29 novembro 2016

"Elis", filme que inebria e entontece

Com interpretação mediúnica de Andreia Horta, “Elis” tem lotado as salas de cinema de fãs saudosos das canções e histórias da polêmica Pimentinha (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Tem razão o diretor e roteirista Hugo Prata quando diz que é impossível falar sobre Elis Regina em uma sessão de duas horas. É pouco tempo demais para sintetizar uma vida tão rica quanto polêmica, repleta de paixões, desamores e tumultos. Elis são várias e seria preciso uma série com muitos capítulos para dar conta de tantos conflitos não apenas na música, mas também na política, na família, nos amores... Ela não era de fugir da briga.

Tem razão também a parcela do público que, conhecendo Elis desde o início de sua carreira, tem  se queixado de que o filme falha ao não tocar, por exemplo, no seu encontro profissional com os compositores mineiros Fernando Brant e Milton Nascimento, na gravação histórica de “Águas de Março” nos Estados Unidos com o maestro Tom Jobim, ou pular fases da vida da cantora como se as mudanças ocorressem como mágica, sem um processo que as justificasse.

De repente, de uma cena para outra, lá estava a artista se separando do marido, ou se embebedando quando para o espectador ainda não estava claro que o casal se desentendia ou que ela andava gostando muito de uísque. A própria relação da Pimentinha com as drogas acontece, no roteiro do filme, como se tivesse ocorrido de forma rápida e inesperada, como se, para isso, não fosse necessário todo um trajeto.

Talvez por esses senões, o filme tenha sido considerado por alguns como um novelão, numa referência a uma narrativa que privilegia pontos altos sem espaço para respiros e reflexões. Pode ser. Mas isso, de forma alguma, tira ou reduz a importância de “Elis”.  Mesmo tendo optado por retratar um recorte de 18 anos da carreira da cantora, Hugo Prata fez isso como um grande fã. O filme é uma homenagem. Uma belíssima homenagem a quem muitos consideram a maior cantora do Brasil.

Outro ponto que enriquece o filme é o elenco, irrepreensível. Gustavo Machado (como Ronaldo Bôscoli, o primeiro marido da Elis), Lúcio Mauro Filho (como Miéle, produtor dela no início da carreira), Júlio Andrade (como o coreógrafo Lennie Dale, que ensinou a ela como se expressar corporalmente no palco), Caco Ciocler (como o compreensivo e terno César Camargo Mariano, marido e arranjador) e Rodrigo Padolfo (como Nelson Motta, amigo e responsável por mudanças na carreira dela), todos atuam na medida certa, gravitando em torno da estrela.

Miéle (Lúcio Mauro Filho), Lenni Dale (Júlio Andrade) e Nelson Mota (Rodrigo Padolfo)

Mas o grande sucesso de “Elis” é, sem dúvida, sua intérprete, Andréia Horta. Numa atuação impactante e quase mediúnica, a atriz dá um show. Maquiagem, figurino e expressão corporal ajudam a torná-la muito parecida com a cantora, mas não é só isso. Ao dublar a voz inconfundível da inquieta gauchinha e enriquecer a interpretação com trejeitos, sorrisos e gestos, a mineirinha de Juiz de Fora tem feito muita gente chorar de saudade. Classificação: 14 anos



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26 novembro 2016

"A Chegada", uma ficção que impressiona e surpreendente

Naves espaciais invadem a Terra e uma especialista em linguística terá de decifrar suas mensagens (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


"A Chegada" ("Arrival") é um filme que provoca várias reações, mas com certeza seu final surpreende e agrada a todos que assistem. Do drama familiar, mais intenso no início e mesclado com a realidade ao longo do filme, o diretor Denis Villeneuve (de "Sicário: Terra de Ninguém" e "Os Suspeitos ") apresenta thriller perturbador de ficção científica que envolve o espectador.

A produção conta ainda com a excelente atuação de Amy Adams no papel principal, dando a dramaticidade necessária à personagem, que sofre com a perda da filha e com a incapacidade de decifrar a mensagem dos extraterrestres.

No elenco estão ainda o premiado Jeremy Renner, que apesar de ficar em segundo plano, é uma das peças importantes da trama. E Forest Whitaker, como o coronel G.T. Weber, que comanda toda a operação. O filme é baseado no livro "Story of Your Life", de Ted Chiang.

A história de "A Chegada" é sobre a Dra. Louise Banks (Adams), uma especialista em linguística que trabalha numa universidade norte-americana. Vivendo o drama pessoal da perda da filha Hannah e da solidão marcada por flashbacks dos bons e maus momentos passados com ela, Banks restringe sua vida ao trabalho. Até que é contratada pelo governo, juntamente com o matemático Ian Donnelly (Renner), para decifrar os códigos de extraterrestres que chegaram à Terra em várias espaçonaves espalhadas pelo planeta.

A dupla precisa entrar numa das naves e tentar  entender o propósito da visita. Para isso começa uma batalha contra o tempo, antes que as forças militares de outras potências iniciem um ataque aos invasores.

Até aí parece uma história comum, mas "A Chegada" toca mais fundo, interligando o drama familiar da especialista com as mensagens trocadas com os ET's, de uma forma, às vezes confusa, às vezes intrigante, quase um quebra-cabeça. Até o final surpreendente.

A produção acertou também na narração, apesar de apresentar alguns diálogos monótonos de explicações científicas. Mas a condução foi perfeita, combinada com a bela fotografia, os enquadramentos e a escolha de elenco. Um filme que merece ser visto.



Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Produção: FilmNation Entertainment / Lava Bear Films / 21 Laps  Entertainment
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h56
Gêneros: Drama / Ficção Científica
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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