19 junho 2018

"Jurassic World - Reino Ameaçado" perde a conexão com "Parque dos Dinossauros"

Chris Pratt e Bryce Dallas Howard se unem a Daniella Pineda e Justice Smith para tentarem salvar os dinossauros da extinção (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Matheus Ciolete



Para quem, assim como eu, cresceu na década de 90 e estava considerando "Jurassic World" uma oportunidade nostálgica de reconexão com o mundo daquele ótimo "Parque dos Dinossauros" (1997), como chamávamos o filme nos corredores da escola, desconsidere. Abandone a hipótese de o longa, fique em casa, abra o baú, busque lá no fundo aquele álbum velho de figurinhas do chocolate Surpresa e gaste as duas horas e dez minutos de duração do filme passando folha por folha relembrando como eram bons aqueles tempos, longínquos, quase jurássicos, onde os filmes de dinossauros eram bons.


Todo o mundo jurássico criado pela “desextinção” dos dinossauros está ameaçado por um vulcão em iminente erupção. A ilha Nublar corre perigo e, portanto, é preciso resgatá-los. Para essa missão a mocinha Claire (Bryce Dallas Howard), ativista de uma sociedade que existe com o intuito de proteger os dinos, tem que retirar Owen (Chris Pratt) de uma espécie de autoexílio para ajudá-la na missão. Esta é a premissa de "Jurassic World: Reino Ameaçado", que estreia oficialmente nesta quinta-feira mas já está sendo exibido em dezenas de salas de BH.


Owen é o corajoso, herói sem medo do perigo, e com sede de aventuras, mas que tropeça às vezes por um excesso de vontade aliado a uma inanição intelectual. Claire é a mocinha piedosa, movida pelos mais sinceros sentimentos de amor e de preservação da espécie (jurássica, no caso). O restante da equipe do bem é formado por Franklin (Justice Smith), o nerd medroso e Zia Rodriguez (Daniella Pineda), uma mistura de Velma do Scooby-Doo com aluna de comunicação, embora nerd, é cool, tatuadinha, corajosa e se impõe no ambiente de trabalho.



E para o lado do mal vão: Eli Mills (Rafe Spall), o traidor ganancioso e Ken Wheatley (Ted Levine), um mercenário que, quem diria, participa de planos maquiavélicos por dinheiro. No meio desses personagens temos Maisie (Isabella Sermon), a neta de Lockwood. Uma personagem criança cuja missão seria desencadear a reflexão profunda sobre manipulação genética versus a ordem natural das coisas. O que não acontece.


É um filme de entretenimento, nos moldes clássicos, que faz de tudo para que o espectador esteja imerso na história, e nesse ponto o trabalho do diretor Juan Antonio García Bayona parece ter surtido algum efeito. Há algumas, raras, sequências que realmente funcionam, gerando certa ansiedade e, às vezes, dando sustos no público apesar do fraquíssimo roteiro. A valer, sequência digna de destaque mesmo, somente a primeira, em que um T-Rex vai se apresentando na tela em meio a raios, pouco antes de começar a perseguir um homem que estava na ilha.


Não há muito mais o que destacar, pois mesmo com o auxílio da tecnologia Imax 3D, que ajuda, e muito, no processo de penetração da audiência no mundo ficcional projetado na tela (tanto pela ilusão de proximidade com as cenas, quanto pela sofisticada dinâmica som-ambiente-imagem). Durante quase todo o filme, a relação de transparência entre espectador e a estória é comprometida pelo irrealismo dos efeitos especiais que têm seu ponto crítico na ligação dos dinossauros com a lei da gravidade, ou melhor, a falta de ligação. Isso incomoda o espectador mais atento e se torna obstáculo para que a conexão aconteça.



Esta opacidade, em oposição à transparência pretendida, se torna um problema ainda maior por se tratar de um filme inserido na tradição clássica do cinema norte-americano, o modo dominante no cinema mundial. Esses filmes se perpetuaram pela predominância de uma espécie de cinema com características bem definidas, fáceis de identificar: narrativa linear, núcleo central definido por um personagem principal ou um casal, coerência e verossimilança dos fatos. Tudo convergindo para o fácil entendimento do público da história que está sendo contada.



Justamente por apostar num cinema já consagrado, com fórmula definida, "Jurassic World: Reino Ameaçado" não poderia pecar onde peca. Não bastasse o problema com a computação gráfica, erra também em aspectos básicos. Como quando Owen, momentos depois de ter sido sedado instantaneamente, aparece em pleno auge da eficiência física, senhor de todas as suas funções motoras, correndo de um bando de dinossauros, numa das muitas perseguições que ocorrem no filme.



Aliás, não é exagero dizer que toda a ação em "Jurassic World: Reino Ameaçado" se resume em alguém fugindo de alguém ou de algo (um dinossauro), da forma mais literal possível. Todas as sequências de ação propriamente ditas são montagens paralelas de um dinossauro perseguindo alguém em alternância com alguém fugindo do dinossauro. Ou seja, todo o drama é mecânico e está diretamente relacionado com o tempo de locomoção dos envolvidos. Basear o drama psicológico da produção em um pega-pega entre dinossauros e humanos seria cômico se não fosse trágico, na verdade, é trágico e simultaneamente risível.




Ficha técnica:
Direção: Juan Antonio Bayona
Produção: Universal Pictures / Amblin Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h10
Gêneros: Aventura / Ficção científica / Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos

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16 junho 2018

"A Morte de Stalin" humor negro e ácido de um período sangrento da Rússia

A morte do ditador russo gera uma disputa acirrada pela sua sucessão no comando da poderosa União Soviética (Fotos: Nicola Dove/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. "A Morte de Stalin" é uma comédia escancarada, quase uma chanchada. Ao escolher esse caminho para falar de política e de políticos, o diretor e roteirista Armando Iannucci não deixa pedra sobre pedra e não tem piedade dos poderosos. Após a morte inesperada do ditador Joseph Stalin - muitos o colocam bem posicionado no ranking dos homens mais cruéis da história mundial - um grupo do Partido Comunista quase se engalfinha na disputa pela sua sucessão.

Nesse sentido, ficam claras a falta de regras objetivas e a fome de poder dos homens do alto escalão, entre eles Beria (Simon Russell Beale), Malenkov (Jeffrey Tambor), Molotov (Michael Palin) e Nikita Khrushchev (papel de Steve Buscemi), que acabou ficando com o trono. Nos muitos encontros e reuniões dos seis membros do comitê, o que se vê são indecisões, fofocas, alianças e negociatas.

Na verdade, Josef Stalin, interpretado por Adrian McLoughlin, aparece pouco. Após sua morte, contada de forma hilária, quase com humor negro, toda a acidez do roteiro se volta para a luta dos membros do partido. A entrada em cena dos dois jovens filhos do ditador, Vasily (Rupert Friend) e Svetlana (Andrea Riseborough), ambos de lucidez duvidosa, é um capítulo à parte no filme. Agem como rebeldes sem causa e não se interessam o mínimo pelo sofrimento do povo. O exagero das interpretações ajuda a ridicularizar o momento.

Pode ser que alguns não gostem da forma que Iannucci escolheu para falar de um período tão sangrento e triste da uma história relativamente recente. Afinal, Stalin morreu em 1953. Mas a verdade é que a comédia, aquela que tem sarcasmo e traz o riso nervoso, pode ter seu valor artístico, além de ser produtiva e útil. E leva à reflexão. Principalmente quando o tema, embora histórico, seja tão atual: "Farinha pouca, meu pirão primeiro". A produção está em exibição na sala 1 do Belas, com sessões às 16h40 e 21h30.
Duração: 1h48
Classificação: 16 anos



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