05 setembro 2018

"As Herdeiras" aborda a agonia da elite e o amor entre duas mulheres maduras

Sem discursos, filme paraguaio é uma história sobre a decadência (Fotos: Imovision/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém espere ação ou estímulo em "As Herdeiras", filme paraguaio do diretor estreante Marcelo Martinessi. Lento e escuro, pode-se até dizer que o longa é discreto ao contar a vida de duas mulheres maduras, que estão juntas há décadas e que, devido à crise financeira, são obrigadas a vender pratarias, cristais, obras de arte e até móveis para sobreviver. Enfim, uma história sobre a decadência.

Chiquita e Chela vivem num casarão tão antigo quanto decaído e, de cara, o espectador descobre que o casal é formado por duas mulheres completamente diferentes uma da outra. Chiquita, interpretada por Margarida Irún, é atirada, alegre, extrovertida, gosta de festas e de encontros com as amigas. 

Chela é tímida, pacata, silenciosa, observadora, papel que caiu como uma luva para Ana Brun, pelo qual já recebeu pelo menos dois troféus: O Urso de Prata, em Berlim, e o Kikito, em Gramado, ambos como Melhor Atriz. Na verdade, o público enxerga pelos olhos de Chela, que vive se esgueirando, fala pouco, não se altera, olha por meio de frestas. Nada a abala, nem mesmo a prisão de Chiquita, que vai para a cadeia por causa de dívidas com o fisco.

Dizem que a maturidade está na moda. Se isso for verdade, Martinessi começou bem. Ao falar sobre a ruína da classe média alta de Assunção e abordar o relacionamento homoafetivo entre duas mulheres que beiram os 60, o diretor, em nenhum momento, é explícito. Pelo contrário. É com muita delicadeza, sutileza, sombras e olhares que o afeto - e até a sexualidade - são apenas sugeridos. Em certo momento, quando Chela conhece a exuberante Angy (Ana Ivanova), a sedução é sombreada, cheia de subterfúgios. 

Marcelo Martinessi tem falado, em entrevistas, que seu longa é uma metáfora da agonia da elite do Paraguai, em crise como quase todos os demais países da América Latina. Essa decadência - sem perder a elegância - fica clara em algumas cenas que mostram como as moradoras do casarão estão falidas, mas fazem questão de manter a empregada e o requinte da bandeja do café da manhã com os utensílios sofisticadamente arrumados. 

Mas não há nenhum discurso ou menção à desigualdade social. "As Herdeiras" é também uma história fundamentalmente feminina. Os homens são raros e secundários e apenas as mulheres têm alguma relevância. Mas, em momento algum, o tema feminismo é tocado. Tudo, absolutamente tudo no filme é delicadamente insinuado.
Classificação: 16 anos
Duração: 1h38



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02 setembro 2018

"Meu Ex É Um Espião", uma comédia despretensiosa que satiriza os filmes de espionagem

Mila Kunis e Kate McKinnon viajam pelo mundo nesta divertida trama (Fotos: Hopper Stone/Liosngate Entertainment)

Maristela Bretas


Três mulheres dão o tom de "Meu Ex É Um Espião" ("The Spy Who Dumped Me"), uma comédia que explora o poder feminino que na hora "H" decide tudo. As atrizes Mila Kunis e Kate McKinnon e a diretora e roteirista Susanna Fogel, entregam uma produção divertida, despretensiosa, que ironiza filmes de James Bond, "Missão Impossível" e outros de espionagem.

As atrizes com a diretora Susanna Fogel
O longa usa e abusa de ideias destas produções - como na abertura, semelhante às de "007" - substituindo o personagem pelas duas protagonistas. A atuação mais engraçada fica para McKinnon, apesar de Kunis estar bem no papel. O lado cômico da atriz poderia sido mais bem aproveitado. "Meu Ex É Um Espião" é uma mistura de "A Espiã Que Sabia de Menos" e "As Bem Armadas", com os homens colocados em segundo plano, apesar do título.

Drew (Justin Theroux) é um agente da CIA que terminou o relacionamento com Audrey (Mila Kunis). Mas ele é apenas o motivo para que sua ex-namorada e a amiga Morgan (Kate McKinnon) se tornem as principais peças de um jogo de espionagem. Perseguidas pelos inimigos dele, as duas acabam envolvidas numa trama internacional que vai percorrer a Europa.

"Meu Ex É Um Espião" é um empolgante e atraente roteiro turístico por belas capitais europeias, com locações em Viena, Londres, Paris e Amsterdam, onde acontecem grandes perseguições e muita ação. A trilha sonora complementa bem a história. O filme deixa a desejar em roteiro, bem simples, sem muita criatividade, mas que garante diversão ao expectador.

O elenco conta ainda com a participação de Gillian Anderson, mais conhecida como a agente do FBI, Dana Scully, da série de TV "Arquivo X". A atriz volta a interpretar uma agente secreta, desta vez da CIA e chefe de Drew. Mais uma mulher importante na história. Na ala masculina, além de Justin Theroux, destaque para a atuação de Sam Heughan, no papel do também espião Sebastian.

Não espere uma grande produção de espionagem. "Meu Ex É Um Espião" é um filme de entretenimento, sem grandes pretensões, que reforça o poder das mulheres tendo belas locações como pano de fundo. Vale conferir.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Susanna Fogel
Produção: Lionsgate Films/ Imagine Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h57
Gêneros: Comédia / Espionagem / Ação
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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