02 outubro 2018

Com ótimos sustos, "A Freira" faz conexão com "Invocação do Mal 2"

Taissa Farmiga é o destaque no quinto filme que apresenta a origem do demônio Valak (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas

(Texto reproduzido do site Cinema de Buteco)

Para muitos pode parecer apenas mais um dos filmes de terror da franquia que tem nos dois longas de "Invocação do Mal" e  em "Annabelle 2 - A Criação do Mal" (2017) seus melhores exemplos. Mas "A Freira" ("The Nun") não fica atrás de seus antecessores e entrega a produção esperada pelos fãs, provocando bons sustos e pulos na cadeira. O diretor Corin Hardy soube explorar bem os três personagens e fazer a conexão que esclarece como surgiu o primeiro grande trabalho de investigação paranormal do casal de demonologistas Lorraine e Ed Warren.

Para quem segue a franquia (e para quem ainda não mas gosta de um bom terror, eu aconselho seguir), "A Freira" é o início da linha cronológica de toda a história, mesmo tendo chegado depois dos outros quatro filmes. E não exige que seja assistido na ordem das exibições. A produção explica rapidamente no início e no fim a conexão com o casal e seu primeiro encontro com o demônio Valak, que incorpora a freira em "Invocação do Mal 2"(2016).

Algumas cenas de "A Freira" fogem do terror e entram no campo do absurdo, mas não tiram o mérito da produção, por mais sem sentido que possam ser. A história se passa em 1952 em um convento instalado num antigo e assustador castelo. Os cenários escuros e tenebrosos de seus corredores e catacumbas ajudam a criar a tensão que antecede os ataques da freira demoníaca. Cruzes também são viradas de cabeça para baixo, objetos arremessados contra os protagonistas, portas se fecham e figuras assombradas aparecem e somem do nada.

Só para relembrar, o primeiro e grande sucesso que abriu as portas das boas bilheterias da franquia foi "Invocação do Mal" (2013), seguido de "Annabelle" (2014), "Invocação do Mal 2" e "Annabelle 2 - A Criação do Mal". "A Freira" chega às telas oferecendo uma produção eficiente, com ótimas interpretações, em especial a de Taissa Farmiga, irmã de Vera Farmiga (que faz o papel de Lorraine Warren nas outras produções). O terror bem interpretado, pelo visto, está na veia da família.

Taissa é a noviça Irene que aguarda para ser ordenada freira. Ela é enviada pelo Vaticano à Romênia, em companhia do padre exorcista Burke (Demian Bichir) para desvendar o suicídio de uma freira que vivia, como as demais, na clausura de um convento. Eles são ajudados por Frenchie (Jonas Bloquet), um camponês que entregava mantimentos para as freiras e encontrou o corpo da vítima.

O que eles não contavam era enfrentar uma entidade muito poderosa - o demônio Valak que se apossou do corpo de uma freira (interpretada por Bonnie Aarons), capaz de causar terror dentro e fora do convento. A chegada dos dois religiosos e do rapaz transforma o local em um verdadeiro campo de batalha. O certo é que "A Freira" merece ser visto e ajuda a manter a atração do público pela milionária e uma das melhores franquias de terror dos últimos tempos, não importando os clichês (claro, eles tinham de existir, como bom filme de gênero). E já prepara os fãs para "Invocação do Mal 3", previsto para ser lançado em 2020.



Ficha técnica:
Direção: Corin Hardy
Produção: New Line Cinema / The Safran Company
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h36
Gêneros: Terror / Suspense
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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28 setembro 2018

"Sem data, sem assinatura", instigante filme iraniano sobre o peso das escolhas

Produção é vencedora de dois prêmios no Festival de Veneza - seção Horizontes: Melhor Diretor e Melhor Ator para Navid Mohammadzadeh (Fotos: Damned Distribuction)

Mirtes Helena Scalioni


Parece haver um tema comum e recorrente em filmes iranianos: a ideia de que um gesto, por menor e menos insignificante que pareça, pode mudar definitivamente a vida de alguém. O peso e a responsabilidade das escolhas são reflexões predominantes também no longa "Sem data, sem assinatura" ("Bedoune Tarikh, Bedoune Emza"), do diretor e roteirista Vahid Jalivand, vencedor de dois prêmios no Festival de Veneza - seção Horizontes: Melhor Diretor e Melhor Ator para Navid Mohammadzadeh. O longa é o representante do Irã para concorrer como Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019.

O roteiro é primoroso e a história é levada com maestria pelo diretor, que a cada virada, por menor que seja, pode estar mudando o desfecho e o destino dos personagens. O médico Kaveh Nariman (Amir Aghaei) atropela acidentalmente o motociclista Moosa (Navid Mohammadzadeh) que está com a mulher Leila (Zakieh Behbani) e dois filhos na moto, todos sem capacete. 

Kaveh desce do carro, acalma a família, conta que é médico e presta ali mesmo os primeiros socorros: examina as crianças e os adultos, pergunta por sintomas, procura fraturas e faz tudo para levar todos para um hospital próximo. O pai se recusa, mas aceita dinheiro do atropelador e promete ir ao hospital. Mas, para surpresa de Kaveh, sobe com a família na moto e toma direto o rumo de casa.

O espectador, que até aí não sabe nada sobre o trabalho do médico, só descobre algumas sequências depois que ele é um profissional do Judiciário e trabalha com autópsias, legistas, atestados, perícias. No dia seguinte, um dos corpos que chegam ao instituto é exatamente o do menino atropelado na noite anterior. Feitos os exames, fica atestado que a criança morrera por uma intoxicação alimentar, vítima de botulismo. E tudo estaria encerrado se o próprio Kaveh não duvidasse do resultado e saísse em busca da verdade, por mais que ela pudesse ser contra ele.

Eis aí a grande pegada de "Sem data, sem assinatura", que aos poucos vai deixando inquieto e até confuso o espectador, que também tem a oportunidade de conhecer mais sobre a família de Moosa e acompanhar a dor de todos pela perda do menino. O comportamento do médico, suas discussões e embates com sua colega de trabalho Sayen (Hediyeh Tehtani), e a inevitável estranheza que o mundo oriental ainda causa nos ocidentais vão embalando o público até o final - também surpreendente. Por tudo isso e muito mais, vale muito a pena ver.
Duração: 1h44
Classificação: 12 anos
Distribuição: Imovision


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