovem encontra na floresta o jovem e belo Kit e é amor à primeira vista, sem que um saiba a origem do outro. Um baile promovido pela família real pode ser a chance dela reencontrar seu amado. Mas Cinderella é impedida pela madrasta de ir à festa. Com a ajuda de sua fada madrinha ela chega arrasando num belo vestido azul e carruagem de ouro. E conquista de vez o jovem príncipe. No bater da meia-noite, ela foge do baile antes que o feitiço acabe e deixa para trás um sapatinho de cristal. Kit agora terá de percorrer o reino para reencontrar sua donzela.

Mais uma vez, uma grande estrela, vencedora de Oscar, brilha como a nova vilã dos contos de fada. Cate Blanchett ("O Aviador") está perfeita como a malvada madrasta Lady Tremaine, que faz da vida de Cinderela um inferno, juntamente com as filhas. Ela exibe elegância, soberba, bom gosto e crueldade na medida certa da personagem.

Lily James (da série de TV "Downton Abbey") foi uma ótima escolha para o papel da doce e jovem sonhadora Ella, que durante sua convivência com as irmãs postiças passa a ser chamada por elas de "Borralheira" e "Cinderella". O príncipe também saiu de uma série de TV de sucesso - "Game of Thrones". Richard Madden dá conta do recado e encanta por seu jeito doce e apaixonado.

Num elenco, que tem nas mulheres seus maiores destaques, Helena Bonham-Carter ("Alice no País das Maravilhas"), não deixa por menos como a espalhafatosa fada madrinha de Cinderela. Pena que sua aparição tenha sido rápida - mas essencial. Holliday Grainger e Sophie McShera fazem bem Anastasia e Drizella, as irmãs postiças de Cinderela.

O grupo também conta com Stellan Skarsgård ("Thor"), Nonso Anozie ("Game of Thrones") e Derek Jacobi ("Grace de Mônaco") que interpretam o Grão Duque, o fiel amigo do Príncipe e o Rei, respectivamente.

"Cinderela" arrasa no figurino, fotografia e cenários - as filmagens foram feitas na Inglaterra. Isso sem falar na trilha sonora - a música é a mesma que embalou os sonhos de muita meninas que assistiram o desenho. O diretor Kenneth Branagh ("Thor" e "Operação Sombra - Jack Ryan"), a partir de um roteiro de Chris Weitz, acerta na condução desta obra prima ao dar vida a um conto de fadas com seus palácios, riquezas, tramas e, principalmente, fantasia. Ele consegue trazer de volta a magia, a ingenuidade e o encantamento das histórias infantis eternizadas nos desenhos da Disney. Imperdível!


Na abertura, "Frozen: Febre Congelante"

Não chegue atrasado à sessão. Na abertura, que não pode ser perdida, o curta "Frozen: Febre Congelante", uma aposta da Disney até que a segunda animação da franquia chegue às telas. "Frozen - Uma Aventura Congelante" conquistou dois Oscar neste ano - Melhor longa de animação e Melhor canção original com “Let It Go”, além de um Globo de Ouro como Melhor longa-metragem de animação. 

O filme atingiu o quinto maior faturamento de todos os tempos e o maior faturamento bruto de um longa de animação, totalizando mais de U$ 1,27 bilhão em todo o mundo. Aproveitando o curta-metragem, alguns cinemas de BH estão exibindo novamente "Frozen - Uma Aventura Congelante" - salas Cinemark dos shoppings BH, Diamond Mall, Pátio Savassi e Metropolitan Betim.



No curta "Frozen: Febre Congelante", Elsa, Kristoff e o boneco de neve Olaf estão na correria para aprontar tudo para o aniversário de Anna. E eles querem dar a ela a melhor comemoração de todas. Só não contavam com a gripe de Elsa, que pode atrapalhar toda a festa (ou deixá-la mais divertida). Fábio Porchat foi escalado novamente para dublar a voz de Olaf. A animação é dirigida por Chris Buck e Jennifer Lee, com uma canção original inédita de Robert Lopez e Kristen Anderson-Lopez.


Ficha técnica de Cinderela:
Direção: Kenneth Branagh
Produção: Walt Disney Studios
Distribuição: Disney/Buena Vista
Duração: 1h44
Gêneros: Romance/Fantasia
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4,5 (0 a 5)

Tags: Cinderela; Lily James; Richard Madden; Cate Blanchett; Kenneth Branagh; Walt Disney Studios; fantasia; romance; Cinema no Escurinho