14 janeiro 2018

Um simpático touro chamado Ferdinando que conquista corações

Ferdinando ama flores, a sombra de uma árvore e sua melhor amiga Nina (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)


Maristela Bretas


Crianças e adultos vão curtir demais "O Touro Ferdinando", a nova animação do diretor brasileiro Carlos Saldanha, responsável pelos grandes sucessos "A Era do Gelo" e "Rio". Com muita inspiração e simpatia, ele nos apresenta um enorme animal, que daria medo em qualquer um de sua espécie e seria a glória para qualquer toureiro vencê-lo numa arena. Mas ao contrário disso, Ferdinando é doce, cuidadoso, gentil e detesta briga.

Desde pequeno Ferdinando gostava de flores e da calma do campo e sonhava deixar a fazenda onde era preparado para as touradas. Ao contrário dos outros animais de sua espécie e de seu pai, um campeão respeitado. E foi o temperamento calmo e tranquilo que levou Ferdinando (dublado em português por Duda Ribeiro e na voz original pelo ex-lutador de WWE, John Cena) a fugir para um local onde tivesse paz e amigos, além de uma árvore onde pudesse ficar embaixo admirando a paisagem. 

Os anos se passaram e o pequeno bezerro se transformou num touro gigantesco que não tinha noção de seu tamanho. Ele era feliz ao lado de Nina, sua dona (dublada pela apresentadora do SBT, Maísa Silva), do pai dela e do rabugento cão Dos. Mas um incidente que o deixou descontrolado fez com que ele fosse capturado e levado de seu lar. Determinado a voltar para sua família, Ferdinando se une a uma equipe desajustada e muito divertida na maior de suas aventuras pela Espanha. 

Mais que uma simples animação, "O Touro Ferdinando" ensina que é possível ser diferente e que não se deve julgar ninguém pela aparência. A animação apresenta personagens belos, vistosos e cheios de si, como o cavalo Hans (na voz de Otaviano Costa), que não se preocupa com ninguém, apenas com sua aparência. E outros não tão belos, mas que são fiéis e incapazes de deixar um amigo para trás, fosse ele uma velha cabra desmiolada, como Lupe (dublada pela ótima Thalita Carauta) ou um touro que tem medo de tudo. 

Ferdinando é a força do grupo, porque acredita em cada um e quer que todos sejam livres e felizes como ele, longe das arenas e dos abatedouros. E será uma inspiração para todos que passarem por sua vida. O filme é uma linda lição para todas as idades, muito bem adaptado do livro infantil "A História de Ferdinando", escrito por Munro Leaf e ilustrado por Robert Lawson. A mesma história, que garantiu aos Estudios Disney um Oscar como Melhor Curta em 1938. A nova versão não ficou atrás e foi indicada em várias premiações na categoria, inclusive ao Oscar de Melhor Filme de Animação de 2018. 

"O Touro Ferdinando" diverte, emociona e faz as crianças chorarem e também torcerem por ele, como assisti na sessão. Elas se tornam suas aliadas e de seus amigos, com direito a aplauso e gritinhos de felicidade. Duas cenas são muito divertidas e já valem o filme: a da loja de louças e cristais (chega a dar aflição) e a disputa de dança entre os animais da fazenda. Vale a pena levar a meninada a partir de cinco anos.



Ficha técnica:
Direção: Carlos Saldanha
Produção: Blue Sky Studios / 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h49min
Gêneros: Animação / Comédia / Aventura
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

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11 janeiro 2018

"Lou" tem um roteiro aquém da personagem que ele retrata

Katharina Lorenz interpreta Lou Andreas-Salomé no período de 21 a 50 anos de sua vida (Fotos: Wild Bunch Germany /Divulgação)

Wallace Graciano


Filmes biográficos quase sempre conseguiram grande apelo junto ao público por levar uma faceta outrora não conhecida de um personagem. E esse era o mínimo que se esperava de “Lou”, película que retrata a vida da indomável Lou Andreas-Salomé, uma mulher à frente de seu tempo, que quebrou paradigmas ao buscar educação formal e galgar espaço entre os grandes intelectuais de seu tempo, como Paul Rée, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud. Porém, o que se vê durante boa parte das 1h53min de duração é a tentativa de embasar a obra em uma visão conservadora e convencional, que se distanciam da mente brilhante que encantou a todos nos séculos XIX e XX.

Releituras à parte, “Lou” traz a história de uma mulher russa, nascida em São Petersburgo, irmã de seis homens, e que cresceu em uma família tradicional da época. Já no final de sua vida, e vivendo no sombrio período em que a Alemanha Nazista se caminhava para a “Solução Final”, ela opta por contar suas memórias a um homem mais novo, que buscava seus ensinamentos para fugir de suas chagas. A partir desse momento, ela detalha toda sua construção intelectual, desde quando era uma adolescente ávida por aprendizado, que conseguiu, na marra, aprender filosofia, teologia e literatura alemã, até sua passagem para a universidade de Zurique, a única a aceitar mulheres no período.

A partir desse momento, cria-se uma narrativa em que foca no seu distanciamento sexual, mesmo convivendo com homens apaixonados por ela, como Rée e Nietzsche. Apesar de no espaço de tempo ela conseguir quebrar diversos tabus, como o de uma mulher não poder ser dona de seu próprio pensamento, entende-se de forma demasiada pelas paixões e amizades da personagem, mostrando suas mudanças de ideologia e conceitos, quase sempre com o apelo sentimental como pano de fundo.

Num espectro que a personagem merecia uma abordagem mais ampla e menos arraigada ao conservadorismo, “Lou” é um filme mal construído, que tinha tudo para ser uma belíssima película. A personagem é fascinante. Sua obra e biografia, mais ainda. A estética do filme, maravilhosa – incluindo belíssimas transições quando a personagem busca suas memórias em cartões postais e fotos. Porém, isso tudo se esvai pelo roteiro mal elaborado. Um pecado.



Ficha técnica:
Direção, produção e roteiro: Cordula Kablitz- Post
Produção: Avanti Media Fiction / KGP Kranzelbinder / Gabriele Production / Tempest Film
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h53
Gêneros: Drama / Biografia / Histórico
País: Alemanha
Classificação: 16 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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