28 setembro 2018

"Sem data, sem assinatura", instigante filme iraniano sobre o peso das escolhas

Produção é vencedora de dois prêmios no Festival de Veneza - seção Horizontes: Melhor Diretor e Melhor Ator para Navid Mohammadzadeh (Fotos: Damned Distribuction)

Mirtes Helena Scalioni


Parece haver um tema comum e recorrente em filmes iranianos: a ideia de que um gesto, por menor e menos insignificante que pareça, pode mudar definitivamente a vida de alguém. O peso e a responsabilidade das escolhas são reflexões predominantes também no longa "Sem data, sem assinatura" ("Bedoune Tarikh, Bedoune Emza"), do diretor e roteirista Vahid Jalivand, vencedor de dois prêmios no Festival de Veneza - seção Horizontes: Melhor Diretor e Melhor Ator para Navid Mohammadzadeh. O longa é o representante do Irã para concorrer como Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019.

O roteiro é primoroso e a história é levada com maestria pelo diretor, que a cada virada, por menor que seja, pode estar mudando o desfecho e o destino dos personagens. O médico Kaveh Nariman (Amir Aghaei) atropela acidentalmente o motociclista Moosa (Navid Mohammadzadeh) que está com a mulher Leila (Zakieh Behbani) e dois filhos na moto, todos sem capacete. 

Kaveh desce do carro, acalma a família, conta que é médico e presta ali mesmo os primeiros socorros: examina as crianças e os adultos, pergunta por sintomas, procura fraturas e faz tudo para levar todos para um hospital próximo. O pai se recusa, mas aceita dinheiro do atropelador e promete ir ao hospital. Mas, para surpresa de Kaveh, sobe com a família na moto e toma direto o rumo de casa.

O espectador, que até aí não sabe nada sobre o trabalho do médico, só descobre algumas sequências depois que ele é um profissional do Judiciário e trabalha com autópsias, legistas, atestados, perícias. No dia seguinte, um dos corpos que chegam ao instituto é exatamente o do menino atropelado na noite anterior. Feitos os exames, fica atestado que a criança morrera por uma intoxicação alimentar, vítima de botulismo. E tudo estaria encerrado se o próprio Kaveh não duvidasse do resultado e saísse em busca da verdade, por mais que ela pudesse ser contra ele.

Eis aí a grande pegada de "Sem data, sem assinatura", que aos poucos vai deixando inquieto e até confuso o espectador, que também tem a oportunidade de conhecer mais sobre a família de Moosa e acompanhar a dor de todos pela perda do menino. O comportamento do médico, suas discussões e embates com sua colega de trabalho Sayen (Hediyeh Tehtani), e a inevitável estranheza que o mundo oriental ainda causa nos ocidentais vão embalando o público até o final - também surpreendente. Por tudo isso e muito mais, vale muito a pena ver.
Duração: 1h44
Classificação: 12 anos
Distribuição: Imovision


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27 setembro 2018

"10 Segundos Para Vencer" - drama emocionante de luta, determinação e amor

Interpretações impecáveis de Daniel Oliveira e Osmar Prado conquistam o público com filme sobre a vida do pugilista Eder Jofre (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Um filme com atuações excelentes, com boa ambientação de época e um emocionante drama de família que ajudou a formar um dos maiores boxeadores do país. Esta é a história de "10 Segundos Para Vencer", filme dirigido por José Alvarenga Jr. que tem no elenco principal os atores Daniel de Oliveira, no papel do pugilista brasileiro Eder Jofre, e Osmar Prado, numa interpretação inesquecível de José Aristides Jofre, mais conhecido como Kid Jofre, pai e implacável treinador do bicampeão mundial de boxe. Por seu papel, o ator conquistou merecidamente o Kikito de Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado deste ano.

Marcante e envolvente, o filme é uma biografia bem detalhada da vida do campeão nacional e mundial Eder Jofre, narrada desde a sua infância pobre no bairro do Peruche, em São Paulo (o que deixa a produção um pouco arrastada em alguns momentos). Com muitos sonhos e pouca comida no prato, Eder é o filho mais velho de uma família cuja única profissão de valor era a de pugilista. O pai, o argentino e ex-lutador de boxe Kid Jofre, com dez títulos pelo São Paulo Futebol Clube, era seu exemplo, mas também um homem que não aceitava a ideia de o filho ou qualquer um de seus discípulos "beijasse a lona".


Kid foi o responsável por Eder abandonar os sonhos de estudar desenho arquitetônico, de deixar mulher e filhos em segundo plano e, com punhos de ferro, fazer dele um campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos, na categoria peso-galo. O filme mostra como o inabalável pai controlava a família com rigor quase militar, dentro e fora do ringue.

Ricardo Gelli é Zumbanão, tio do lutador, primeiro grande astro do boxe brasileiro, mas bon vivant que não conseguiu seguir na carreira. Por sua interpretação, ele conquistou o prêmio de melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado. A mãe Argelina, interpretada por Sandra Corveloni, é uma pessoa submissa ao marido, mas sempre amorosa e presente na vida dos filhos. Dogalberto, o caçula, que tem no irmão mais velho seu ídolo, é vivido por Rafael Andrade Munhoz. O papel de Cida, esposa de Eder, foi entregue a Keli Freitas. 

O filme tem uma falha no roteiro: Lucrécia Maria e Mauro, os outros irmãos do pugilista mostrados numa cena rápida no início foram esquecidos nos restante do filme. Como se nunca tivessem existido. Nem cenas, nem citações por nenhum membro da família. Ponto negativo.

Daniel de Oliveira também está impecável, mostrando bom conhecimento e aprendizado dos golpes e do estilo de luta de Éder, que tinha no soco com a esquerda um de seus principais trunfos. O diretor José Alvarenga Jr. soube mesclar muito bem os vídeos originais das principais lutas e premiações do campeão do boxe com as do filme, ambas em preto e branco, como nas décadas de 50 e 60.

Eder Jofre (Reprodução SBT)
Conhecido como "Galinho de Ouro", por ter sido eleito o maior peso galo da história do boxe, Eder Jofre é considerado também um dos maiores boxeadores de todos os tempos. Nem a infância difícil conseguiu detê-lo e após uma aposentadoria de seis anos, voltou ao ringue e consagrou-se campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos na categoria peso pena, tornando-se um herói nacional do boxe. Atualmente com 82 anos, é portador de encefalopatia traumática crônica, doença que afeta a memória e as funções motoras, comum em atletas que sofrem pancadas repetidas na cabeça.

"10 Segundos Para Vencer" tem uma narrativa forte, principalmente nos diálogos entre Osmar Prado e Daniel de Oliveira. A dupla arrasa e proporciona as cenas mais emocionantes, capazes de levar o público às lágrimas. Uma cinebiografia imperdível que ressalta orgulho, determinação, respeito e, principalmente, amor entre pai e filho. Uma homenagem digna de um grande e respeitável campeão.



Ficha técnica:
Direção: José Alvarenga Jr. 
Produção: Globo Filmes / Tambellini Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 2 horas
Gêneros: Drama / Biografia
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Nota: 4,8 (0 a 5)

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