28 agosto 2018

Javier Bardem e Penélope Cruz brilham em "Escobar - A Traição"

Filme é adaptação do livro escrito por Virginia Vallejo, amante do narcotraficante na década de 1980 (Fotos: Califórnia Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


A história de Pablo Escobar já foi contada e recontada inúmeras vezes, nos mais diversos idiomas, cada versão sob um ponto de vista. "Escobar - A Traição" ("Loving, Pablo") é mais uma delas. Adaptado da obra literária "Amando a Pablo, Odiando a Escobar", a escritora e apresentadora de TV Virginia Vallejo narra seu período como amante do narcotraficante colombiano que comandou o Cartel de Medelín nos anos de 1980.

Claro que Virgínia alivia sua imagem, como alguém que sabia de onde vinha toda a fortuna de Escobar, tirou proveito disso, mas seria uma pessoa inocente em meio a toda a violência do mundo do tráfico de drogas. E Penélope Cruz está excelente (e lindíssima) no papel de Virginia Vallejo, a amante cara e elegante, odiada pela esposa e considerada um perigo pelos parceiros do traficante.

Javier Bardem, claro, entrega uma ótima interpretação, como na maioria de seus trabalhos, assumindo de corpo, alma e aparência o personagem Pablo Escobar. Um homem com olhar frio e ameaçador, temido até mesmo por outros líderes do tráfico, mas que tinha na família seu ponto fraco. O ator assimilou as características do famoso traficante: engordou, ganhou um cabelo emplastado e deixou temporariamente de lado a beleza e o charme que fazem tanto sucesso com o público feminino.

No entanto, o roteiro desta produção espanhola, que tem Bardem como um dos produtores, não expande muito na história de Escobar. Uma falha que compromete um pouco o filme e não aproveita mais o talento das duas grandes estrelas. Apesar das mais de duas horas de duração, ele passou superficialmente por alguns pontos importantes, até mesmo no romance entre Pablo e Virgínia. O personagem de Bardem somente aparece mais quando não contracena como o de Cruz.

A traição citada no título ficou mal explicada e as cenas apenas deixam a entender que Virgínia teria entregado Escobar para os agentes federais dos EUA, mas não contam como isso aconteceu. Vou ter de ler o livro para saber, se é que ele conta. Também alguns fatos mais marcantes da trajetória do narcotraficante, especialmente as mortes encomendadas, foram só pincelados.

"Escobar - A Traição" é um filme feito sob a ótica de Vallejo, que apresentou um homem poderoso preocupado com os mais pobres e idolatrado por eles. Se elegeu como deputado prometendo casas e armas, quando na verdade estava apenas evitando ser extraditado para os EUA onde seria julgado por seus crimes. Os jovens carentes que ele dizia ajudar eram transformados em sicários (assassinos do tráfico).

Virginia Vallejo sabia dos crimes, mas segundo a obra, teria se separado do amante somente quando estes começaram a afetar sua carreira e ela passou a temê-lo. Ou seja, era uma apresentadora de TV famosa, se uniu a um chefão do tráfico poderoso, ganhou joias, roupas caras e muito luxo, era respeitada como "segunda dama" e fingia que nada daquilo era com ela. Quando a corda apertou, mudou de lado. E sempre insistiu que amava Pablo, mas odiava Escobar. 

Se o expectador quiser saber mais sobre a vida do narcotraficante mais temido da Colômbia vale conferir outros filmes como "Feito na América" (2017), com Tom Cruise, "Conexão Escobar" (2016), "Escobar: Paraíso Perdido" (2014), além da famosa série da Netflix, "Narcos" (2016/2017), com o ator brasileiro Wagner Moura no papel de Escobar

"Escobar - A Traição" tem também tem boa fotografia e trilha sonora que agrada, belo figurino, em especial o de Penélope Cruz, e a reconstituição de época foi bem feita. Mas o forte mesmo é a dupla principal, que tem no elenco de apoio o ótimo Peter Sarsgaard, como o agente Shepard, do DEA, e o ator espanhol Óscar Jaenada, que faz o papel de Santoro, braço direito do narcotraficante. Trata-se de um filme que vale a pena ser visto, principalmente pela atuação do casal principal.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Fernando León de Aranoa
Produção: Millennium Films / DNP Productions / Pinguin Films
Distribuição: Califórnia Filmes
Duração: 2h03
Gêneros: Drama / Biografia
País: Espanha
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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23 agosto 2018

Com roteiro fraco, "Slender Man - Pesadelo Sem Rosto" é pouco assustador e previsível

Quatro amigas invocam uma criatura sobrenatural e passam a ser perseguidas por ela (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Muitos sustos e clichês, algum suspense, mas "Slender Man - Pesadelo Sem Rosto" entrega menos do que prometia para a criatura sobrenatural mais temida da Web e que já estampou vários videogames. O filme é capaz de deixar o espectador inquieto na cadeira em algumas cenas em que Slender Man prende ou se aproxima das vítimas, com seus braços e mãos esticados que parecem galhos de árvores mortas. Assusta, mas não chega a ser aterrorizante como o palhaço Pennywise, de "It - A Coisa".

Com um roteiro fraco e história confusa, cheia de buracos, o filme é ambientado na maior parte do tempo em locais escuros ou com pouca luminosidade. Com certeza para dar destaque à figura da criatura. Isso ainda ajudado por clichês como o de estar dentro de casa, escutar um barulho estranho e sair percorrendo todos os cômodos sem acender uma lâmpada. Ou entrar numa mata fechada, à noite, sabendo que tem um monstro esperando para atacar.

As quatro jovens amigas que se invocam Slender Man têm seus dramas familiares ou existenciais e busca na "Invocação do Mal" online uma diversão para passar o tempo. Tentam também provar aos rapazes da escola que têm coragem de assistir o vídeo de Slender Man, acreditando que nada iria acontecer depois. Diga-se de passagem, ser possuído por imagens vindas da tela de um notebook é forçar demais a inteligência.

O diretor Sylvain White (em seu primeiro longa) poderia ter trabalhado melhor o terror, não ficando tão restrito aos poucos pesadelos assustadores e aparições do monstro sem rosto. Os desaparecimentos e mudanças de comportamentos das vítimas deixam o filme confuso, capenga. A produção também deixa a entender que Slender Man é como um vírus, semelhante aos espalhados pela internet. Com seus longos braços, ele envolve e seduz jovens e pessoas emocionalmente mais fracas que estão buscando um sentido para suas vidas.


Sem derramar uma gota de sangue, a criatura atrai suas vítimas usando um medo psicológico insuportável, como numa hipnose. Mas até esta abordagem fica superficial e, a partir da segunda metade do filme, a impressão é de que o diretor quer acabar logo com o sofrimento dele (e o nosso!).

Na história, as amigas Wren (Joey King), Hallie (Julia Goldani Telles), Chloe (Jaz Sinclair) e Katie (Annalise Basso) levam uma vida entediante no colégio. Quando ouvem falar num ser sobrenatural chamado Slender Man, decidem invocá-lo através de um vídeo na Internet. 


A brincadeira se transforma num perigo real quando todas começam a ter pesadelos e visões do homem se rosto, com vários braços, capaz de fazer as suas vítimas alucinarem. Um dia, Katie desaparece e, sem ajuda da polícia, as amigas decidem procurá-la e enfrentar a criatura e o pavor que ela provoca.


Para quem gosta muito de filmes de terror, vale uma conferida, mas alerto ser um dos mais fracos do gênero deste ano. A expectativa inicial de "Slender Man" de bons sustos, daqueles de pular na cadeira e roer as unhas se transforma em decepção com a criatura que adquire diversas formas ao longo da trama.



Ficha técnica:
Direção: Sylvain White
Produção: Mythology Entertainment
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h34
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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