09 março 2017

"Insubstituível" é suave como um vinho e encanta pela fotografia e atuações



Diretor e roteirista, Thomas Lilti também é médico e aproveitou sua experiência para fazer um filme próximo à realidade do tratamento no campo (Fotos: Jair Sfez/Divulgação)


Maristela Bretas


Um filme francês, tendo como ator principal François Cluzet (conhecido por seu trabalho em "Intocáveis", de 2011) e uma linha de roteiro sem oscilações, quase retilínea. Um pouco longo talvez, mas nada que comprometa a bela e simples história de "Insubstituível" ("Médecin de Campagne"), que estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH. O blog Cinema no Escurinho, a Revista PQN e outros jornalistas assistiram a uma sessão especial a convite da Rede Cineart.

Cluzet divide a comédia dramática com Marianne Denicourt, ambos nos papéis de médicos disputando os pacientes no interior da França. A história é até comum, mas os dois atores franceses conseguem dar o brilho necessário para tirar o roteiro da lentidão inicial. A relação de trabalho e a aproximação dos personagens principais passa do ciúme à admiração e vai um pouco além.

"Insubstituível" tem uma belíssima fotografia. A região da França foi muito bem escolhida pelo diretor, que passeia com sua lente por campos e estradas pela manhã e ao entardecer, proporcionando belas imagens ao espectador. Esta talvez seja a parte mais atraente do filme, além da atuação da dupla. principal e do elenco que ajudou a compor a simplicidade típica da população do campo.

Numa região rural, o médico Jean-Pierre Werner (François Cluzet) é o único a tratar de todos os moradores dando, além de remédios, atenção e conselhos como melhor receita. Ele atravessa diariamente vilarejos e fazendas para o atendimento em domicílio, além de receber pacientes em seu consultório na cidade.

Por recomendações médicas, Jean-Pierre precisa diminuir o ritmo de trabalho, mas ele se recusa a abandonar seus pacientes. Até que chega à cidade a médica recém-formada Natalie Delezia (Marianne Denicourt). Além de ter de enfrentar o ciúme do velho médico, ela ainda terá de ganhar a confiança dos pacientes que não aceitam substituir Jean-Pierre por uma estranha e, principalmente, mulher.

Jean-Pierre e Natalie formam um casal agradável, simpático, que conquista o público. Considerado um dos maiores nomes do cinema francês da atualidade, François Cluzet por sua atuação em "Insubstituível" foi indicado ao prêmio César de Melhor Ator de 2016. O filme também recebeu indicação no Festival de Cinema de Edinburg de 2016. Marianne Denicourt tem o olhar forte de sedução que é bem explorado pela personagem na relação com o médico.

Uma curiosidade sobre o filme: além de diretor e roteirista, Thomas Lilti também é médico e aproveitou sua experiência ao criar situações, às vezes dramáticas, às vezes cômicas de atendimento clínico no campo como as apresentadas no filme. Mais um ponto que justifica a ida ao cinema.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Thomas Lilti
Produção: Juin Films
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h42
Gênero: Comédia dramática
País: França
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #insubstituivel, #medecindecampagne, #FrançoisCluzet, #MarianneDenicourt, #comédia, #drama, #França, #medicina, #medicodecampo, #ThomasLilti, #CineartFilms, #CinemanoEscurinho

05 março 2017

"Um Limite Entre Nós" é dramático e impiedoso na forma de amar

Denzel Washington e Viola Davis estão perfeitos na interpretação do casal principal (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Viola Davis e Denzel Washington estão impecáveis em seus papéis na adaptação "Um Limite Entre Nós" ("Fences"). Ambos mereciam o Oscar de Melhores Atores. Mas somente ela faturou, mesmo assim como Coadjuvante. A história, interpretada com sucesso pelo casal e o mesmo elenco no teatro, manteve a mesma carga dramática no cinema. Mas trouxe um problema que já aconteceu com outras adaptações teatrais: a narrativa arrastada e diálogos longos, como o do início com Denzel. Ele fala como uma metralhadora, sem interrupção, chega a deixar a produção chata e sonolenta.

Mas à medida que o enredo vai se desenrolando, Troy Maxson (personagem de Denzel Washington) vai se revelando e as falas, anteriormente muito longas ganham ritmo e agilidade, mantendo a carga de frustração e desrespeito pelo casamento e pelas pessoas que estão ao seu redor. E o que ele recebe de volta é raiva e mágoa, como a do filho mais novo, que ele não consegue dominar mais. Denzel também diretor do filme exagerou um pouco no início e na duração da história para o cinema, que poderia ter sido contada em menos tempo.

O cenário de "Um Limite Entre Nós" também não sofre muitas variações, com quase tudo acontecendo dentro e, principalmente no jardim da casa de Troy e Rose (Viola Davis). Isso aproxima o público das relações vividas naquele espaço: amizade entre amigos, um casamento onde uma das partes se anula, frustrações, machismo, egoísmo, desprezo, o convívio de pai e filhos, sentimento de inferioridade por causa da cor da pele e vai por aí afora.

Na década de 1950, em Pittsburgh (EUA), Troy Maxson é um homem de 53 anos que na infância sonhava em se tornar um grande jogador de beisebol, mas que ele acredita nunca ter conseguido por ser negro. Frustrado, vive na periferia com a esposa, Rose e o filho mais novo, Cory (Jovan Adepo) e trabalha recolhendo lixo das ruas. Batalha para conseguir ocupar o posto de motorista do caminhão de lixo, mas se acha preterido ao cargo que só era passado a brancos.

Sua frustração e egoísmo o levam a impedir que Cory se torne um jogador de futebol americano e entre para uma universidade, o que acaba provocando uma disputa entre os dois, só separada quando a mãe intervém. Também não há carinho na relação dele com Lyons (Russell Hornsby), o filho mais velho do primeiro casamento, que só procura o pai por dinheiro. Sem contar o irmão Gabe (Mykelti Williamson, que está excelente no papel), um ex-combatente da Segunda Guerra que sofre de problemas mentais e constantemente se mete em problemas com a polícia.

Para equilibrar todo esse clima tenso está Rose, a esposa que se anula quase que por completo ao aceitar o jeito ignorante, prepotente e arrogante do marido. A atitude dela pode despertar a ira de algumas mulheres que forem ao cinema e que talvez não entendam como ela pode conviver com o que Troy lhe impõe e ao filho. Viola Davis dá um show de interpretação como a esposa submissa, mas de uma força incrível. E que ainda consegue amar o marido, apesar de tudo o que ele faz. Um Oscar mais que merecido.


Denzel não concorreu ao Oscar de Melhor Ator à toa. E era um dos merecia ter ganhado. Ele está brilhante como diretor e no papel principal, fazendo Troy ser odiado por cada atitude desprezível que toma. O personagem tem sua maneira de amar e de querer ser amado, insiste que negros não têm vez e que o filho não terá chance de crescer num time de brancos, cria sua própria ética de vida e não admite ser questionado. Mas é leal ao velho amigo Jim Bono (Stephen Anderson), o único a quem escuta às vezes.

O título do filme em português - "Um Limite Entre Nós" - não esclarece (como acontece muitas vezes) a ligação com a história. O original em inglês é "Fences" (cercas). Troy passa seus finais de semana construindo uma cerca para sua casa. Mas seu comportamento, sem que admita, vai levantando também cercas que o afastam das pessoas, mas as mantém dentro de seu controle. Um ótimo filme sobre relações, com um enredo simples que poderia ser mais curto. Mas o trabalho do elenco e a direção compensam. Mas vale conferir.


Ficha técnica:
Direção e produção: Denzel Washington
Produção: Bron Studios / Scott Rudin Productions / Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 2h19
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #umlimiteentrenos, #fences, #cercas, #Denzel Washington, #Viola Davis, #MykeltiWilliamson, #JovanAdepo, #RussellHornsby, #StephenHenderson, #drama, #ParamountPictures, #CinemanoEscurinho