23 janeiro 2016

"Boi Neon" questiona papéis masculinos e femininos num cenário hostil do Nordeste

Juliano Cazarré, é um ajudante de vaqueiro que intercala cenas de força e macheza com sutilezas (Fotos: Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Uma mulher que dirige caminhão e se enfia debaixo dele para consertá-lo como qualquer mecânico; um vaqueiro que costura e sonha ser estilista, e outro que faz questão da chapinha para alisar os longos e negros cabelos. Não é fácil fazer uma sinopse de "Boi Neon", já que o filme carece de uma trama. Não há conflitos, armações, heroísmos, desencontros nem suspenses. O que o espectador vê é simplesmente um recorte na vida dessa caravana que percorre o Nordeste promovendo vaquejadas.

Para quem não sabe, a vaquejada é uma espécie de esporte muito comum no sertão. Dois cavaleiros montados acuam um boi numa arena e um deles lhe torce o rabo até que o animal caia entregue no chão. O personagem principal, Iremar, nem chega a ser um vaqueiro. Na verdade, ele não passa de um ajudante, cuja tarefa principal é preparar o rabo do boi antes de soltá-lo para o embate. Interpretado com muita entrega por Juliano Cazarré, o personagem intercala cenas de força e macheza com sutilezas. Quando não está cuidando dos bichos, está desenhando e costurando roupas femininas.

A grande riqueza de "Boi Neon" é o impacto da questão de gênero. Nada está no lugar onde deveria estar e isso causa um certo desassossego. E como não há exatamente uma história sendo contada, o trabalho perfeito dos atores preenche essa lacuna prendendo o espectador do início ao fim. Além de Cazarré, estão muito bem também Maeve Jinkings (no papel de Galega, que dirige o caminhão), Samya De Lavor (que tem participação pequena mas marcante como a revendedora de cosméticos Geise), o sumido Vinicius de Oliveira, que fez o garoto de "Central do Brasil" (como o vaqueiro Júnior que cuida das madeixas), e até a menina Alyne Santana (que faz Cacá, pré-adolescente filha da Galega). 

Enfim, trata-se de um longa, no mínimo, instigante, e o diretor e roteirista Gabriel Mascaro parece ter atingido seu objetivo nesse sentido. Um senão: a cena em que Iremar manipula os genitais de um cavalo para colher seu sêmen parece desnecessária. Serve apenas para gerar polêmica, assim como a longa transa entre o protagonista e uma mulher grávida. 




Com duração de 1h41 e classificação de 16 anos, o drama "Boi Neon", uma produção que envolveu três países - Brasil, Holanda e Uruguai - pode ser assistido no Cine 104 (sessões das 17 horas e 20h40) e sala 3 do Belas Artes (sessão de 14 horas).

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21 janeiro 2016

História fraca de "Joy - O Nome do Sucesso" garante indicação a Jennifer Lawrence

Em "Joy", uma pequena empresária visionária quer crescer na vida com suas invenções (Fotos: FoxFilms do Brasil/Divulgação)

Maristela Bretas


Sei que muitos vão me xingar por esta crítica, mas realmente não acho que Jennifer Lawrence merecia o Globo de Ouro 2016 como Melhor Atriz. A indicação tudo bem, mas a concorrência com outras colegas de profissão em filmes bem melhores deveria colocá-la no final da fila por seu papel em "Joy - O Nome do Sucesso", que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

Baseada em fatos reais, como muitas das produções que estão no cinema, o filme conta a história da empreendedora Joy Mangano, que sempre foi muito inteligente desde criança e vivia inventando as coisas. Com uma infância difícil, uma mãe viciada em telenovelas, uma meia irmã por parte de pai (Robert De Niro) que não morre de amores por ela, Joy leva uma vidinha medíocre de mulher divorciada, criando dois filhos e sustentando a família toda, inclusive o ex-marido músico.

Até que um dia, uma de suas criações desperta o interesse do executivo de um canal de TV de venda de produtos (Bradley Cooper) e ela descobre que é preciso mais do que ser uma grande inventora para brigar com os grandes. Sua batalha para alcançar o sucesso fez com que se tornasse uma das maiores empreendedoras dos EUA.

Robert De Niro está desperdiçado - seu papel em "Um Senhor Estagiário" é infinitamente melhor. Assim como Bradley Cooper, que chegou a ser indicado como Melhor Ator por "Sniper Americano" e fez um papel até interessante de um chef de cozinha em "Pegando Fogo", faz uma aparição fraca em "Joy". O belo ator dos olhos azuis parece ter sido colocado lá só para atrair público (que pode ficar desapontado). 

O elenco conta ainda com outros nomes de peso, como Diane Ladd (a avó de Joy e sua maior incentivadora), Virgínia Madsen (muito bem no papel da mãe de Joy), Isabella Rossellini (como Trudy, a nova namorada do pai) e Edgar Ramírez (o ex-marido Tony).

A história é interessante, mas nada excepcional. Pelo contrário, até fraca, serviria para ser usada em curso motivacional, daqueles que incentivam o funcionário a querer crescer na empresa ou uma pessoa comum a iniciar um negócio próprio. Com uma mensagem do tipo "Seu sucesso só depende de você". O diretor David. O Russell, que trabalhou com Lawrence, De Niro e Cooper no excelente "Trapaça" (2013), errou a mão e fez de "Joy" um filme para agradar americano.

Os fãs da Jennifer Lawrence podem gostar de ver mais esta atuação da candidata ao prêmio de Melhor Atriz no Oscar 2016. Mas por mais que ela tente parecer mais velha, uma exigência do papel, é muito difícil ignorar que tem apenas 25 anos.



Ficha técnica:
Direção: David O. Russell
Produção: 20th Century Fox // Annapurna Pictures
Distribuição: Fox Films do Brasil
Duração: 2h04
Gêneros: Biografia // Drama  
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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