21 março 2018

"A Livraria" - Para ser visto atento às metáforas

Drama é vencedor de três prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado (Fotos: A Contracorriente Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Houve quem encontrasse alguma semelhança entre "Chocolate" e "A Livraria". No primeiro, uma mãe solteira interpretada por Juliette Binoche enfrenta preconceitos e tenta conquistar uma pequena cidade da França com sua loja de chocolates. No segundo, uma jovem viúva, Florence Green, vivida por Emily Mortimer, luta contra uma espécie de elite econômica de Hardborough, no litoral da Inglaterra. Seu único pecado: abrir uma livraria na pacata vila onde todos sabem da vida de todos.

Dirigido e roteirizado por Isabel Coixet e vencedor de pelo menos três Prêmios Goya 2018 - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado - "A Livraria" tem como base o livro homônimo de Penelope Fitzgerald. E, como se parece com uma fábula, pode ser que, na literatura, a história se saia melhor do que no cinema.

O drama é lento, quase singelo, deixa algumas lacunas sem uma explicação plausível, mas tem lá seus encantos. Um deles é a atuação de Emily Mortimer, que imprime uma impressionante transparência às suas feições. A dúvida, a indignação, a ternura, a coragem, a raiva estão frequentemente claros no rosto da atriz por meio apenas de olhares e expressões.

É bom frisar também que "A Livraria" é um filme de muitos silêncios. Talvez resida aí o motivo de uma certa incompletude do longa, que deixa uma sensação de que faltou algo. Na pacata cidade litorânea de 1959, por algum motivo, a poderosa Violet Gamart (Patricia Clarkson), o advogado Mr. Thomton (Jorge Suquet) e outros figurões simplesmente não aceitam a abertura de um estabelecimento que comercializa livros e fazem tudo para impedir. Medo do conhecimento? Receio de perder o controle?

Mas, como tudo tem dois lados, o apoio à Florence vem de um misterioso Mr. Brundish, velho recluso e leitor contumaz - numa interpretação superelegante de Bill Nighy. Papel importante também é o de Honor Kneafsey, a menina Christine, ajudante da livraria, que se revela figura importante no decorrer da trama.

Os mais atentos vão poder encontrar símbolos e metáforas no filme, tanto em citações de autores e poetas quanto na simples e rápida exposição das capas de alguns livros famosos e icônicos como "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury - que também virou filme - e "Lolita", de Vladimir Nabokov. Vale a pena ficar atento. Classificação: 10 anos // Duração: 1h48



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19 março 2018

"Com Amor, Simon" e a difícil decisão de assumir a homossexualidade

Jovem vive um turbilhão de mudanças em sua vida quando decide assumir que é gay (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Simon Spier é um rapaz comum de 17 anos, querido pelos amigos, exemplo de filho mais velho, bom aluno e... gay. Mesmo assumindo para si próprio sua homossexualidade, o jovem ainda não sabe como contar sua opção aos amigos e à família, que veem nele um modelo heterossexual. A situação se agrava quando ele conhece pela internet outro jovem da mesma escola que também é gay mas prefere se manter no anonimato com medo da discriminação. Esta é a história de "Com Amor, Simon" ("Love, Simon"), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira.

Com um elenco conhecido de jovens atores, o destaque fica para a ótima interpretação de Nick Robinson ("Tudo e Todas as Coisas" - 2017 e "A 5ª Onda" - 2016), que dá a sensibilidade e o tom certo para o jovem Simon. Também chama a atenção Katherine Langford (da série de TV "13 Reasons Why" - 2017) como Leah Burke, sua melhor amiga.

"Com Amor, Simon" apresenta um tema já abordado em outras produções que não ampliaram a discussão de forma a atingir a família, a escola e a comunidade em geral, especialmente de uma cidade do interior dos EUA arraigada a costumes e preconceitos. Um ponto que o diretor Greg Berlanti soube desenvolver bem o assunto, apresentando o que muda na vida de Simon a partir da revelação, como as pessoas se comportam ao tomarem conhecimento do fato e o que representa para o jovem ter que lidar com o medo de ser exposto para todos antes que esteja preparado para se assumir. 

A pressão por uma namorada, o pai sempre imaginando que ele esta "pegando" alguma colega de escola, os amigos que ele acredita que não desconfiam de sua opção sexual. E pior: estar apaixonado por Blue, um internauta da escola que ele precisa descobrir quem é.

Confesso que a presença de Katherine Langford me fez pensar em vários momentos que "Com Amor, Simon" pudesse ter o desfecho de "13 Reasons Why", já que o jovem, mesmo tendo assumido para si próprio, temia que seu segredo fosse revelado antes da hora. Mas à medida que a comédia romântica vai se desenrolando, ela indica que é possível tratar de um assunto sério como a homossexualidade juvenil de forma leve e esclarecedora.

Destaque para as atuações de Jennifer Garner e Josh Duhamel como os pais de Simon, que formam o modelo de casal perfeito e bons pais. Também a turma de amigos de Simon têm boa interpretação e não deixa que o roteiro caia numa discussão lenta, chata e preconceituosa, como alguns filmes do gênero, que se preocupam mais em mostrar as festinhas e o bullying dos alunos no High Scholl do que tentar quebrar padrões antiquados.

"Com Amor Simon" brilhou na abordagem e entrega uma ótima história, leve mas séria, que foi adaptada do livro "Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens", da escritora Becky Albertalli. Um filme que deverá agradar jovens e famílias e talvez ajude  muitos deles a se assumirem, sem culpa ou medo de ser feliz.



Ficha técnica:
Direção: Greg Berlanti
Produção: 20th Century Fox / Fox 2000 Pictures
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h49
Gêneros: Drama / Comédia / Romance
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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