09 março 2017

"Moonlight", um filme de olhares, silêncio e poesia

Produção dirigida por Barry Jenkins conquistou três Oscars neste ano: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado (Fotos: Diamond Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


O vencedor do Oscar 2016, "Moonlight - Sob a Luz do Luar", é o tipo do filme inesquecível. Não é todo dia que alguém consegue contar uma história tão triste quanto trágica - de um negro gay e desgraçadamente pobre - de uma forma tão delicada.  Pois o diretor Barry Jenkins conseguiu. O longa, pode-se dizer, é elegante. E dificilmente vai sair da cabeça - e do coração - de quem o assistiu.

Para início de conversa, "Moonlight" é narrado em três atos. O personagem principal, portanto, é vivido por três atores, todos brilhantes. Ressalte-se a expressão do menino Alex Hibbert, que faz uma criança praticamente sem nome que mora na periferia de Miami. Não por acaso, todos o chamam de "Little". 

E são exatamente o olhar dele e o silêncio constrangedor com os quais ele se relaciona com o mundo que fisgam - e incomodam - o espectador logo nas primeiras cenas. É como se aquele bichinho assustado nos puxasse para dentro de nós mesmos, nos convidando, também, à reflexão e ao silêncio.

Como se não bastasse ser filho de uma mulher drogada (Naomie Harris, indicada ao Oscar de Melhor Atriz), que se prostitui para sustentar o vício, Little se percebe diferente em relação à própria sexualidade. Perseguido e vítima de bullying na escola, encontra alguma proteção na amizade com Juan, o traficante da região interpretado magistralmente por Mahershala Ali, Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Sem nenhum traço de estereótipos, a atuação de Ali comove e arrebata. Pena que fique tão pouco na tela. Só no primeiro ato.

Na adolescência, quando decide se impor perante os amigos e à vida, o personagem, já mais calejado, é vivido por Ashton Sanders, também em ótimo momento. Já não se chama mais Little e sim Chiron, seu nome de batismo. Mas o olhar triste e assustado permanece. Na vida adulta, Chiron é Black (Trevante Rhodes), agora aparentemente dono de si, mesmo sem saber direito quem é, buscando em alguns símbolos de poder - como o carro, o corpo malhado e o aparelho nos dentes - a própria identidade.

Já se disse que "Moonlight..." fala de escolhas. Pode ser. Mas seria melhor dizer que o filme fala sobre como a vida pode nos empurrar para algum caminho, como o ambiente é fundamental para definir a personalidade, o caráter. Ou ainda: como a figura paterna pode ser crucial na formação de um indivíduo. Talvez resida aí a sutileza do longa, que foge a todas as fórmulas. É poético e tem delicadeza. Pena que tenha sido traduzido como "Sob a Luz do Luar". O nome do livro que deu origem ao filme é "Sob a luz da Lua, garotos negros parecem azuis". Mais poético ainda.



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"Insubstituível" é suave como um vinho e encanta pela fotografia e atuações



Diretor e roteirista, Thomas Lilti também é médico e aproveitou sua experiência para fazer um filme próximo à realidade do tratamento no campo (Fotos: Jair Sfez/Divulgação)


Maristela Bretas


Um filme francês, tendo como ator principal François Cluzet (conhecido por seu trabalho em "Intocáveis", de 2011) e uma linha de roteiro sem oscilações, quase retilínea. Um pouco longo talvez, mas nada que comprometa a bela e simples história de "Insubstituível" ("Médecin de Campagne"), que estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH. O blog Cinema no Escurinho, a Revista PQN e outros jornalistas assistiram a uma sessão especial a convite da Rede Cineart.

Cluzet divide a comédia dramática com Marianne Denicourt, ambos nos papéis de médicos disputando os pacientes no interior da França. A história é até comum, mas os dois atores franceses conseguem dar o brilho necessário para tirar o roteiro da lentidão inicial. A relação de trabalho e a aproximação dos personagens principais passa do ciúme à admiração e vai um pouco além.

"Insubstituível" tem uma belíssima fotografia. A região da França foi muito bem escolhida pelo diretor, que passeia com sua lente por campos e estradas pela manhã e ao entardecer, proporcionando belas imagens ao espectador. Esta talvez seja a parte mais atraente do filme, além da atuação da dupla. principal e do elenco que ajudou a compor a simplicidade típica da população do campo.

Numa região rural, o médico Jean-Pierre Werner (François Cluzet) é o único a tratar de todos os moradores dando, além de remédios, atenção e conselhos como melhor receita. Ele atravessa diariamente vilarejos e fazendas para o atendimento em domicílio, além de receber pacientes em seu consultório na cidade.

Por recomendações médicas, Jean-Pierre precisa diminuir o ritmo de trabalho, mas ele se recusa a abandonar seus pacientes. Até que chega à cidade a médica recém-formada Natalie Delezia (Marianne Denicourt). Além de ter de enfrentar o ciúme do velho médico, ela ainda terá de ganhar a confiança dos pacientes que não aceitam substituir Jean-Pierre por uma estranha e, principalmente, mulher.

Jean-Pierre e Natalie formam um casal agradável, simpático, que conquista o público. Considerado um dos maiores nomes do cinema francês da atualidade, François Cluzet por sua atuação em "Insubstituível" foi indicado ao prêmio César de Melhor Ator de 2016. O filme também recebeu indicação no Festival de Cinema de Edinburg de 2016. Marianne Denicourt tem o olhar forte de sedução que é bem explorado pela personagem na relação com o médico.

Uma curiosidade sobre o filme: além de diretor e roteirista, Thomas Lilti também é médico e aproveitou sua experiência ao criar situações, às vezes dramáticas, às vezes cômicas de atendimento clínico no campo como as apresentadas no filme. Mais um ponto que justifica a ida ao cinema.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Thomas Lilti
Produção: Juin Films
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h42
Gênero: Comédia dramática
País: França
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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