25 abril 2017

"Além das Palavras" acompanha o ritmo de vida poético e solitário de Emily Dickinson

Cynthia Nixon e Jennifer Ehle têm ótimas atuações como a poetisa norte-americana e sua irmã Vinnie, que viveram no século XIX (Fotos: Cineart Filmes/ Divulgação)


Maristela Bretas


Com excelente interpretação da atriz Cynthia Nixon, "Além das Palavras" ("A Quiet Passion") estreia nesta quinta-feira nos cinemas de BH, contando a história da celebrada poetisa norte-americana Emily Dickinson. Sempre a mais forte e segura dos três filhos, extremamente ligada à família, cabeça-dura e já uma amante da poesia, assim foi seu crescimento até a idade adulta, quando a solidão e a depressão passam a dominá-la até seus últimos dias. O consolo vinha apenas no formato de belas palavras.

O filme é longo (até mais do que precisava), mas explicável ao acompanhar toda a trajetória de Emily Dickinson. Membro de uma família tradicional muito discreta e fechada, cujos costumes eram considerados inadequados para os padrões do século XIX, a jovem escritora sempre contou com o apoio dos pais e irmãos na sua paixão pela poesia. Uma união da qual ela não conseguia e nem quereria se desfazer e que levou por toda a vida, sem nunca ter se ligado a alguém.

A maior amiga foi a irmã Vinnie (Jennifer Ehle, também ótima no papel), com quem dividiu alegrias e tristezas, na juventude e por toda a sua vida. Também a cunhada Susan (Jodhi May) teve grande importância no trabalho da poetisa, como amiga e após a sua morte, parte que não é mostrada no filme. Outro que surpreende na interpretação quase britânica é Keith Carradine, como Edward Dickinson, pai de Emily. Correto, de poucas palavras, pai e marido amoroso, severo quando necessário, mas que tinha a família como seu universo, assim como a filha.


O roteiro segue acompanhando o crescimento da personagem como jovem, mulher, poetisa, uma pessoa firme em seus princípios de lealdade, respeito, mas que também sofreu com um amor proibido. "Além das Palavras" é uma drama que começa suave, vai se tornando mais denso e depois perde o ritmo, chegando a ter uma narrativa sonolenta. Exatamente onde começa a fase de depressão e solidão de Emily, para depois ganhar fôlego para o final.

Com figurino de época impecável e bela fotografia, “Além das Palavras” foi filmado na Bélgica e em Amherst, Massachusetts (EUA), cidade de origem dos Dickinson, a vida da escritora foi bem retratada no longa de Terence Davies. Desde a jovem estudante tímida, mas com ótimo senso de humor e amizades intensas à artista que termina a vida reclusa, amarga e irreconhecível, que sofreu duramente com a doença que a matou aos 56 anos.


Talento reconhecido após a morte

Devido a seu estilo de vida reclusa e à forte repressão religiosa imposta principalmente às mulheres da época, o talento de Emily Dickinson para a poesia só foi descoberto após sua morte, quando mais de 1.700 poemas foram encontrados. Segundo sua biografia, ela teria escrito praticamente um poema por dia, mas não teve mais do que dez deles publicados, muitos anonimamente. 


Do que se sabe até hoje sobre ela foi descoberto por meio de cartas encontradas, anos após seu falecimento. Estas cartas eram trocadas principalmente com a cunhada e vizinha, Susan Dickinson, e também com alguns escritores e intelectuais, como Samuel Bowles e Helen Hunt Jackson.

"Além das Palavras" é uma boa produção cinematográfica principalmente por causa das atuações e talentos de Cynthia Nixon, Keith Carradine e Jennifer Ehle, que deram a dramaticidade necessária à biografia da escritora. Vale conferir.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Terence Davies
Produção: Hurricane Films
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 2h05
Gêneros: Biografia / Drama
Países: Reino Unido / Bélgica
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #AlemdasPadalvras #AQuietPassion #EmilyDickinson #CynthiaNixon #KeithCarradine #JenniferEhle #JodhiMay #drama #biografia #poesia #poetisa #HurricaneFilms #CineartFilms, #CinemanoEscurinho

24 abril 2017

"A Cabana" é um reencontro com a fé que toca o coração

Octavia Spencer e Sam Worthington interpretam Deus e um pai que perdeu a fé (Fotos: Paris Filmes/Distribuição)

Maristela Bretas


Há semanas em cartaz nos cinemas de BH, somente agora consegui assistir o filme "A Cabana" ("The Shack"), uma adaptação do best-seller mundial de William Paul Young. O livro já vendeu 18 milhões de exemplares e foi escrito há dez anos como um presente do autor para seus filhos. Confesso que sai com certo alívio no espírito. Revendo uma entrevista dada à rede de TV CBN, o escritor explicou que o conto foi a forma que achou para se reencontrar a fé e acertar os pontos negativos de sua vida. 


Também serviu para mostrar aos filhos um Deus diferente, que perdoa e está sempre presente, mas que também não tem como evitar que as coisas ruins aconteçam. No máximo, Ele pode consolar e dar força para tentar superar as perdas ao longo da vida.

William P. Young conseguiu isso em seu livro e agora o diretor Stuart Hazeldine transformou a versão cinematográfica em uma história ainda mais envolvente e emocionante. As colocações e questionamentos sobre a fé em Deus, assim como a escolha de uma mulher (e negra) para o papel de Papa/Deus podem desagradar aos religiosos mais fervorosos. Mas Octavia Spencer está excepcional e como sempre dá um show de interpretação. Assim como Sam Worthington vivendo Mack Phillips, o pai que perde a fé após sofrer uma tragédia familiar.

No elenco estão ainda o israelense Avraham Aviv Alush (como Jesus Cristo), a japonesa Sumire Matsubara (Sarayu, o Espírito Santo), Radha Mitchell (Nan Phillips, mulher de Mack), Megan Charpentier e Gage Monroe (como Kate e Josh, filhos do casal), a brasileira Alice Braga, em ótima participação como a Sabedoria, e Graham Greene, a imagem do Deus homem, com traços indígenas. Várias etnias atuando em perfeita harmonia e mostrando que Deus pode se apresentar das mais variadas formas.

Inicialmente, "A Cabana" aparenta uma história comum, de uma família religiosa, muito unida e que, de repente, sofre uma perda irreparável. A partir daí, ela passa a mesclar um pouco de autoajuda e religiosidade, em que Deus (Spencer) terá de intervir para recuperar a fé de Mack (Worthington) e devolvê-lo à sua mulher e filhos. 

Uma ótima fotografia, com cenários que vão do branco da neve ao colorido do paraíso. Tudo isso ajudado pela bela trilha sonora, com destaque para a música tema "Keep your eyes on me", composta e interpretada por Tim McGraw (que faz o papel de Willie, amigo de Mack) e Faith Hill.

Na história, Mack é um pai atormentado que se culpa por ter perdido a filha caçula num passeio com os filhos. As roupas de Missy, levada por um sequestrador, são achadas numa misteriosa cabana nas montanhas, mas o corpo nunca foi localizado. Quatro anos depois da tragédia sua família está desestruturada e ele recebe um misterioso bilhete para que retorne a tal cabana, onde terá de rever toda sua vida.

O enredo quer mostrar que apesar das coisas ruins que acontecem na vida é possível ver uma luz no fim do túnel e fazer as pazes com o passado. Para alguns, a mensagem pode parecer piegas, mas "A Cabana" é um filme que toca o coração, faz chorar e até repensar na fé em Deus. "Como se fosse uma oração", como disse o autor. Vale a pena assistir, com certeza.



Ficha técnica:
Direção: Stuart Hazeldine
Produção: Summit Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 2h13
Gênero: Drama /Religião
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #ACabana #OctaviaSpencer #SamWorthington #StuartHazeldine #TheShack #Keepyoureyesonme #WilliamPaulYoung #TimMcGraw #drama #fé #religiosidade #Deus #JesusCristo #EspíritoSanto #Sabedoria #SummitEntertainment #ParisFilmes #CinemanoEscurinho