13 março 2018

"Maria Madalena" - Uma mulher além de seu tempo no caminho de Jesus

Longa-metragem é protagonizado por Rooney Mara e Joaquin Phoenix, namorados na vida real (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Contar a história dos últimos dias de Jesus Cristo pela ótica daquela que o acompanhou durante a pregação, sua prisão e morte e foi a primeira testemunha de sua ressurreição - Maria Madalena. Este foi o grande desafio dos diretores Iain Canning e Emile Sherman, que a partir de escrituras encontradas em escavações arqueológicas, resolveram mostrar na produção "Maria Madalena" (Mary Magdalene") a trajetória da mais fiel das seguidoras de Cristo.

O filme apresenta uma visão feminina da vida e morte de Jesus, que contrasta om a maior parte das produções baseadas em fatos e personagens bíblicos exibidas no cinema.. A produção "Maria Madalena" é mais um reconhecimento da importância bíblica desta mulher, formalmente identificada pelo Vaticano, em 2016, como Apóstolo dos Apóstolos e primeira mensageira após a ressurreição de Cristo. Isso depois de ser chamada de prostituta pelo Papa Gregório no ano de 591, rótulo que perdura até hoje entre os religiosos mais fanáticos. A escolha de duas roteiristas - Helen Edmundson e Phillippa Goslett - foi essencial para atingir este objetivo.

Para interpretar esta grande mulher (e até possível companheira de Jesus Cristo, segunda algumas escrituras), foi escolhida a atriz Ronney Mara ("Lion, Uma Jornada Para Casa" - 2017), ótima no papel de uma mulher forte e determinada em seus desejos e objetivos e também misericordiosa e carismática quando se dirigia aos fiéis e enfermos para ajudar e pregar o evangelho. Tão determinada que sofreu com a incompreensão da família, a qual abandonou para viver entre os 12 apóstolos e se tornar uma das pregadoras de Jesus.

Segundo a atriz, "é preciso que as pessoas deixem de lado suas noções preconcebidas de religião, como ela teve de fazer, para encontrar o que havia de bonito nas palavras e ações de Jesus e entendê-lo não como uma figura religiosa, mas como homem, um curador". Talvez tenha sido isso que a ajudou a incorporar bem seu personagem.

E é o homem Jesus Cristo, que Joaquin Phoenix ("Homem Irracional" - 2015) apresenta ao público, com dúvidas, medos, olhares e atitudes que indicam que havia um "algo mais" entre ele e Maria Madalena. Preferência essa que despertou até mesmo ciúmes de Pedro (papel de Chiwetel Ejiofor, de "Olhos da Justiça" e "Perdido em Marte", ambos de 2015), considerado pela Igreja Católica o mais importante dos apóstolos. Phoenix interpreta um Jesus de poucas palavras e muitos ensinamentos, voz rouca, de imagem comum, sem beleza física mas carismático, ao contrário de muitos Cristos que já foram apresentados no cinema.

O diretor Garth Davis também apostou na mudança da imagem apóstolo Pedro ao escolher muito bem Chiwetel Ejiofor para o papel. O personagem também exibe suas fraquezas, entre elas, a inveja pela proximidade entre Maria Madalena e Jesus, a dúvida, o medo pelo incerto. Fechando o quarteto principal, destaque também para Tahar Rahim ("Samba" - 2015), como Judas Iscariotes, o apóstolo que depositou toda a sua fé no Cristo Salvador e que sofre por tê-lo traído.

"Maria Madalena" foca na vida da personagem que vivia com a família na cidade de Magdala. Mas não aceitava as imposições da época feitas às mulheres, como casar com um homem escolhido pelo pai e irmãos, ter muitos filhos, fazer o trabalho de pescadora e parteira e ser sempre a "escrava" do marido. Ela buscava paz para sua alma, tinha seus desejos e anseios, uma mulher avançada para seu tempo. Ao conhecer o profeta Jesus, chamado O Messias, decidiu seguir com ele e seus apóstolos, pregando o evangelho, inclusive após sua morte e ressurreição.

Um ótimo filme que emprega bem os recursos visuais, bela fotografia, figurino e locações, "Maria Madalena" merece ser visto, principalmente por sua abordagem mais direcionada à importância desta mulher, que a Igreja Católica tentou apagar por anos e só agora foi reconhecida, apesar de ser citada em alguns dos evangelhos do Novo Testamento e de ter seu próprio evangelho.

Não espere ver as tradicionais e longas cenas da paixão de Cristo. Da prisão à ressurreição tudo é mostrado de maneira muito rápida. Até porque, todo mundo sabe a história contada há séculos na Bíblia. O objetivo é mostrar a verdadeira Maria Madalena, apagar a imagem falsa de que se tratava de  uma prostituta e qual o seu papel na vida de Jesus Cristo e no Cristianismo.



Ficha técnica:
Direção: Garth Davis
Produção: Universal Pictures / Focus Features / See-Saw Films / Film4 / Transmissiom Films
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h10
Gêneros: Histórico / Drama / Biografia
País: Reino Unido
Classificação: 12 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

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08 março 2018

"Encantados", uma história de misticismo e beleza contada com o coração

A pajé Zeneida Lima é interpretada na adolescência pela atriz Carolina Oliveira no novo filme de Tizuka Yamasaki (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Difícil dizer o que é mais especial na nova produção de Tizuka Yamasaki - a fotografia, a beleza da Floresta Amazônica, o tom poético da narrativa, o enredo baseado numa história real ou tudo isso junto. "Encantados" é uma poesia de imagens, romance e magia que toca o coração e leva às lágrimas. É como se o verde da grande floresta corresse nas veias da pajé Zeneida Lima, autora do livro "O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó" e que também participa da produção.

"Encantados" é o 12º longa-metragem da carreira de Tizuka Yamasaki e como em outras produções da diretora trata da força da mulher. E escolheu o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher para fazer sua estreia. Uma data mais que apropriada para apresentar a história real da pajé paraense Zeneida Lima, que enfrentou os pais e a sociedade para seguir seu dom espiritual e levar adiante seus ideais de defesa da natureza. Ela é a fundadora da Instituição Caruanas do Marajó Cultura e Ecologia, que oferece um programa educacional para atender crianças da periferia da região.

A verdadeira pajé Zeneida Lima
O cenário não poderia ser mais belo - a Floresta e o Rio Amazonas, com seus animais, plantas, a força da pororoca e, principalmente, os misticismo das histórias criadas pelos indígenas da região. A maior parte do filme é ilustrada desta forma e encanta o mais cético dos expectadores. Tizuka fez uma livre adaptação da história da pajé Zeneida, focando num momento de transição da menina para a adolescente, em que seus dons para curar com elementos da natureza se afloram em meio a um turbilhão de sentimentos e questionamentos característicos dessa fase da vida, além da descoberta do primeiro amor.

Interpretada com graça e competência pela jovem Carolina Oliveira, Zeneida é a mais velha de nove irmãos, que moram com a mãe Zezé (Letícia Sabatella) e com Cotinha (Dira Paes), uma cabocla, filha de criação da família, em Belém (PA). O pai dela e dos irmãos é o advogado Angelino (José Mayer), amante de Zezé, que manda toda a família para a fazenda dele na Ilha de Marajó, para que sua vida clandestina não prejudique a carreira política.

Zeneida parte de Belém a contragosto, mas é na ilha que a adolescente irá descobrir sua verdadeira vida. E se apaixonar por Antônio (Thiago Martins), um ser da natureza, um encantado, que somente a jovem enxerga e por isso é considerada louca por todos. Para ajudar a resolver seus conflitos e desenvolver suas habilidades de pajé, Zeneida vai contar com a orientação de mestre Mundico (Ângelo Antônio) e de Cotinha, a única na casa que a entende.

Prêmios

"Encantados" foi premiado na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como melhor filme brasileiro na categoria Festival da Juventude, em 2014, e abriu o Brazilian Film Festival of Miami, em 2016. Tizuka também conquistou o prêmio de melhor diretora no 31º Festival de Cinema de Trieste, na Itália, em 2016 pela harmonia da obra. Estes e todos os outros prêmios que venha a conquistar são muito merecidos. "Encantados" é lindo, envolvente e mágico, mas ao mesmo tempo forte como Zeneida e a fúria das águas do Amazonas. Vale a pena conferir.



Ficha técnica:
Direção: Tizuka Yamasaki
Produção: Globo Filmes / Scena Filmes
Distribuição: Riofilme
Duração: 1h18
Gêneros: Drama / Nacional / Biografia / Fantasia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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