30 outubro 2016

"A Garota no Trem" discute desejos, submissão e a força de três mulheres

Emily Blunt é uma alcoólatra que viu mais do que devia da janela de um trem (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Um enredo muito bem amarrado, que entrelaça a vida de três mulheres até um desfecho não muito surpreendente, mas agrada. Assim é "A Garota no Trem" ("The Girl On The Train"), um ótimo suspense que tem como estrela principal Emily Blunt. O filme é baseado no best-seller homônimo da escritora Paula Hawkins, que atraiu milhares de leitores pelo mundo.

Blunt, que tem cara de sofrida não importando o papel (basta ver "Sicário: Terra de Ninguém" e "No Limite do Amanhã"), não deixa por menos e entrega uma ótima interpretação da divorciada alcoólatra Rachel Watson. Só ela já justifica a ida ao cinema.

Os outros papéis femininos ficaram para Rebecca Ferguson ("Missão Impossível – Nação Secreta"), também muito boa como Anna, a mulher que se casou com o ex de Rachel, e Haley Bennett ("Sete Homens e Um Destino"), como Megan, uma jovem que vive um casamento aparentemente perfeito. E para completar o grupo de superpoderosas, o filme ainda conta com Allison Janney ("Histórias Cruzadas") no papel da detetive Riley.

Se as mulheres se destacam, o mesmo não se pode dizer do time masculino, pelo menos no filme - Justin Theroux ("Dez Mandamentos Muito Loucos!"), que interpreta Tom, ex-marido de Rachel e atual de Anna, é o melhor dos três. Luke Evans ("Drácula – A História Nunca Contada") faz um Scott (marido de Megan), mediano e foi pouco explorado. O mesmo se aplica a Édgar Ramírez ("A Hora Mais Escura") que é um bom ator, mas não convence como o Dr. Kamal Abdic, terapeuta de Megan.

O diretor Tate Taylor não foge da história original e mostra na produção o peso e a complexidade que as mulheres tiveram na obra literária - força, submissão, vulnerabilidades, delírios, e desejos ocultos predominam na trama. Rachel carrega muitas destas características, mas consegue criar o suspense necessário à medida que a trama avança (mesmo nos momentos monótonos) e dar uma reviravolta, passando de uma fraca e dependente da bebida a uma mulher forte, disposta a provar sua inocência.

Na história, Rachel Watson é uma divorciada alcoólatra que vai e volta de Manhattan durante a semana, com o olhar fixo na janela do trem. Todas as manhãs e noites ela revive lembranças do tempo em que viveu com o ex-marido Tom, que agora vive em sua antiga casa com a outra esposa, Anna, e um bebê. Em seu trajeto, ela observa as pessoas que moram à beira da linha férrea, em especial o casal Megan e Luke, vizinhos de onde ela morava com Tom.

Para Rachel, o casal é o modelo do que ela esperava em seu casamento desfeito e observá-los diariamente enquanto passa de trem se torna uma obsessão. Um dia ela vê uma cena na varanda de Megan que a deixa chocada. Logo depois, a jovem desaparece e há suspeitas de que esteja morta. Rachel então conta à delegada Riley o que acredita ter visto, mas não tem certeza, já que está constantemente embriagada. Será que ela realmente viu alguma coisa? Ou poderia estar envolvida num possível crime e não se lembra?

"A Garota no Trem" é um ótimo suspense, que vai encaixando as peças como num quebra-cabeça e prende do início ao fim. A temática chega a lembrar "Garota Exemplar", outra boa produção do gênero. Merece ser conferido.



Ficha técnica:
Direção: Tate Taylor
Produção: DreamWorks Pictures / Reliance Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h53
Gêneros: Suspense /Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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26 outubro 2016

Ben Aflleck passa o tempo sozinho fazendo contas e atirando em pessoas

"O Contador" é um dos melhores trabalhos de Ben Aflleck, que divide a tela com Anna Kendrick (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Ação, suspense e drama na medida certa, ótima direção de Gavin O’Connor (“Desafio no Gelo”) e um Ben Affleck numa de suas melhores interpretações, no papel de um autista. Ao final, "O Contador" ("The Accountant") consegue apresentar uma trama diferente e bem interessante que deverá agradar ao público. 

Além de abordar a Síndrome de Asperger e as "limitações" que ela traz para seu portador, o filme explora, por meio de lembranças do personagem Christian Wolff (Affleck), a relação dele com os pais e o irmão. E vai crescendo ao mostrar sua afinidade com os números, as manias de limpeza e de organização e a impossibilidade de manter um convívio social, características encontradas em portadores da doença.

Ben Aflleck surpreende no papel de um contador autista, com um olhar sem vida (apesar de parecer com seu personagem de "Garota Exemplar"). Ele consegue manter essa falta de expressão mesmo nas cenas de ação. E ainda consegue usar o rosto sem emoção para passar simpatia a Christian quando este conhece Dana Cummings (Anna Kendrick, de “Amor Sem Escalas”).

Anna também está muito bem no papel da contadora e divide os louros da segunda parte do trio principal com J.K. Simmons (“Whiplash – Em Busca da Perfeição”). No elenco estão ainda Jon Bernthal (“O Lobo de Wall Street”), Jean Smart (séries de TV “24 Horas”), Cynthia Addai-Robinson (“Além da Escuridão – Star Trek”), Jeffrey Tambor (“Se Beber Não Case”) e John Lithgow (“Interestelar”).

As cenas de ação são outro ponto positivo do filme, com lutas cerco policial, muitos tiros e assassinatos frios, a queima-roupa. Junte a isso um senso ético que vai ser explicado ao longo da história: ele trabalha para criminosos internacionais, coloca suas vidas contábeis em ordem, ganha rios de dinheiro, mas vive uma vida modesta.

Outro destaque é a abordagem, mesmo sem aprofundar, do drama de portadores da Síndrome de Asperger (a mesma do jogador Messi), muitas vezes incompreendidos até pelos próprios pais. Mas se tratados adequadamente  podem levar uma vida quase normal.

Em "O Contador", Christian Wolff é uma criança problema para os pais por sofrer de Síndrome de Asperger. Por mais que especialistas tentem que ele seja colocado em uma escola especial, o pai não permite, dizendo que ele tem de se prepara para um mundo duro e cruel que não vai lhe dar moleza. A doença lhe garante uma grande capacidade para trabalhar com números e quebra-cabeças.

Adulto, Christian vive sozinho, é antissocial e possui um escritório de contabilidade em uma cidadezinha como fachada. Ele trabalha como contador autônomo para algumas das mais perigosas organizações criminosas do mundo.

Ao perceber que está sendo monitorado cada vez mais de perto pelo Departamento Criminal do Ministério da Fazenda, coordenado por Ray King (J.K. Simmons), o contador aceita um cliente legítimo: a empresa Living Robotics, de Lamar Blackburn (John Lithgow), que está apresentando uma divergência na contabilidade envolvendo dezenas de milhões de dólares, descoberta pela funcionária Dana Cummings.

Conforme Christian desvenda os registros e se aproxima da verdade, pessoas ligadas à empresa vão morrendo. Por saberem demais, ele e Dana passam também a ser perseguidos pelos matadores.

Apesar da pouca explicação sobre a transformação de  Christian, que quando menino montava quebra-cabeças de dezenas de peças em minutos, num excelente contador e exímio atirador, o filme convence, tem boas atuações e a história bem conduzida. Vale conferir.



Ficha técnica:
Direção: Gavin O’Connor
Produção: Electric City Entertainment/Zero Gravity Management
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h10
Gêneros: Drama / Suspense / Ação
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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