01 outubro 2017

"Mãe!", o polêmico suspense apocalíptico de Darren Aronofsky

Produção, que tem recebido vaias e elogios da crítica especializada, tem na excelente interpretação de Jennifer Lawrence um de seus destaques (Foto: Paramount Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Não tem meio termo. "Mãe!" ("Mother!"), de Darren Aronofsky (que dirigiu também "Cisne Negro" e "Noé") é o suspense mais intrigante, alucinante,  desagradável e bem produzido até o momento do diretor. Mas como um filme pode reunir tantas características e ao mesmo tempo ser atraente. Depende da forma como ele é encarado. "Mãe!" foi produzido, conforme seu diretor, como uma alusão à criação do homem até o Apocalipse. Mas também pode ser encarado como discussão da relação de um casal em crise, com a esposa se anulando em função do marido escritor que se alimenta da adoração dela e de seus fãs.

O certo é que o filme não é fácil de digerir, leva um bom tempo para entender o por que do enredo e, principalmente, o rumo tomado após o período de calmaria. O roteiro, para quem não leu ou viu algum trailer, leva a várias opiniões sobre a proposta do diretor. Se a intenção dele era gerar polêmica, conseguiu. "Mãe!" recebeu aplausos e vaias desde a sua estreia. O filme provoca um carrossel de emoções no público que vão da revolta à passividade da esposa e o descaso do marido, à invasão da casa e do espaço do casal por estranhos até o final, que pode ser chamado de terceiro ato e é o mais cruel e assustador.

Muitas pessoas vão querer deixar o cinema quando esta parte começa e é compreensível. Chega a causar asco e ódio. Na minha opinião, o diretor não precisava avançar tanto em determinadas imagens, como a do bebê. "Mãe!" é provocativo, seja na visão religiosa ou na forma de tratar os problemas do casal. E a casa onde moram é o início, o meio e o fim de tudo, o local idolatrado pela mulher, quase uma parte dela e que deveria ser imaculado, mas que acaba invadida e degradada por estranhos.


Jennifer Lawrence está excelente no papel da mulher (Mãe), centro de toda a história e deixa Javier Bardem em segundo plano. Na versão bíblica, ela é a natureza, criada por Deus, papel de Bardem, o marido. Enquanto estão sozinhos tudo é o paraíso, que de uma hora para outra recebe a visita de um estranho (Ed Harris). Na Bíblia ele seria Adão, que da sua costela cria Eva (Michelle Pfeiffer) e, na sequência seus dois filhos Caim e Abel (os irmãos Brian e Domhnall Gleeson). E está formado o caos, que vai tomando conta do filme a cada ato, culminando no Apocalipse.

Se a história de "Mãe!" for analisada pelo lado de uma relação doentia, Jennifer é a mulher submissa, que faz tudo para agradar o marido mais velho que ela, inclusive reconstruindo a casa do casal destruída por um incêndio. O marido vive uma crise de abstinência de criatividade e nada importa para ele, apenas conseguir criar um novo poema e que as pessoas voltem a adorar sua obra. Quando estranhos chegam a sua casa, ele deixa que tomem o espaço, ignorando o desespero da mulher que não aceita mudanças na sua paranoica rotina. Até que uma tragédia desencadeia uma série de fatos bizarros e cruéis.

"Mãe!" ainda pode levar alguns espectadores a acreditarem que se trata de um filme de terror, graças aos mistérios da casa onde tudo acontece, com sangue brotando no chão e no porão, e aos fatos que tomam conta da metade do filme para a frente. Como se alguma força do mal atuasse sobre as pessoas que ocupam os cômodos. 

Também pode ser encarado como um drama e no segundo ato, a expectativa é que a calmaria da gestação da personagem de Jennifer leve a uma conclusão menos angustiante do que foi até ali. Grande engano. Aronofsky continua provocando o público, criando um clima cada vez mais tenso, a ponto de fazer com que este sinta raiva do filme ao expor cenas repugnantes e de pura agressividade. Como a que vemos em noticiários diários ou descritas na Bíblia.


"Mãe!" é um filme do tipo "ame-o ou deixe-o" porque confunde, agride, bate na cara e faz pensar sobre o caminho que o ser humano está tomando, com a perda de moral, respeito, dignidade e humanidade. Como muitos de meus amigos, ainda estou digerindo o filme e a cada conversa com outras pessoas que já assistiram, vejo uma nova abordagem. E concordo com a maioria: trata-se de um dos melhores suspenses deste ano e um dos melhores filmes dirigidos por Darren Aronofsky, apesar de tudo.

E o sucesso dessa produção, filmada em 16 mm, se deve ao grande elenco, especialmente Jennifer Lawrence e aos movimentos precisos de câmera colocadas junto aos atores acompanhando cada mudança de cenário, muitas vezes em cenas sem cortes. Difícil explicar, só assistindo até o final. E depois deixe seu comentário.



Ficha técnica:
Direção: Darren Aronofsky
Produção: Protozoa / Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures Brasil
Duração: 2h02
Gênero: Suspense
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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30 setembro 2017

"Lego Ninjago", ação e aventura para divertir a galerinha acima de 6 anos

Animação com bloquinhos de montar e personagens reais valoriza família, união, amizade e disciplina (Fotos; Warner Bros Entertainment/Divulgação)

Maristela Bretas


Muita ação com super-heróis ninja bem infantis e até um vilão engraçado que comanda um exército de soldados-tubarões. Tudo isso está em "LegoNinjado: O Filme" ("The Lego Ninjago Movie"), terceira animação da Warner com personagens de uma das maiores fabricantes de blocos de montar do mundo. Ao contrário de "Lego Batman: O Filme" (2017), um sucesso deliciosamente divertido e mais indicado para adultos por suas piadas sarcásticas e bem colocadas, "Lego Ninjago" é o mais fraco da trilogia e, assim como "Uma Aventura Lego" (2014), é voltado para um público infantil acima de seis anos.

As crianças vão curtir as minifiguras e ficarem na cola dos pais para comprarem os brinquedos, já à venda nas lojas. Afinal, não é coincidência o lançamento deste tipo de animação anteceder datas comemorativas, como o Dia das Crianças (12 de outubro) e, em breve, o Natal.

Os simpáticos super-heróis ninja - Nya, Cole, Jay, Zane e Kai - usam roupas nas cores de seus poderes, que estão ligados a elementos da natureza - água, terra, fogo, energia e gelo. Essas minifiguras poderiam ser comparadas a Power Rangers de montar. Até mesmo os robôs são semelhantes a megazords. O líder do grupo de estudantes é Lloyd, o ninja verde, e todos dividem seu tempo entre as tarefas escolares e a proteção da cidade de Ninjago contra o destruidor vilão Garmadon, que vive tentando invadir o local.

Para piorar, Lloyd é filho de Garmadon e tem uma profunda mágoa desde que foi abandonado por ele ainda bebê. É nesta parte que a animação deixa o lado infantil e caminha para uma discussão mais adulta, da relação entre pais e filhos. Lloyd foi criado pela mãe e Garmadon nunca teve contato com ele, tanto que não sabe que o adolescente que é seu maior inimigo é também seu único filho que cresceu.


O jovem sempre sentiu a falta de um pai que lhe ensinasse a andar de bicicleta, jogar e agarrar coisas ou dirigir. E a cada batalha contra o vilão, Lloyd espera ser reconhecido pelo pai e sempre vem uma nova decepção. Pais e adultos vão entender essa parte, as crianças, dependendo da idade, podem se identificar com o personagem ou apenas curtir o bonequinho do cabelo louro e o vilão de fantasia preta.

"Lego Ninjago" mescla momentos infantis e adultos. Na sessão de pré-estreia num sábado de manhã em BH, diversos pais e mães participaram com seus filhos, alguns pequenos até demais. Mas as reações foram bem variadas e muitos dos espectadores mirins manifestavam a todo momento suas reações. Um deles, com no máximo três anos, queria saber da mãe porque Garmadon chorava fogo. A explicação aconteceu da maneira adequada à idade, mas teria de ser muito mais profunda para o contexto da história.

A animação foi baseada no desenho animado homônimo que está em sua oitava temporada, exibida no Brasil pelo canal Disney XD. Para o cinema, a história começa contada pelo ator Jackie Chan, que na animação é Mestre Wu, aquele que ensinou os garotos as artes marciais e a filosofia dos ninja. O filme foi feito em live action/animação, combinando os bloquinhos da LEGO animados com personagens reais, interagindo numa aventura cheia de ação e emoção, que reforça valores como amizade, confiança, família, disciplina e união.

Ainda como parte da estratégia de vendas, a Lego criou dez sets exclusivos dos cenários do filme que incluem os personagens para serem montados em família. "Lego Ninjago: O Filme" é divertido na maior parte do tempo e tem ótimas adaptações dos dubladores brasileiros - Felipe Drummond (Lloyd), Eduardo Borgerth Neto (Garmadon), Marcelo Garcia (Kai), Philippe Maia (Cole), Wagner Follare (Jay), Patricia Garcia (Nya), Charles Emmanuel (Zane). A trilha sonora também é muito bacana e a animação pode ser vista dublada, nas versões 2D e 3D.

Poderia ter uma duração menor por ser voltado para pequenos, uma vez que, a partir da metade, o filme perde um pouco da agilidade e fica mais arrastado. Coisa que criança, dependendo da idade, não tem muita paciência de acompanhar, como aconteceu na pré-estreia. Mas é divertido e boa opção para a família num fim de semana.



Ficha técnica:
Direção: Charlie Bean
Produção: Warner Animation / Lego Entertainment
Distribuição: Warner Bros. Pictures Brasil
Duração: 1h41
Gêneros: Ação / Animação / Família / Infantil
País: EUA
Classificação: 6 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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