20 setembro 2018

"O Banquete", filme-cabeça sobre lavação de roupa suja da elite

Produção nacional dirigida por Daniela Thomas foi filmada em um único cenário praticamente (Fotos: Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Dá para arriscar, de cara, que "O Banquete", dirigido por Daniela Thomas, tem sim um parentesco com "O Banquete de Platão", obra escrita por volta dos 380 anos A.C. Na verdade, há referências claras à obra do filósofo, sendo a principal delas o tema, exaustivamente debatido nos dois jantares: o amor. Em ambos, os discursos sobre masculino/feminino/homossexualidade/androginia/completude são eloquentes. Mas, no caso do filme brasileiro, há ainda muita sedução, cantadas e - por que não dizer - sacanagens.

O filme começa com o jovem Ted (Chay Sued em atuação na medida) organizando uma bela e requintada mesa de jantar. Entre os arranjos, a câmera flagra uma flor carnívora devorando, com rapidez e agilidade, um pequeno e desavisado mosquito que pousou nela. Um indício claro de que, no banquete que aconteceria ali, pessoas e histórias poderiam ser sumariamente devoradas.

Aos poucos, o filme vai mostrando ao espectador que a finalidade originalmente dita para a festa - a comemoração de 10 anos de casamento do jornalista Mauro (Rodrigo Bolzan) e da atriz Bia Moraes (Mariana Lima) - é mera desculpa para uma homérica lavação de roupa suja. E dá-lhe confissões, traições, revelações, jogos, loucuras.

Em entrevistas, a diretora Daniela Thomas tem revelado pelo menos duas particularidades do seu filme. A primeira: o personagem Mauro, que passa a festa toda com medo de que a polícia chegue para prendê-lo, é baseado no jornalista e diretor da Folha de São Paulo, Otávio Frias Filho (recentemente falecido), que viveu situação semelhante quando, assim como Mauro, publicou uma carta aberta aos brasileiros revelando sua indignação com o então presidente Fernando Collor de Mello, no fim da década de 80.

Outra revelação de Daniela foi a dificuldade de filmar em um mesmo lugar fechado, um único cenário praticamente, o que fez valorizar o trabalho dos atores. Nesse caso, ela tem razão de sobra. As atuações, até pela proximidade e intimidade com a câmera, são extraordinárias.

Drica Morais está cínica e perversa como Nora, a dona da casa; Caco Ciocler dá um show como o marido sempre bêbado de Nora; Fabiana Gugli está muito convincente como a insegura Maria; Gustavo Machado dá seu recado como o cronista homossexual Luck; Georgette Fadel está ótima como a também homossexual Claudinha; Bruna Linzmeyer se revela como a stripper Cat Woman e Mariana Lima faz tudo certo como a diva do teatro Bia Moraes.

Enfim, "O Banquete" é um filme-cabeça, de discursos e citações, quase uma peça de teatro. Não é todo mundo que gosta de trabalhos assim, que podem soar herméticos e inacessíveis. Mesmo assim, vale. Não só pela interpretação dos ótimos atores, mas também para uma boa reflexão sobre a nossa elite dita intelectual, que vivencia uma verdadeira catarse enquanto brinda e se embriaga com um caríssimo vinho italiano. O filme está em cartaz no Belas 3 (sessões 16h e 21h40) e Net Cineart Ponteio nas salas 2 (14h20) e 3 (15h20 e 19h20).
Classificação: 14 anos
Duração: 1h44
Distribuição: Imovision



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18 setembro 2018

"O Predador" é refilmagem com bons efeitos visuais e elenco com pouco carisma

Produção apresenta um alienígena com o sorriso da morte mais assustador e novos dreads na cabeça (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas

Shane Black relembra os tempos de sargento Richard Hawkins, de "O Predador" (1987) e retoma a famosa franquia como roteirista e diretor desta nova versão do ser alienígena mais monstruoso do cinema. Se há 31 anos, ele lutou ao lado de Arnold Schwarzenegger (que fez o papel do major Alan Schaeffer) na caçada aos invasores do espaço, hoje Black coloca seu lado irônico para recontar a história que foi sucesso na época a sua maneira, utilizando inclusive o tema musical original.

Os fãs da franquia não devem gostar muito das mudanças. Mas uma coisa foi melhorada - o sorriso da morte da fera ficou mais assustador e com mais dreads na cabeça. Em "O Predador" ("The Predator"), que acaba de ser lançado nos cinemas, o ser alienígena tem DNA humano com a força e o corpo do antigo inimigo dos terráqueos.

Os efeitos visuais ficaram muito bons, mas o roteiro não corresponde ao esperado, prejudicando inclusive o elenco, que também não é muito carismático. Até mesmo Jacob Tremblay, o menino prodígio de "O Quarto de Jack" (2013) e "Extraordinário" (2017) foi transformado num clichê da criança que vai resolver tudo. Ele é um garoto com autismo, filho do herói Quinn McKenna, um ex-fuzileiro naval interpretado pelo fraco Boyd Holbrook ("Logan" - 2017).

Quinn McKenna é o típico mocinho que acha que vai matar com tiros de pistola um ser super forte e inteligente, que tem a capacidade de desaparecer. Se o personagem não conquista o público, acontece o contrário com o grupo de desajustados comandados por ele para combater o predador. Cinco ex-combatentes do exército, cada um com sua loucura, proporcionam as cenas e diálogos mais divertidos do filme. E também os questionamentos mais sérios, principalmente sobre quem é o verdadeiro inimigo e os verdadeiros assassinos.


Claro que o Predador é a estrela do filme, um personagem bem interessante, mas deixa o expectador menos tendo que seu antecessor da década de 8, que só queria caçar e matar com requintes de crueldade. Esse também separa corpos e tem prazer em ver muito sangue e fazer suas vítimas sofrerem. Mas não é nada comparado ao conterrâneo que vem à Terra caçá-lo, mais forte e brutal.

"O Predador" 2018 também tem em seu elenco a atriz Olivia Munn ("Oito Mulheres e Um Segredo" - 2017) como a cientista chamada para investigar o retorno dos predadores ao planeta.  Mal aproveitada, fica parecendo que o diretor escalou uma mulher para um papel de destaque no filme para não ser chamado de machista.

O novo filme começa com uma perseguição entre naves alienígenas que traz à Terra um novo predador. Ele acaba sendo capturado por humanos, mas um dos militares, Quinn McKenna, que estava em operação na área, rouba o capacete e bracelete do alienígena. A bióloga Casey Brackett (Olivia Munn) é chamada para examinar o ser recém-descoberto, mas ele consegue escapar do laboratório após uma matança geral. 

Ao tentar recapturá-lo, Casey encontra McKenna, que está em um ônibus com ex-militares com problemas. Juntos, eles buscam um meio de sobreviver e, ao mesmo tempo, proteger o Rory (Jacob Tremblay), filho de McKenna, que está com os artefatos alienígenas pegos pelo pai.

Mesmo com um ritmo frenético no início, diálogos divertidos e muita ação na metade da exibição e um final bem aquém do esperado, sem o mesmo impacto do primeiro filme, "O Predador" é um bom entretenimento. Vale a pipoca e o ingresso no cinema e praticamente revela uma possível continuação. Fica um alerta: a versão 3D é muito escura e atrapalha a visualização de algumas cenas. O 2D pode ser uma opção melhor.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Shane Black
Produção: 20th Century Fox / Dark Castle Entertainment
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h45
Gêneros: Ação / Ficção
País: EUA
Classificação: 18 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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