08 novembro 2017

"Gabriel e a Montanha" - História contada com afeto

Filme de Fellipe Barbosa foi premiado como Revelação na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano (Fotos: João Pedro Zappa e Caroline Abras/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


O economista carioca Gabriel Buchmann foi encontrado morto em 2009, aos 28 anos, na África, depois de se perder na descida do Monte Mulange, no Malawi, local cercado de misticismo. Antes, ele tinha estado em outros lugares como o Quênia, a Tanzânia e Zâmbia, sempre em estreito contato com a população local, recusando-se a ser um turista típico como os demais. Era afetuoso e comilão e não hesitava em trocar os hotéis pelo desconforto das camas e mesas dos casebres dos amigos que fazia durante a viagem.

Apesar de ser um autêntico "mzungu" - homem branco no dialeto do Quênia - passou a se vestir com roupas coloridas e a calçar sandálias feitas de pneus. Seus últimos 70 dias de vida são contados pelo seu amigo, o cineasta Fellipe Barbosa, na produção franco-brasileira "Gabriel e a Montanha", premiado como Revelação na Semana da Crítica do Festival de Cannes deste ano.

Quem assiste ao filme pode sair do cinema repleto de dúvidas: que homem é esse e o que pretendia da vida? Trata-se de um típico jovem da classe média alta, egoísta arrogante e teimoso? Ou apenas um aventureiro irresponsável que não se negava a enfrentar desafios por mais impossíveis que eles parecessem? 
E mais: o que ele fazia naquele lugar inóspito e exótico, no meio da miséria? Estava simplesmente brincando de pobre antes de se encastelar num escritório luxuoso da Califórnia? Tinha, realmente, preocupações sociais? Ou ainda: por que se embrenhou pela África para pesquisar "políticas públicas em um país em desenvolvimento" se poderia ter feito isso no Brasil, onde se formou em Economia?

Mas, talvez resida aí, na dúvida, o encanto e a mágica do filme. O jovem Gabriel - de forma natural e convincente interpretado por João Pedro Zappa (que fez o personagem Serginho, filho do delegado torturador na série "Os dias eram assim", da TV Globo) - é limitado e contraditório como todo ser humano. É preciso destacar a presença certeira de Caroline Abras no papel de Cris, a namorada brasileira que passa uns tempos com ele na África. Os conflitos que surgem entre os dois podem ser reveladores da personalidade do protagonista.

O que o longa ressalta, o que fica claro, é o carinho e a honestidade com que ele foi feito, intercalando a ficção com depoimentos de gente que conviveu com Gabriel nos seus últimos dois meses de vida - amigos, guias, caminhoneiros... Importante dizer que essas pessoas atuam fazendo o papel delas mesmas, ora dialogando com o ator, ora contando suas experiências com o economista. Esse jeito híbrido de fazer cinema comove e confere ao trabalho uma aura de dignidade, respeito e integridade. E enche a história de afeto. Classificação: 12 anos


Tags: #GabrieleaMontanha, @FellipeBarbosa, @JoaoPedroZappa, @CarolineAbras, #GabrielBuchmann, #drama, #aventura, #Históriacontadacomafeto, #PaguPictures, @CinemanoEscurinho

06 novembro 2017

Belo em fotografia e locações, mas faltou química ao par romântico de "Depois Daquela Montanha"


 Produção tem grande elenco formado por Idris Elba, Kate Winslet e Beau Bridges (Fotos: Fox Film/ Divulgação)


Maristela Bretas


Uma fotografia belíssima, locações bem escolhidas entre geleiras e uma dupla de atores premiada e com público garantido. "Depois Daquela Montanha" ("The Mountain Between Us") seria um dos grandes romances do ano. A história é interessante e as cenas de ação bem feitas, principalmente a do acidente aéreo, com a câmera alternando a posição de visualização da frente para a traseira do avião e vice-versa. Kate Winslet e Idris Elba fazem ótima interpretação de seus personagens, como era esperado, mas a química entre os dois não funcionou, "não tem pegada", é morna, sem calor, quase dois estranhos do início ao fim. 

Se fossem papéis isolados, sem formarem o par romântico vivendo uma situação de risco, com certeza a produção daria muito mais certo. A história é boa, vale ir ao cinema só pela presença dos dois atores, que ainda contam com o apoio de Beau Bridges e Dermot Mulroney no elenco.  Mas o diretor não conseguiu extrair bem o lado emotivo do enredo. Quando estão juntos, a emoção não convence, menos ainda ao romântico.

Num aeroporto, a fotógrafa Alex (Kate Winslet) fica conhecendo o neurocirurgião Ben (Idris Elba) e ambos precisam chegar a seus destinos - ela vai se casar e ele está voltando de um congresso médico -, mas todos os voos estão cancelados devido a uma forte tempestade. A dupla aluga um pequeno avião, pilotado por Walter (Beau Bridges), que sofre uma parada cardíaca e acaba derrubando a aeronave numa região montanhosa deserta, coberta de neve. Feridos, Alex e Ben terão de se unir para sobreviverem e escaparem do local e seus perigos. Ao mesmo tempo começam a se interessar um pelo outro. 

Além dos três atores, destaque para um participante muito simpático e essencial à história, o cachorro (sem nome definido), da raça Labrador (tipicamente americano). Pode neve, tempestade, avião, e ele se mantém lá, sobrevivendo, firme, forte e protetor. 

Fora a questão amorosa, "Depois Daquela Montanha" oferece um visual invejável, de montanhas cobertas de neve, uma imensidão branca que chega a dar medo. Mas ao mesmo tempo atrai, principalmente nas cenas em que Idris Elba está no alto de um dos rochedos procurando ajuda. A trilha sonora também atende bem. Não foi dos melhores filmes de Idris Elba e Kate Winslet, esperava mais, mas não decepciona de todo.



Ficha técnica:
Direção:  Hany Abu-Assad
Produção: Fox 2000 Pictures / Chernin Entertainment
Distribuição:  Fox Film do Brasil
Duração: 1h47
Gêneros: Drama / Ação / Romance 
País: EUA
Classificação: 12 anos 
Nota: 3 (0 a 5) 

Tags: #DepoisDaquelaMontanha, @KateWinslet, @IdrisElba, @BeauBridges, #ação, #romance, #drama, @20thCenturyFox, #FoxFilmdoBrasi, @EspaçoZ, @cinemas.cineart, @CinemanoEscurinho