20 fevereiro 2018

Daniel Day-Lewis se despede com "Trama Fantasma", um de seus melhores papéis

Drama aborda a conturbada relação entre o costureiro Reynolds Woodcock e Alma, uma garçonete que se tornou sua musa inspiradora (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Anunciado como seu último trabalho no cinema, Daniel Day-Lewis entrega em "Trama Fantasma" ("Phantom Thread") uma interpretação impecável do excêntrico costureiro Reynolds Woodcock, um homem que se inspirava nas mulheres com quem se relacionava sem compromisso, mas que não conseguia dar um passo sem a aprovação da irmã.

Daniel Day-Lewis passeia com competência pelos dois perfis de seu personagem - o renomado e confiante Woodcock, costureiro da realeza e da elite britânica, e o fraco e carente Reynolds, dependente e controlado pelas duas mulheres que ama na vida. Por este papel, ele é um dos fortes candidatos ao Oscar 2018 como Melhor Ator.

Lesley Manville, como a irmã Cyril, e Vicky Krieps, como a garçonete Alma, que se torna a mais nova musa inspiradora e amante do costureiro, são a perfeita combinação para compor o triângulo na vida de Woodcock e ajudar a dar mais brilho ao personagem de Daniel Day-Lewis. Lesley Manville está na disputa da estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante. Muito justa a indicação.

O figurino de "Trama Fantasma" também concorre à maior premiação do cinema nesta categoria. A reconstituição de época - a história se passa na década de 1950 - com os figurinos deslumbrantes, principalmente as criações do estilista para Alma desfilar com ele pela sociedade, é um dos pontos positivos da elegante produção.

No drama, Reynolds Woodcock é um homem carente, ciumento, egocêntrico e perfeccionista, cercado por funcionários e bajuladores, que é controlado até em suas relações amorosas pela irmã Cyril sua aliada na Maison. Ele nunca se prende a nenhuma mulher, até conhecer Alma, uma garçonete simples que irá se tornar sua amante e musa inspiradora. 

Apesar de parecer frágil, ela fará uma revolução na vida de Woodcock e será capaz de tudo para manter o controle sobre seu grande amor.

O roteiro de Paul Thomas Anderson, também diretor e produtor de "Trama Fantasma", é muito bom, conduz a um labirinto de emoções do personagem principal. O elenco cumpre muito bem seu papel, ancorado pela bela trilha sonora instrumental de piano de Jonny Greenwood. Mas do meio em diante a história se torna cansativa, arrastada. São 2h11 que parecem 4 horas. O final, apesar de não surpreender, agrada, mas dificilmente vai superar os dois mais cotados - "A Forma da Água" e "Três Anúncios Para um Crime".



Ficha técnica:
Direção, produção e roteiro: Paul Thomas Anderson
Produção: Annapurna Pictures / Focus Features
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
Duração: 2h11
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #TramaFantasma, #PhantomThread, #DanielDayLewis, #LesleyManville, #VickyKrieps, #PaulThomasAnderson,  #drama, #UniversalPicturesdoBrasil, #cinemas.cineart, #espaçoZ, #CinemanoEscurinho

18 fevereiro 2018

"A Forma da Água" - uma fábula de fantasia para um duro contexto de realidade

Sally Hawkins entrega um excelente trabalho como a funcionária muda que se apaixona pelo ser aquático preso no laboratório (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Wallace Graciano


O cinema sempre teve como grande atributo apontar ao público o “elefante branco na sala”. Pelo fantástico, há uma transgressão às regras preestabelecidas e se aponta determinadas feridas em camadas que aos poucos são reveladas. O diretor Guillermo Del Toro é um dos que melhor sabem conduzir esse tipo de narrativa, como mostrou em “Labirinto do Fauno”, em 2006, ao subverter o gênero da fantasia para explorar determinados meandros, levemente inseridos na película. 



Uma década depois, com “A Forma da Água” ("The Shape of Water"), ele volta a apresentar uma fábula que expõe contextos políticos e sociais ao ridículo, com toques de fantasia que captam qualquer expectador. Não à toa, recebeu 13 indicações ao Oscar e talvez tenha chegado àquela que pode ser sua obra-prima.


Assim como outrora, ele leva a fantasia para escapar do duro contexto da realidade. Desta vez, a ambientação se passa em um laboratório secreto norte-americano, em meados da década de 1960, no ápice da corrida espacial e da Guerra Fria. O ambiente rígido e paranoico começa a ganhar cor através de Eliza (Sally Hawkins), uma zeladora muda que trabalha no local. Certo dia, ela chega ao centro e se depara com um humanoide anfíbio. A partir desse momento, embriagada pelo sentimento em comum de solidão e de ser párea da sociedade, ela constrói uma relação intrínseca com aquele “monstro”.


Nesse momento, entra um parêntese ao belíssimo trabalho de condução de Del Toro, que conseguiu fazer uma conexão incomum entre realidade e fantasia, criando uma sinergia que dialoga em meio à atmosfera militar da película, de tons escuros com cores quentes escolhidos pela fotografia. A isso, soma-se o trabalho de maquiagem, que, como ele, já se caracterizou em suas últimas obras.

Em suma, “A Forma da Água” é uma belíssima fábula moderna, que conta com leveza um romance muito além do imaginário em um ambiente paranoico. Uma obra que justifica o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza como Melhor Filme.



Ficha técnica:
Direção: Guillermo Del Toro
Produção: 20th Century Fox / Fox Searchlight Pictures
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h03
Gêneros: Fantasia / Drama / Romance
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #AFormadaAgua, #GuillermoDelToro, #SallyHawkins, #OctaviaSpencer, #RichardJenkins, #MichaelStuhlbarg, #GuerraFria, #cinemas.cineart, #FoxFilmdoBrasil, #FoxSearchlightPictures, #cinemanoescurinho