12 fevereiro 2018

"The Post - A Guerra Secreta" - Lembrar para não esquecer

Tom Hanks e Meryl Streep são os protagonistas deste drama que denuncia o jogo de interesses na Guerra do Vietnã (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Patrícia Cassese


Volta e meia, o universo das redações de jornais entra na mira dos estúdios de cinema pela participação efetiva desse dito "quarto poder" nos grandes acontecimentos da história recente. É fato: muitas vezes, sua participação se dá apenas no sentido de reportar o ocorrido - a cobertura de uma grande tragédia natural, por exemplo, como o tsunami de 2004. Em outras, porém, o papel da imprensa se amplia no sentido de tornar público o que, de outra forma, fatalmente ficaria circunscrito ao conhecimento de um círculo bem limitado de pessoas - e, neste espectro, entram os chamados segredos de estado, por exemplo.

"The Post - A Guerra Secreta", de Steven Spielberg, filme que está no páreo do Oscar - concorre a Melhor Atriz (Meryl Streep) e Melhor Filme - se debruça sobre um desses momentos nos quais o jornalismo assume o protagonismo ao revelar fatos que abalaram dois dos alicerces do mundo ocidental: a Casa Branca e o Pentágono. Em cena, a publicação de documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã, que elevaram o "The Washington Post" ao panteão dos jornais mais influentes (e lidos), deliberada após uma série de discussões entre a proprietária do veículo, Kay Graham (Meryl Streep), e seu editor, Ben Bradlee (Tom Hanks).

Recuemos a 1971. Em meio ao conflito que se desenrolava no sudeste asiático, e que, num escopo mais amplo, reverberava ali, naquele pedaço do mapa, a Guerra Fria, um dos maiores jornais norte-americanos, o "New York Times", recebe (de um ex-colaborador do governo, Daniel Ellsberg, interpretado por Matthew Rhys) os chamados "Documentos do Pentágono". Os papéis deflagravam a verdade sobre a não necessidade do conflito, que se estendeu até 1975, tolhendo a vida de milhares de soldados de ambos os lados (no caso dos americanos, 58 mil) e provocando uma derrama de dinheiro público. O jornal, claro, deu início à publicação desse material explosivo, até que veio o recado, de certa forma edulcorado, sob a alegação de a segurança nacional estar em risco: o governo de Richard Nixon não iria tolerar que o restante do material fosse veiculado.

Ocorre que o incipiente "The Washington Post" também tinha esse material "nitroglicerina pura" em seu poder. E os documentos - encomendados por Robert McNamara (Bruce Greenwood), ex-secretário de Defesa dos EUA nos governos anteriores, de John F. Kennedy e de Lyndon Johnson - haviam chegado a um momento emblemático do periódico, que, na luta pela ampliação de público, abria seu capital, disponibilizando ações no mercado. Não bastasse se Katharine "Kay" Graham, a publisher, já vivia aí a tormenta de ter assumido o controle do jornal após a morte súbita do marido, a situação ganha contornos mais complicados quando se flagra em meio à difícil decisão de publicar ou não o material (inclusive diante de possibilidade real de ser presa, assim como dos laços que mantinha com alguns dos envolvidos).

Como se trata de um fato histórico, o desenrolar desse imbróglio não é mistério para ninguém: o material foi publicado e o "Washington Post" alçado a outro patamar. À imprensa, o diretor Steven Spielberg declarou que se viu impelido a passar esse projeto a frente de outros, dada a inquietação que o acomete, referente aos rumos que o atual governo de seu país vem tomando - está aí a troca de provocações com a Coreia do Norte que não nos deixa mentir. Pontuou, ainda, a honra de ter pela primeira vez, sob sua batuta, esses dois ícones do cinema dividindo o set - sim, qualquer cinéfilo que se preze sabe que ele dirigiu Hanks em "Ponte dos Espiões" (2015) e, com Meryl, estabeleceu colaboração em "A.I. Inteligência Artificial". Mas até então, os três não tinham dividido o set.

O filme tem fortes pilares. O primeiro, claro, o elenco e o diretor, já apontados. E sim, em um momento em que o protagonismo feminino é palavra de ordem, ver a personagem avant la lettre Kay Graham lutando para conciliar o lado mãe e avó com a recente viuvez e a dificuldade em se impor num ambiente então ainda predominantemente masculino é outro aspecto que certamente vai provocar empatia no público.

Mas o grande trunfo da empreitada é recuperar o tempo em que os jornais eram a fonte de informação à qual a população devotava legitimidade - e o poder público, justificado temor. Uma época de ouro que parece cada vez mais distante, diante da avalanche das novas mídias e na era das fake news. 
E se os acadêmicos do Oscar optaram por deixar de fora os nomes de Hanks e Spielberg na corrida para as estatuetas de ator e diretor, isso não diminui o mérito dessa empreitada que, de forma precisa (um pouco didática, talvez, mas válida), volve seu olhar sobre um episódio cujo paulatino distanciamento temporal não deve, jamais, minimizar o alerta que reside em seu bojo: guerras custam a vida de milhares de inocentes. E passam, para as páginas da história, como desnecessárias medidas advindas da ganância da indústria bélica aliadas à sanha pelo poder de insanos governantes. Os tais podres poderes aos quais Caetano Veloso se referia na música homônima.

Em tempo: palmas para Michel Stulbargh, ator que está presente em nada menos que três dos filmes do Oscar 2018: "The Post" (como Abe Rosenthal, editor-executivo do "The New York Times"), "Me Chame Pelo Seu Nome" (pai do personagem principal, Elio) e "A Forma da Água" (Robert Hoffstetler, o espião russo). "The Post - A Guerra Secreta" pode ser conferido nas salas das redes Cineart - Del Rey (5) e Ponteio Lar Shopping (3) - e Cinemark - Diamond Mall (4 e 5) e Pátio Savassi (1).



Ficha técnica:
Direção e produção: Steven Spielberg
Produção: DreamWorks Pictures / 20th Century Fox / Amblin Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Drama / Suspense
País: EUA
Classificação: 12 anos

Tags: #ThePostAGuerraSecreta, #ThePost, #StevenSpielberg, #TomHanks, #MerylStreep, #AmblinEntertainment #20thCenturyFox, #UniversalPictures, #drama, #suspense, #GuerradoVietna, #Oscar2018, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho

09 fevereiro 2018

Nostálgico e encantador: "Lady Bird – A Hora de Voar" tem tudo pra surpreender no Oscar

Diretora Greta Gerwig aposta na simplicidade e faz o expectador adulto se lembrar dos tempos de escola (Fotos:Universal Pictures/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Um filme que faz a gente ter saudades da adolescência. Esse é "“Lady Bird – A Hora de Voar". O filme conta a história da jovem Christine McPherson (Saiorse Ronan), uma estudante do último ano do ensino médio que mora em Sacramento, na Califórnia. Aos 17 anos, ela vive seus conflitos com a família, a escola, os amigos, namorados, e os planos para a vida adulta que batem à porta.

Christine é uma jovem rebelde, que se deu o nome de "Lady Bird". É como gosta de ser chamada. Ela não se dá bem com a mãe, Marion, (Laurie Metcalf) e não é por falta de amor. Elas se amam, só não se entendem. Algo comum em muitas famílias. E, como em muitos lares, a menina é a preferida do pai, Larry (Tracy Letts), com quem as coisas são bem diferentes. Com o irmão Miguel (Jordan Rodrigues), a mocinha também não bate muito.


O principal ponto de discordância na família é o futuro de Christine. A história se passa em 2002, uma época de crise nos Estados Unidos. A mãe faz dupla jornada num hospital para tentar compensar o fato de o marido estar desempregado. Isso tudo dificulta em muito o sonho da mocinha ir para a faculdade. Sem contar que ela não é das melhores alunas, o que também deixa longe a possibilidade de conseguir uma bolsa de estudos.

Pra deixar tudo ainda mais complicado, "Lady Bird" não gosta da cidade onde vive. Ela quer se mudar para uma metrópole. Tem também os conflitos com as novas amizades, o baile de formatura, os amores... Tudo muito americano, mas ao mesmo tempo muito cativante. Um filme muito bem feito, bem construído, despretensioso e ao mesmo tempo genial. A jovem diretora Greta Gerwig tinha tudo para apostar em alguns clichês para não correr riscos, mas optou pela simplicidade e pela originalidade. E o resultado foi ótimo!


Ver "Lady Bird" faz o expectador adulto se lembrar dos tempos de escola. A imaturidade, as descobertas, o primeiro cigarro, o primeiro porre, a primeira transa, as brigas com os amigos, as decepções, os professores preferidos, a preguiça de estudar, as festinhas e tantas outras coisas. É uma barra pra quem tá crescendo. É um rito de passagem pra vida adulta. E quando já estamos grandes, meio que olhamos pra tudo isso com um ar de nostalgia. É o um filme que a gente vê com um meio sorriso no rosto, do início ao fim.

Oscar e outras premiações

Saiorse Ronan e Laurie Metcalf fazem atuações brilhantes. Ambas foram indicadas para os prêmios de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente. Saiorse já havia sido indicada em 2016, pelo papel no ótimo filme "Brooklin". Ela parece estar cada dia melhor e faz agora, em "Lady Bird", o melhor trabalho de sua carreira. Concorre com ninguém menos que a gigante Meryl Streep ("The Post – A Guerra Secreta"). Mas, Saiorse tem tudo pra vencer e se levar, o prêmio estará em boas mãos.

"Lady Bird" também concorre nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. São cinco indicações no total, nas principais e mais importantes categorias do Oscar. O longa recebeu 76 prêmios, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical e Melhor Atriz Coadjuvante Comédia ou Musical. Outra curiosidade: o ator franco-americano Timothée Chalamet está presente em outro candidato ao Oscar, o belo "Me Chame Pelo Seu Nome".



Ficha técnica:
Direção: Greta Gerwig
Produção: IAC Films
Distribuição: Universal Pictures Brasil
Duração: 1h34
Gêneros: Drama / Comédia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5,0 (0 a 5)

Tags: #LadyBirdAHoradeVoar, #LadyBird, @GretaGerwig, @SaoirseRonan, @LaurieMetcalf, #drama, #comedia, @UniversalPicturesBrasil, @cinemas.cineart, @cinemanoescurinho