16 junho 2016

"Ponto Zero" é angustiante e sombrio como um pesadelo

Diretor escolhe caminhos não convencionais para falar sobre o rito de passagem de um adolescente (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Salvo engano, a expressão ponto zero significa um tal equilíbrio de energias, algo semelhante a um vazio. Na dramaturgia do diretor gaúcho José Pedro Goulart, "Ponto Zero" pode ser entendido como um rito de iniciação de um menino, algo como a dor do crescimento.

Ênio é um adolescente típico dos seus 14 anos. Não é popular na escola, não tem amigos e se esconde por trás de uma franja que cobre boa parte do rosto. Começa a se interessar por sexo, fala pouco - quase nada - e enfrenta uma grave crise conjugal dos pais. Para completar, seu pai, um radialista de nenhum escrúpulo, trata muito mal a mãe e vive às voltas com amantes e mulheres de programa. E ela, a mãe, usa uma dose de chantagem levando o menino para, na falta do marido, dormir ao lado dela. Ou, às vezes, obrigando o filho a vigiar o pai.


Revoltado, numa noite chuvosa, Ênio pega o carro do pai e sai dirigindo pela cidade em busca não se sabe de que, talvez de si mesmo. A partir daí, são muitos os sustos, agonias e surpresas, misturando realidade e delírio. E é a parte maior do longa, o que o torna ainda mais impactante.

O silencioso e atormentado Ênio é interpretado pelo estreante Sandro Aliprandini, que se sai bem. Estão muito bem ainda os veteranos Eucir de Souza como o pai e Patrícia Selont como a mãe, dos quais o espectador nem sabe os nomes.

Há muitas maneiras de se contar uma história assim e José Pedro Goulart escolheu uma bastante incomum. O filme não é linear, as imagens são desequilibradas, a luz é escura e os ângulos eleitos pela câmara não são nem um pouco convencionais. Resultado: "Ponto Zero" é claustrofóbico e angustiante como um pesadelo que parece não ter fim. 




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15 junho 2016

Com química fraca e pouca emoção, "Como Eu Era Antes de Você" faz chorar pouco

Emilia Clarke e Sam Claflin formam o casal principal do romance adaptado da obra de Jojo Moyes (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Ele tem um sorriso de derreter corações. Ela sorri com os olhos e é capaz de amolecer o mais duro dos corações. O texto foi adaptado de um dos best-seller da escritora água com açúcar Jojo Moyes, que também foi roteirista do filme. Tudo apontava para mais um drama de fazer chorar do início ao fim e sair do cinema com o peito aliviado e apaixonado. Pronto para virar também um sucesso de bilheteria, o que pode até acontecer. Mas alguma coisa se perdeu no caminho.

Ao contrário das produções do gênero do também escritor e roteirista Nicholas Sparks, "Como Eu Era Antes de Você" ("Me Before You") é um romance comum de história fraca, mas que poderia ter ganhado contornos mais emocionantes com um bom roteiro. No entanto, antes mesmo do meio da narrativa já se sabe como vai terminar. E isso tira a graça de quem vai ao cinema para ver uma produção como esta, para fazer chorar mesmo, como diriam minhas amigas de coração mole.

Mesmo assim, o público feminino (adolescente ou não) deve levar um lencinho na bolsa, porque vai ter choro. O casal é fofo - Emilia Clarke (de “Game of Thrones”) e Sam Claflin (da saga “Jogos Vorazes”) -, mas há momentos em que falta química entre eles, apesar de Clarke estar ótima em seu papel e ter presença mais marcante que seu par. 

Talvez a direção não tenha aproveitado devidamente o potencial destes dois atores, explorando melhor o lado "meloso". As cenas precisavam ter sido mais intensas, feitas com o coração. Clarke e Claflin tinham tudo para ficarem marcados como o par romântico do ano. Mas parece que não vai ser desta vez.

O enredo poderia ser mais atraente, até para compensar a adaptação, como faz Sparks com seus livros, que atraem milhares de leitores, que o seguem também nos filmes. Podem ter histórias fracas, mas faturam. Moyes, claro, quer seguir o mesmo caminho de sucesso, mas vai precisar aprender a fazer mudanças. Não li o livro de mesmo nome, mas o filme "Como Eu Era Antes de Você" é fraco, esperava mais, principalmente pela grande divulgação.

O longa-metragem conta a história de Louisa “Lou” Clark (Clarke), uma jovem sonhadora e alegre que mora em uma cidade no interior da Inglaterra. Sua vida vai mudar ao perder o emprego e, precisando ajudar no sustento da família, aceita trabalhar como cuidadora e acompanhante do belo e amargo Will Traynor (Claflin), um banqueiro rico que se tornou tetraplégico após um acidente ocorrido dois anos antes. Ele está prestes a desistir de tudo, mas Lou está determinada a mostrar ao jovem a alegria de se viver. Para ajudar a dar o clima certo, a música-tema do casal é “Not Today”, da banda Imagine Dragons. O filme tem trilha sonora do compositor Craig Armstrong (“O Grande Gatsby”).

Apesar de todos esses pontos negativos, espero que essa primeira tentativa sirva de lição para próximas produções, se acontecerem. Acho que vale a pena conferir "Como Eu Era Antes de Você" nos cinemas. Como uma dessas mulheres de coração mole, também chorei no final. Para os fãs de Moyes, uma boa oportunidade de ver no cinema um de seus livros adaptados. O filme entra em cartaz oficialmente nesta quinta-feira, mas já pode ser visto em várias salas que fizeram pré-estreias no último final de semana.




Ficha técnica:
Direção: Thea Sharrock
Produção: New Line Cinema / Metro Goldwyn Mayer (MGM)
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h50
Gêneros: Drama / Romance
País: Reino Unido
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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