Júlio Machado interpreta Joaquim José da Silva Xavier no filme de Marcelo Gomes, gravado na região de Diamantina (Fotos: Imovision/Divulgação) |
Maristela Bretas e Leandro Borboleta
Herói da Inconfidência ou um homem comum com ambições? Qual imagem deve ser preservada pela história de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que morreu em 21 de abril por lutar pela Independência do Brasil? No colégio, ensinam que ele foi o grande líder e o único sacrificado entre os Inconfidentes Mineiros. Morreu como um mártir.
Mas "Joaquim", filme dirigido por Marcelo Gomes e gravado em Diamantina e na Serra do Espinhaço, em Minas, mostra um homem totalmente diferente. Ou melhor, um homem comum, com ambições, amores, desejos, preconceitos e que, apesar de defender direitos, mantinha escravos e tinha desprezo pelos índios. Um alferes, com conhecimentos de dentista (por isso a alcunha de Tiradentes) que prendia ladrões de ouro das terras Coroa Portuguesa em Minas, mas que sonhava em enriquecer e ocupar um posto mais alto na tropa. Assim poderia comprar a escrava que amava, e torná-la somente sua amante.
Na ficção, o diretor quis mostrar um outro lado de Tiradentes. Do soldado ao revolucionário, seu envolvimento com os aristocratas e intelectuais que planejaram o movimento, mas que na verdade usaram a impulsividade do alferes para transformá-lo em "boi de piranha". Se alguém caísse na rebelião não seriam eles, os nobres, mas o pobre militar, que acabou decapitado, esquartejado e teve seus membros espalhados pelas Minas Gerais.
Marcelo Gomes, também roteirista do filme, usou e abusou da câmera na mão, acompanhando os personagens, o que incomoda em alguns momentos, principalmente quando a cena era feita em terrenos acidentados. O roteiro não se preocupa em dar uma sequência nos fatos, o que deixa às vezes a história um pouco confusa, com cortes e mudanças de cenas bruscas. Outro ponto que deixou a desejar foi o final, que precisava ter avançado um pouco mais na relação de Joaquim com os demais inconfidentes - ficou muito superficial, sem impacto.
Em compensação, a cena de abertura com narração de Joaquim sobre sua história, tendo como fundo a imagem da cabeça dele cravada num poste, debaixo de chuva ficou muito boa. Leva o expectador a achar que será mais um filme sobre o herói. Vai se surpreender e gostar. As falhas não comprometem a ideia do drama, que busca mostrar como surgiu o famoso personagem - de alferes dentista a político e revolucionário. E suas andanças em busca do ouro em terras mineiras no século XVIII. A produção foi feita em conjunto com Portugal e utiliza atores mineiros, como os do Grupo Galpão.
"Joaquim" é um filme didático, mostrando detalhes de como era a vida dos militares a serviço da Coroa, seus anseios, a busca pelo ouro, a disputa pelo comando, a relação com os escravos. Tudo isso passado no seco e árido Cerrado mineiro. Vai das cenas fortes e aceleradas aos momentos de lentidão (às vezes exagerados). O elenco dá um exemplo de belo trabalho de interpretação, principalmente Julio Machado, como Joaquim/Tiradentes, Isabél Zuaa, (a escrava Preta), Rômulo Braga (Januário), Welket Bungué (o escravo João) e Nuno Lopes (como Matias, o militar português).
O filme, que concorreu ao Urso de Ouro do 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro passado, estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH, aproveitando as comemorações do 21 de Abril, Dia de Tiradentes. Vale a pena conferir.
Ficha técnica:
Direção: Marcelo Gomes
Produção: Ukbar Filmes / Rec Produtores
Distribuição: Imovision
Duração: 1h37
Gêneros: Drama / Biografia
Países: Brasil / Portugal
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)
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