02 setembro 2017

"Como Nossos Pais", um filme para todos, direto e transparente

Produção dirigida por Laís Bodanzky ganhou seis kikitos no Festival de Gramado de 2017, incluindo Melhor Filme (Fotos: Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Crise matrimonial, conflito de gerações, infidelidade, papel da mulher no casamento, segredos familiares, doença terminal, rotina, sonhos adiados, frustrações... Vistos assim, juntos, temas tão complexos quanto assíduos e delicados poderiam resultar numa história árdua e pesada. Não é o caso de "Como Nossos Pais", filme de Laís Bodanzky que tem recebido elogios - dentro e fora do Brasil - exatamente por ser leve, simples, direto e transparente.

Sem inventar muito, a diretora - e co-roteirista junto com Luiz Bolognesi - faz um recorte na vida de Rosa, jornalista de 38 anos vivida por Maria Ribeiro quando ela vive um momento de crise. Cansada de ser supermãe e dona de casa perfeita, além de carregar a frustração de um trabalho que não a satisfaz, ela enfrenta uma turbulência no casamento, questiona a participação do marido Dado (Paulo Vilhena) nos afazeres domésticos e na educação das filhas, e, para completar, sua mãe Clarice, interpretada por Clarisse Abujamra, despeja-lhe uma bomba, um daqueles segredos familiares de arrasar quarteirões.

Nas muitas entrevistas que deram em jornais e TVs sobre o filme, diretora e protagonista enfatizaram que "Como Nossos Pais" não é um filme feminista - pelo menos na concepção mais original do termo. Houve quem dissesse se tratar de um filme feminino, até porque, os personagens que questionam, revolucionam, criam situações e conflitos, são mulheres. Os homens, embora tenham importância no desenvolvimento da trama, são apenas coadjuvantes.


Exibido em Berlim, vencedor do 19º Festival Brasileiro de Paris, o filme ganhou seis kikitos no Festival de Gramado de 2017: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz para Maria Ribeiro, Melhor Ator para Paulo Vilhena, Melhor Atriz Coadjuvante para Clarisse Abujamra e Melhor Montagem. E ainda está entre os indicados na disputa do filme que irá representar o Brasil no Oscar.

Não é por acaso que o trabalho de Laís Bodanzky se destaca, principalmente, pela atuação criativa e impecável dos atores, a começar por Maria Ribeiro, que encontrou o tom certo da sua Rosa - cansada, irritada, mas guerreira - passando pela veterana Clarisse Abujamra, que emprestou sua experiência ao personagem Clarice, mãe de Rosa, mulher amarga, doente, sem papas na língua.


Destaque também para Paulo Vilhena, que é Dado, o marido que não sabe muito bem qual o seu lugar. Mas nada se compara ao papel de Jorge Mautner, que faz Homero, pai de Rosa, homem sonhador, meio artista, viajandão e com um pé fora do real.

Pequenos deslizes, como a nudez gratuita de Rosa, de costas, quando ela chega à janela de um hotel em Brasília, e a forma como Clarice enfrenta uma doença terminal - sem nenhuma dor ou mal-estar - não são suficientes para embaçar o brilho de "Como Nossos Pais", que tem um final reticente que respeita a inteligência do espectador. Classificação: 14 anos



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31 agosto 2017

Depois de Mad Max, Charlize Theron volta brutal e "Atômica"

Produção esbanja cenas de violência, tiros, perseguições e muita luta do início ao fim, em história passada no ano da queda do Muro de Berlim  (Fotos: Universal Pictures)

Maristela Bretas


Charlize Theron não se contentou em apenas fazer uma ótima interpretação e apanhar muito de seus inimigos russos (e aliados). Também participa como produtora do brutal e envolvente "Atômica" ("Atomic Blonde"), que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. O filme é dinâmico, com muita ação, perseguições e violência, para quem gosta do estilo 007 de Daniel Craig. Só que a espionagem agora loira, usa saia, é extremamente bonita, sensual e mortal.

Essa é Lorraine Broughton, papel de Charlize que supera muitos agentes secretos, da Guerra Fria e de outros tempos. A espiã britânica do MI6 bate muito, não tem medo de apanhar e ficar com o corpo coberto de marcas e feridas, o cabelo despenteado, a maquiagem borrada, mas sem descer do salto ou perder a classe. Para ficar com o corpo ideal para o filme a atriz recebeu treinamento e aulas de luta de oito personal trainers para dispensar a dublê e fazer as próprias cenas de ação. No final da produção estava com dois dentes quebrados. CLIQUE AQUI  para ver os bastidores do treino de para o papel.

"Atômica" ganha agilidade desde os primeiros minutos, com a história sendo contada a partir de um depoimento de Lorraine. A partir daí são muitas cenas de violência, tiros, porrada, explosões e muito sangue, que chega a espirrar na lente da câmera. Para intensificar as cenas de pancadaria, nada como o misterioso espião americano infiltrado na Alemanha Oriental, David Percival, outra grande interpretação de James McAvoy, que fez todo o filme com a mão direita quebrada, resultado de sua atuação em "Fragmentado" (2016), outro de seus sucessos.

Destaque também para a atuação de Sofia Boutella, que volta em mais um filme e espionagem (também participou de "Kingsman - Serviço Secreto, de 2014). Ela é a agente francesa Delphine, que será determinante na trama. Completando o bom elenco de apoio estão o experiente John Goodman, como chefão da CIA, Emmet Kurzfeld; Eddie Marsan, como o agente duplo Spyglass; Bill Skarsgärd, como o revolucionário Merkel (nome bem sugestivo); Toby Jones, como Gray um interrogador britânico, e James Faulkner, o chefão "C" (outra "semelhança" com Bond, que tem a chefona "M").

Enquanto o povo luta na rua pela união dos dois países, por trás da trincheira, as articulações aconteciam num ambiente sombrio e sórdido em busca do poder. Mas tudo colocado de uma forma muito rápida, ficando o destaque para as cenas de ação e a presença marcante de Charlize Theron. Conhecida por sua frieza e determinação, a espiã Lorraine Broughton é convocada por seus superiores a ir a Berlim onde deverá resgatar um dossiê que coloca em risco a identidade de centenas de agentes secretos de várias nacionalidades se cair em mãos erradas.

Na cidade, o parceiro será David Percival, que joga as cartas da espionagem de uma forma muito diferente das usadas pela britânica, e vai colocá-la em situações constantes de confrontos com as forças militares e os soviéticos da KGB. Como pano de fundo, os protestos nas ruas e a insatisfação da Alemanha, dividida em duas pelo Muro de Berlim e a Guerra Fria, contada através dos noticiários de TV no ano de 1989.

E se já bastasse tudo isso, a trilha sonora ainda vem com repertório invejável dos anos 80, com sucessos como "Sweet Dreams", do Eurythmics, "Father Figure", de George Michael; as versões remasterizadas de "Under Pressure", da parceria entre Queen e David Bowie (2011) e "Hungry Like The Wolf", do Duran Duran (2009), além de outros 31 cantores e bandas. CONFIRA AQUI a playlist do filme disponibilizada pelo canal oficial da Universal e Spotify.

"Atômica" é uma mistura de James Bond, Jason Bourne e John Wick, tanto na violência quanto nas cenas tórridas, mesmo que pequenas. Estas por sinal, poderiam servir de modelo para os próximos filmes da franquia "Cinquenta Tons de Cinza". A produção é baseada na série de quadrinhos “The Coldest City”, de Antony Johnston, ilustrado por Sam Hart.

Pode até ser considerado um longa-metragem com história previsível, recheada de lutas que desviam a atenção do espectador, principalmente nas cenas em plano sequência, mas "Atômica" prende do início ao fim e vale a pena ser assistido.



Ficha técnica:
Direção: David Leitch
Produção: Focus Features
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h55
Gêneros: Ação / Espionagem
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4,3  (0 a 5)

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