01 novembro 2018

"Bohemian Rhapsody" é homenagem para cantar e chorar com Freddie Mercury

Rami Malek interpreta o vocalista da banda Queen, que arrastou multidões pelo mundo por duas décadas (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Rami Malek é a personificação de Freddie Mercury e atrai para ele toda a força e magnetismo do vocalista da banda Queen na produção "Bohemian Rhapsody", dirigida por Bryan Singer, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Malek, que também está em cartaz em "Papillon" se entrega por inteiro ao personagem, quase uma reencarnação de uma das maiores vozes do rock, que arrastou multidões pelo mundo entre as décadas de 1970 e 1990 e tem seguidores fiéis até hoje.

Freddie Mercury e Rami Malek (Foto-Montagem)
Uma maravilhosa interpreta- ção, digna de disputar Oscar, que leva às lágrimas, em especial no final, durante a participação do Live Aid, o grande concerto para ajudar as vítimas da fome na Etiópia, em julho de 1985. Assim como Freddie Mercury foi a razão do sucesso da banda Queen, Malek é a alma do filme e presta uma grande homenagem ao vocalista, pianista e compositor que morreu aos 45 anos, vítima de uma pneumonia agravada pela Aids. 

Este drama biográfico não poderia ser completo sem a trilha sonora com grandes sucessos do Queen em seus mais de 20 anos de carreira. E a escolha do repertório foi impecável, mesmo sem colocar todas as composições - até porque seriam necessárias horas de filme para apresentar toda a discografia do grupo britânico. Emociona ver como algumas músicas foram compostas. É o caso de "Love of my Life" e a própria "Bohemian Rhapsody", que dá nome ao filme. Chega a arrepiar quando elas são tocadas.


E para que a biografia não fugisse muito da trajetória real do vocalista e do Queen, que acaba ficando em segundo plano mesmo assim, os ex-integrantes da banda - o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, além de Jim Beach (empresário do grupo desde 1970) - participaram da produção do filme juntamente com o diretor/produtor Bryan Singer e o ator/produtor Robert de Niro.

Além de Rami Malek, a escolha dos atores que interpretaram os demais integrantes do Queen também foi muito boa, em especial Gwilym Lee, que faz Bryan May, e Ben Hardy, como Roger Taylor. O mais fraquinho é Joseph Mazzello, como o baixista John Deacon, mas deu conta do recado. E cada um dos membros do Queen deixou sua marca nas composições da banda, como May ao criar "We Will Rock You", Deacon com "Another On Bites the Dust" e Taylor com "Radio Ga Ga", todas apresentadas no filme.


Mary Austin, a única mulher a quem Freddie Mercury amou na vida e com quem viveu por muitos anos antes de assumir seu homossexualismo, tem papel importante em toda a história. Para interpretá-la, apesar da pouca semelhança física, foi escolhida a atriz Lucy Boynton ("Assassinato no Expresso do Oriente" - 2017), que ficou muito bem no papel. O restante do elenco conta com Tom Hollander, no papel de Jim Beach (a quem Mercury chamava de Miami Beach), Aaron McCusker, como Jim Hutton, o companheiro de Mercury até o fim da vida, e Aidan Gillen, como John Reid, primeiro empresário da banda. 

"Bohemian Rhapsody" é uma grande homenagem a Freddie Mercury um artista completo, idolatrado e às vezes odiado por sua postura exótica, marcante, provocativa e perfeccionista. E apesar de ter uma voz capaz de comandar milhares de seguidores, tinha medo da solidão. 
Queen original (Reprodução)
Os atritos com o pai, a origem imigrante - nasceu na Tanzânia mas era chamado de paquistanês, - o envolvimento com as drogas e com vários homens que o levaram a contrair Aids e a separação do Queen são abordados no filme. 

A trajetória começa no Live Aid e volta no tempo, quando o jovem Farrokh Bulsara, nome de nascença trocado por Freddie Mercury quando começou a fazer sucesso. de carregador de malas do aeroporto ao fenômeno do rock, bastou o encontro com dois dos integrantes de uma banda de bar (o quarto - Deacon veio por último) para que as canções surgissem e ganhassem as rádios e TVs pelo mundo. "Bohemian Rhapsody" é uma imperdível homenagem ao vocalista que certamente vai encantar os fãs pelo mundo.



Ficha técnica:
Direção e produção: Bryan Singer
Produção: GK Films / 20th Century Fox / New Regency Pictures / Tribeca Productions
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h15
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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30 outubro 2018

"O Primeiro Homem": para (tentar) desvendar a alma de Neil Armstrong

A escolha de Ryan Gosling para o papel principal é um dos pontos altos do filme dirigido por Damien Chazelle (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


É claro que há cenas lindas da imensidão do espaço, o vazio e o infinito - tudo embalado por uma valsa empolgante capaz de provocar arrepios e fazer o espectador pensar no mistério da vida. Mas elas não são, nem de longe, o mote de "O Primeiro Homem" ("First Man"), filme de Damien Chazelle sobre a vida de Neil Armstrong, o astronauta norte-americano que, em 1969, pisou pela primeira vez na Lua depois de viajar na Apollo 11. 

Desta vez, a corrida espacial é apenas uma desculpa para falar de um jovem tímido, arredio e obstinado, pronto a pagar qualquer preço para cumprir o que parecia uma missão.

Mas, como falar da quase obsessão de um homem real, um pai de família como qualquer outro, se ele é calado, introspectivo e raramente deixa transparecer suas emoções? Eis aí o grande mérito do diretor, que acertou, pelo menos, três vezes: primeiro, ao escolher o talentoso Ryan Gosling, com quem trabalhou anteriormente em "La La Land" (2017), para o papel principal.

Segundo, por privilegiar closes do rosto e dos olhos do ator, permitindo que o espectador pelo menos tente desvendar o que vai na cabeça e na alma do astronauta. E terceiro, ao chamar Claire Foy (atriz premiada na série "The Crown") para o papel de Janet Shearon, mulher de Neil. É ela que humaniza a história e, de certa forma, faz o elo entre o espectador e Armstrong, dando alguns sinais do íntimo do marido, do que ele pensa e sente.

Atores e diretores falam sobre os obstáculos da produção


Damien Chazelle, que dividiu a função de produtor com Steven Spielberg, foi o diretor de "La La Land" e "Whiplash (2015)" - ambos também sobre personagens obstinados -, impõe ao público, em "O Primeiro Homem", torturantes sacolejos, posições e lugares claustrofóbicos como a solicitar sua participação e comprometimento. É como se dissesse: "Sintam como foi difícil ser astronauta e pioneiro em 1969".

Mesmo assistindo ao filme em projeções normais em 2D, há quem tenha saído do cinema com um pouco de enjoo no estômago, tamanha a turbulência das aeronaves - uma forma de mostrar como eram rudimentares as máquinas. E como corriam riscos os homens que se aventuravam naquele empreendimento incentivado a qualquer custo pelo governo norte-americano, preocupado unicamente em sair na frente da então União Soviética na corrida espacial. Possíveis mortes eram simples acidentes de trabalho.

Baseado no livro homônimo de James Hansen, "O Primeiro Homem" é diferente de outros filmes sobre o espaço, focados mais na aventura e nas conquistas. Principalmente porque deixa no espectador um certo incômodo que vai além das turbulências e das cenas barulhentas como se as naves fossem se desmanchar.

Seja em 2D ou nos modernos 3 e 4D, o que fica, no final, é a pergunta, a urgência de saber em nome de que - ou de quem - uma pessoa pode se embrenhar tanto num projeto tão cheio de sacrifícios, incertezas e perigos. No caso de Armstrong, é um mistério. Há quem acredite que ele queria conhecer a morte depois que perdeu sua filhinha de três anos.
Duração: 2h22
Classificação: 12 anos
Distribuição: Universal Pictures


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