Comédia franco-belga pode ser conferida no Belas Artes e no Net Cineart Ponteio (Fotos: Potemkine Films/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Mesmo que pareça um pouco fora de moda, vale a pena ver "Perdidos em Paris" ("Paris Pieds Nus"), nem que seja para relembrar e homenagear um tempo de mais romances e maior leveza. Quase nada no filme tem a ver com a realidade e talvez resida aí seu encanto. Para completar, o longa escancara uma Paris - linda, como sempre - florida, iluminada e cheia de charme. Precisa mais?
Uma série de coincidências - nem todas racionalmente aceitáveis - provoca o encontro, em Paris, de Fiona (Fiona Gordon) e Dom (Dominique Abel). Ela é uma jovem meio tonta, que deixa uma estação glacial no Canadá, onde trabalha, para tentar socorrer uma velha tia que lhe escreve da Europa, pedindo socorro, pois querem levá-la para um asilo. Ele, um vagabundo morador de rua que vive de pequenos golpes. A partir daí, as estripulias se multiplicam em dezenas de tropeções, tombos e desencontros e o espectador vai aceitando, devagar, que está diante de um filme de palhaços - no melhor sentido que essa expressão possa ter.
Desengonçados, feios e trapalhões, Fiona e Dom - que são Fiona Gordon e Dominique Abel, diretores, roteiristas e produtores do longa - levam o público a altas gargalhadas. Se, no início, há um estranhamento pelo excesso de nonsense, aos poucos o espectador entra no ritmo do humor ingênuo que, em muitos momentos, lembra Charles Chaplin ou Jerry Lewis. Nesse quesito, é impagável a cena da caixa de som no barco restaurante, cuja retumbância coloca em uníssono os movimentos dos clientes nas mesas.
Impagável também é a cena da dança, com a câmara focalizando apenas os pés de Martha e Norman, ambos interpretados por artistas veteranos do cinema francês. Ela, para quem não se lembra, é a excepcional Emmanuelle Riva, que viveu Anne, protagonista de "L'Amour", papel pelo qual foi indicada ao Oscar em 2013. Riva morreu em janeiro deste ano. Ele é Pierre Richard, comediante muito conhecido na França.
Nesses tempos duros de violência e conflitos, um pouco de ingenuidade faz bem à mente e ao fígado. O público agradece e aplaude. Cinema do bem. Classificação: 12 anos
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