23 junho 2015

Kurt Cobain renasce em "Montage of Heck"


Foi Kurt Cobain e a banda Nirvana quem revolucionou um mercado do rock que estava estagnado (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Wallace Graciano


Sempre tive uma certa curiosidade em entender a relação de uma pessoa e seu ídolo, tanto que fiz do assunto o tema do meu TCC da pós-graduação. É bacana ver alguém distante pode ter tanto impacto na vida de um fã. Ainda mais interessante quando esse ícone muda uma ideologia ou comportamento, seja ele uma divindade, personalidade ou jogador de futebol. Há quem também tenha um grupo musical como marcante. E quando se trata de bandas, vejo o Nirvana como o caso mais extremo de idolatria.

Não há apenas um aspecto de admiração pelo trabalho. Os fãs de Nirvana têm um tratamento que beira ao dado às divindades. Por mais estranho e controverso que pareça, via que as letras niilistas (e sarcásticas também) do Kurt Cobain, líder da banda, guiavam o comportamento deles. O mais curioso é que essas músicas afetam as gerações que conviveram com a banda e as que nem sequer eram nascidas no auge do movimento grunge.

Falo isso porque já tive 14 anos. E ser adolescente e gostar de rock no meu tempo implicava necessariamente em ter alguma frase do Cobain rabiscada no all star preto. À época, servia para dramatizar a relação com um mundo controverso que descobríamos a cada dia. E olha que o Nirvana era coisa do passado naquele período. 

O tempo passou e essa percepção do que e quem está ao redor foi se expandindo. E ela me fez abandonar essa idolatria ao Kurt. Na verdade, ela se tornou uma "idolatria infiel", se assim posso dizer. A medida que lia sobre ele, não conseguia mais compreender como sua figura (não o músico) era inspiradora, principalmente por ser extremamente autodestrutivo e ser afetado por aqueles que o transmitiam empatia. Beirava como uma contradição ao meio que ele sonhou estar.

Porém, bastou assistir o documentário "Kurt Cobain: Montage of Heck", no último sábado, para renascer um pouco daquele sentimento da adolescência. Durante as mais de duas horas que a película passava na telona, vi o quão importante Kurt foi para a música. 



Foi ele quem revolucionou um mercado do rock que estava estagnado. Em cinco anos entre o lançamento do Bleach e sua morte, Kurt foi voz de uma geração, trouxe uma nova ideologia e mudou uma tendência em um período que só se tem espaço para "mais do mesmo". O mais curioso, que vi durante o filme, é que ele fazia isso em uma luta intensa com o estrelato repentino. O que dá uma sensação ainda maior de autenticidade à mensagem que ele passava.

Esse impacto nenhum outro artista conseguiu causar nessas duas últimas décadas. Não à-toa, Cobain se tornou um dos imortais da música. Daqueles que sempre terão sua obra relembrada.

E ela foi muito bem trabalhada nesse documentário. Não sei se vocês são fãs do Nirvana. Podem achar a banda uma porcaria e entenderia perfeitamente essa visão. Porém, mesmo que pensem assim, mas gostem do mundo dos grandes astros do rock, sugiro que assistam o "Montage of Heck". É daqueles filmes que te não te deixam pensar, pois é uma carga pesada de informações a cada nova passagem. No fim, te arrebata quando você tenta assimilar.

Ficha técnica:
Direção: Bret Morgen
Produção: HBO Documentary Films / Public Road Productions
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h25
Gênero: Documentário
País: EUA
Classificação: 14 anos

Tags: "Kurt Cobain: Montage of Heck"; Kurt_Cobain; Nirvana; rock; documentário;

"O Homem Que Elas Amavam Demais" vale mais pela bela presença de Catherine Deneuve

Filme aborda o rumoroso caso de desaparecimento de uma jovem na década de 70 (Fotos: Europa Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


De cara, pelo título, o espectador desavisado pode pensar que se trata de um romance. Não é bem assim. Pelo menos da forma como convencionalmente se conhece um romance. Paixão há, e ardente, mas a maneira como é mostrada não chega a contagiar. Na verdade, "O Homem Que Elas Amavam Demais" começa como uma produção leve, passa pela área de intriga e negócios, ameaça - sem convencer - esbarrar no suspense e acaba como um filme de tribunal baseado em fatos reais.

Talvez por um problema de roteiro, a película dirigida por André Téchiné fica no meio do caminho ao tentar contar um rumoroso caso que aconteceu efetivamente na Riviera Francesa nos anos 70, no auge dos cassinos. Renée Le Roux (Catherine Deneuve) é dona de uma casa de jogos de luxo que vai mal das finanças e é assessorada nos negócios por seu braço direito, o advogado Maurice Agnelet (Guillaume Canet). O filme começa com a chegada à França da filha de Renée, Agnes (Adèle Haenel), recém-divorciada que, claro, se envolve com o advogado.

Até onde dá para entender, o filme tenta insinuar que Maurice Agnelet é inescrupuloso e sedutor. Mas nada disso fica muito claro, talvez por se tratar de uma história verídica. O Maurice de Guillaume Canet não tem nada de sedutor, embora seja mostrado como mulherengo que, quase de repente, enlouquece de paixão a jovem Agnes.

A esta altura da trama, o espectador começa a ter dúvidas sobre a personalidade do advogado, mas a atuação de Canet é discreta além da conta. Nem mesmo quando Agnes trai a própria mãe nos negócios orquestrada por ele, nem quando tenta o suicídio e, por fim, quando desaparece sem deixar vestígios, nem mesmo assim o filme esquenta.

Ignorantes - e/ou distantes - do caso verídico acontecido há décadas na França, a maioria dos espectadores brasileiros dificilmente vai se envolver. Restam o prazer de rever Catherine Deneuve, que se mantém linda e elegante, e a oportunidade de tomar conhecimento que, nos anos de 1970, houve sim uma guerra de cassinos no Sul da França com direito à participação de mafiosos italianos e do sumiço de uma jovem cujo caso se arrasta até hoje nos tribunais.

O título do filme em francês é "L'Homme qu'on aimait trop", que em tradução literal, significa "O homem que se amava". Talvez fosse esse o melhor nome.



Tags: "O Homem Que Elas Amavam Demais"; Catherine_Deneuve; Guillaume_Canet; Adèle_Haenel; Europa_Filmes; drama; romance; suspense; década_de_70; Cinema_no_Escurinho