18 dezembro 2017

"Assim é a Vida", uma comédia de classe com humor fino e inteligente

Jean-Pierre Bacri e todo o elenco apresentam boas interpretações que não deixam o filme cair no estilo pastelão (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Para início de conversa, é muito difícil entender o que faz um tradutor forçar a barra ao ponto de transformar "Le sens de la fête" em "Assim é a Vida". Foi isso que aconteceu com o longa dirigido por Eric Toledano e Olivier Natache, responsáveis pelos ótimos "Os Intocáveis" e "Samba", ambos de sucesso. Com um título desses, mais parecido com nome de bolero antigo, fica quase impossível para o público imaginar que não se trata de nenhum dramalhão, mas sim de uma deliciosa comédia dramática que nada tem a ver com o título.

Apesar de alguns clichês, o filme tem um humor fino e inteligente que, ao final das contas, faz uma crítica veemente aos abusos cometidos por casais na produção de suas festas de casamento. Pelo jeito, não é só no Brasil que os matrimônios viraram eventos de superprodução, com detalhes e exageros que beiram a cafonice. Na França também é assim. Na ânsia de ser granfina, muitas dessas festas perdem o sentido de celebração para ganhar pompas impessoais dignas de um show de rock. Não é à toa que o nome do filme em francês se refere ao "sentido da festa".

Além de dirigirem, Eric Toledano e Olivier Natache criaram um roteiro criativo: promotor de festas e eventos há mais de 30 anos, Max (Jean-Pierre Bacri) está vivendo um momento particularmente difícil na vida, ao mesmo tempo em que organiza uma megafesta de casamento que vai acontecer num majestoso castelo do século XVII, onde os garçons devem ir vestidos de lacaios do rei. Casado, e vivendo um romance com uma colega de trabalho (Suzanne Clèment), ele não sabe como resolver sua vida afetiva e sofre com isso.

Mas não é só ele. No desenrolar do filme, o espectador vai descobrindo que cada um da equipe que Max contratou para a festa carrega seu pequeno drama particular, alguns bizarros. Do fotógrafo solitário e comilão, que não se conforma de estar perdendo espaço para os celulares cada vez mais potentes, ao garçom apaixonado pela noiva, passando pelo músico vaidoso e uma assistente sempre disposta aos palavrões e agressões, o grupo contratado por Max bem que poderia fazer com que o filme caísse no pastelão e na fanfarronice. Mas não é isso que acontece.

"Assim é a vida", talvez pela direção e atuações comedidas, não descamba para o exagero. Pelo contrário, mantém a classe de filme francês, embora, de vez em quando caia em uma ou outra situação que lembra as manjadas comédias românticas americanas, cujo compromisso com o real beira o zero. Jean-Pierre Bacri como Max, Gilles Lellouche como o músico egocêntrico e canastrão, Eye Haidara como a assistente Adèle - de estopim curto -, Benjamin Lavernhe como o noivo prepotente e sem noção e todos os demais fazem o que deve ser feito, sempre na medida. 

As vaidades individuais em detrimento do funcionamento perfeito do todo e a ideia de que o simples pode ser mais bonito e chique do que o pomposo são algumas das lições que podem ficar do filme. 
Classificação: 12 anos // Duração: 1h57



Tags: #AssimEAVida, @JeanPierrabacri, @GillesLellouche, @EricToledano, #comedia, @ParisFilmes, @cinemas.cineart, @espacoz, @CinemanoEscurinho

11 dezembro 2017

Kenneth Branagh entrega um "Assassinato no Expresso do Oriente" fiel à obra de Agatha Christie

Elenco de peso, fotografia e figurino foram os pontos principais desta versão cinematográfica adaptada do romance homônimo (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Agatha Christie é e sempre será uma referência na literatura como romancista policial. E não menos o personagem mais famoso de seus livros, o detetive Hercule Poirot, que ganha ótima interpretação de Kenneth Branagh na nova versão adaptada para o cinema de "Assassinato no Expresso do Oriente" ("Murder on the Orient Express"), também dirigida por ele. O filme consegue captar bem o universo da famosa escritora, com seus personagens, inclusive os mais jovens, entregando boas atuações em papéis recheados de sutilezas e mistério. 

Digno da obra da autora britânica lançada em 1934. Além de Branagh, destaque para Michelle Pfeiffer, Josh Gad, Williem Dafoe, Penélope Cruz, Judi Dench e Daisy Ridley ("Star Wars Episódios VII e VIII"). Johnny Depp deixa seu lado Jack Sparrow, da franquia "Piratas do Caribe", e compõe um personagem marcante e essencial no enredo.

Além das boas interpretações, "Assassinato no Expresso do Oriente" apresenta uma bela fotografia, principalmente por usar locações em regiões cobertas pela neve. Além do próprio trem onde acontece quase toda a ação. O Expresso do Oriente, que começou a circular em 1883, ligando Paris a Istambul, durante décadas foi sinônimo de luxo e glamour, destinado aos mais abastados. Fotografia e figurino, numa excelente reprodução de época, também chamam a atenção na produção.


O ritmo fica lento em algumas partes do filme por causa da forma detalhista como o famoso detetive belga conduz a investigação, que induz a todo o momento um novo suspeito. Tudo começa quando Hercule Poirot embarca de última hora no trem Expresso do Oriente, partindo de Istambul, a convite do amigo Bouc (Tom Bateman), que coordena a viagem. A bordo, ele conhece os demais passageiros, entre eles o gângster Edward Ratchett (Johnny Depp), que deseja contratá-lo para ser seu segurança particular.

Durante a madrugada, um dos passageiros é morto em seu aposento no vagão, sem que ninguém percebesse qualquer anormalidade. Em seguida, um deslizamento de neve cobre os trilhos, impedindo a continuação da viagem. Isso que dará tempo para que Poirot use suas habilidades para investigar os suspeitos, todos um com um passado nebuloso, e desvendar o crime cometido.

Bem apresentado, fiel ao livro na maior parte dos detalhes, mas com toques bem interessantes do diretor com a trama sendo mostrada por diversos ângulos, dentro e fora dos vagões. Uma boa sacada de Branagh na cena em que Poirot reúne os 13 suspeitos na entrada de um túnel, que remete para um famoso quadro de Leonardo Da Vinci. Difícil não reconhecer. "Assassinato no Expresso do Oriente" é um filme que vale a pena ver, principalmente por quem conhece a obra de Agatha Christie. Não vai se decepcionar.



Ficha técnica:
Direção: Kenneth Branagh
Produção: 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil / Scott Free Productions
Duração: 1h49
Gêneros: Suspense / Romance Policial
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #AssassinatonoExpressodoOriente, #AgathaChristie,
@KennethBranagh, @JohnnyDepp, @PenelopeCruz, @JudiDench, @MichellePfeiffer, @JoshGad, @WilliemDafoe, @Daisy Ridley, #suspense, #romancepolicial, @FoxFilmdoBrasil, @cinemas.cineart, @espacoZ, @CinemanoEscurinho