05 novembro 2018

"Chacrinha" dá uma pincelada nos bastidores da vida do Velho Guerreiro

Stepan Nercessian brilha balançando a pança e comandando a massa no comando do cassino mais irreverente da TV brasileira (Fotos: Globo Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


"Roda, roda, roda e avisa, um minuto de comercial, alô, alô Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha". É isso mesmo, o Velho Guerreiro está de volta, agora na pele de seu melhor imitador, Stepan Nercessian, com todos os jargões que marcaram sua trajetória - "Vocês querem bacalhau?", "Quem não se comunica, se trumbica", "Na televisão nada se cria, tudo se copia" são lembrados até hoje pelo público acima de 40 anos. E é como uma pincelada na vida deste comunicador que estreia nesta quinta-feira nos cinemas "Chacrinha - O Velho Guerreiro".

O filme é dirigido por Andrucha Waddington, responsável também pelo ótimo "Sob Pressão" (2016), agora transformado em série de TV, que trouxe para as telas o espetáculo musical, sucesso no teatro e que consagrou Nercessian no papel de José Abelardo Barbosa, o Chacrinha. O ator está na lista dos preferidos do diretor, com quem já trabalhou em "Sob Pressão" (continuando na série), "Rio, Eu Te Amo" (2013), "Os Penetras" (2012) e "Os Penetras 2 - Quem Dá Mais" (2017). Ele incorporou o personagem e entrega uma excelente interpretação, como se estivesse homenageando um ídolo que marcou sua geração.

No papel de Chacrinha, rapaz cearense recém-chegado ao Rio de Janeiro, está Eduardo Sterblitch, que se saiu muito bem. A linda Gianne Albertoni interpreta Elke Maravilha (tão linda quanto em sua juventude), a eterna protegida de Chacrinha, a quem ele tratava como filha e era retribuído com o mesmo carinho, segundo o filme. Carla Ribas é Florinda, mulher de Chacrinha, que praticamente criou os três filhos sozinha, enquanto o marido só queria saber de trabalho. Rodrigo Pandolfo é Jorge, filho mais velho, e Pablo Sanábio faz os gêmeos Leleco e Nanato.

A atriz Laila Garin tem a responsabilidade de interpretar a inesquecível Clara Nunes, descoberta por Chacrinha e que depois se tornou amante dele durante um período. Isso é mostrado no filme como um "deslize" do Velho Guerreiro que teria sido perdoado por D. Florinda. Já a chacrete Rita Cadilac passou quase despercebida, com uma fraca interpretação de Karen Junqueira. Do jeito que a personagem foi tratada na trama era dispensável sua participação. Uma pena, pois foi a mais marcante de todas no programa da TV.

Do baterista improvisado de uma banda que tocava em cruzeiro marítimo a um dos maiores comunicadores do país, a história mostra que Chacrinha não era um santo: moralista, intransigente, cabeça dura que não aceitava conselho nem ordens, mas doce e carismático com quem lhe interessava. Só pensava na carreira e no programa, tinha amigos, mas era cruel quando queria descartá-los, como fez com Osvaldo, personagem interpretado por Gustavo Machado (quando jovem) e Antonio Grassi (aos 60 anos), que descobriu seu talento e o ajudou na carreira.

Abelardo Barbosa começou dividindo o tempo entre anúncios com megafone em porta de loja e locutor dono de voz e apresentação diferenciadas de uma pequena rádio de Teresópolis, no Rio. Passou pelas principais emissoras de rádio e TV nas décadas de 1950 a 1980, e graças ao gênio difícil, saiu de muitas delas brigado com os chefes, como aconteceu com José Bonifácio de Oliveira, o Boni (papel de Telmo Junqueira), da Rede Globo. , da Rede Globo.

Considerava a família importante, mas passava o mínimo de tempo com a mulher e mal viu os filhos crescerem. A pouca mudança no comportamento do já Velho Guerreiro aconteceu com a tragédia envolvendo Nanato, que foi casado com Wanderléa, outra das centenas de talentos descobertos e incentivados por ele em seu show de calouros, como Roberto Carlos, Wilson Simonal, Secos e Molhados e por aí vai.

A boa reconstituição de época é resultado da coprodução com a Globo Filmes e todo o acervo sobre o comunicador, que durante anos fez parte do quadro de atrações da emissora de TV do Grupo. O enredo peca ao abordar de forma bem superficial assuntos espinhosos da vida de Chacrinha, deixando algumas passagens de tempo confusas.

O filme tem uma boa condução, sem seguir regras como o personagem principal, que não aceitava ordens nem conselhos e não era o melhor dos exemplos. Mas para o público ele reinou único e absoluto, admirado inclusive pelos concorrentes, como Flávio Cavalcante (interpretado por Marcelo Serrado), apresentador da TV Tupi na época. "Chacrinha - O Velho Guerreiro" serve para relembrar bons tempos e conhecer algumas situações da vida do chefe do cassino mais irreverente e alegre cassino da TV brasileira, programa obrigatório nas noites de domingo e depois nas tardes de sábado, até 2 de julho de 1988, quando foi encerrado.


Ficha técnica:
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Conspiração Filmes / Globo Filmes / Media Bridge
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Gêneros: Ficção/ Drama /Biografia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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01 novembro 2018

"Bohemian Rhapsody" é homenagem para cantar e chorar com Freddie Mercury

Rami Malek interpreta o vocalista da banda Queen, que arrastou multidões pelo mundo por duas décadas (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Rami Malek é a personificação de Freddie Mercury e atrai para ele toda a força e magnetismo do vocalista da banda Queen na produção "Bohemian Rhapsody", dirigida por Bryan Singer, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. Malek, que também está em cartaz em "Papillon" se entrega por inteiro ao personagem, quase uma reencarnação de uma das maiores vozes do rock, que arrastou multidões pelo mundo entre as décadas de 1970 e 1990 e tem seguidores fiéis até hoje.

Freddie Mercury e Rami Malek (Foto-Montagem)
Uma maravilhosa interpreta- ção, digna de disputar Oscar, que leva às lágrimas, em especial no final, durante a participação do Live Aid, o grande concerto para ajudar as vítimas da fome na Etiópia, em julho de 1985. Assim como Freddie Mercury foi a razão do sucesso da banda Queen, Malek é a alma do filme e presta uma grande homenagem ao vocalista, pianista e compositor que morreu aos 45 anos, vítima de uma pneumonia agravada pela Aids. 

Este drama biográfico não poderia ser completo sem a trilha sonora com grandes sucessos do Queen em seus mais de 20 anos de carreira. E a escolha do repertório foi impecável, mesmo sem colocar todas as composições - até porque seriam necessárias horas de filme para apresentar toda a discografia do grupo britânico. Emociona ver como algumas músicas foram compostas. É o caso de "Love of my Life" e a própria "Bohemian Rhapsody", que dá nome ao filme. Chega a arrepiar quando elas são tocadas.


E para que a biografia não fugisse muito da trajetória real do vocalista e do Queen, que acaba ficando em segundo plano mesmo assim, os ex-integrantes da banda - o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, além de Jim Beach (empresário do grupo desde 1970) - participaram da produção do filme juntamente com o diretor/produtor Bryan Singer e o ator/produtor Robert de Niro.

Além de Rami Malek, a escolha dos atores que interpretaram os demais integrantes do Queen também foi muito boa, em especial Gwilym Lee, que faz Bryan May, e Ben Hardy, como Roger Taylor. O mais fraquinho é Joseph Mazzello, como o baixista John Deacon, mas deu conta do recado. E cada um dos membros do Queen deixou sua marca nas composições da banda, como May ao criar "We Will Rock You", Deacon com "Another On Bites the Dust" e Taylor com "Radio Ga Ga", todas apresentadas no filme.


Mary Austin, a única mulher a quem Freddie Mercury amou na vida e com quem viveu por muitos anos antes de assumir seu homossexualismo, tem papel importante em toda a história. Para interpretá-la, apesar da pouca semelhança física, foi escolhida a atriz Lucy Boynton ("Assassinato no Expresso do Oriente" - 2017), que ficou muito bem no papel. O restante do elenco conta com Tom Hollander, no papel de Jim Beach (a quem Mercury chamava de Miami Beach), Aaron McCusker, como Jim Hutton, o companheiro de Mercury até o fim da vida, e Aidan Gillen, como John Reid, primeiro empresário da banda. 

"Bohemian Rhapsody" é uma grande homenagem a Freddie Mercury um artista completo, idolatrado e às vezes odiado por sua postura exótica, marcante, provocativa e perfeccionista. E apesar de ter uma voz capaz de comandar milhares de seguidores, tinha medo da solidão. 
Queen original (Reprodução)
Os atritos com o pai, a origem imigrante - nasceu na Tanzânia mas era chamado de paquistanês, - o envolvimento com as drogas e com vários homens que o levaram a contrair Aids e a separação do Queen são abordados no filme. 

A trajetória começa no Live Aid e volta no tempo, quando o jovem Farrokh Bulsara, nome de nascença trocado por Freddie Mercury quando começou a fazer sucesso. de carregador de malas do aeroporto ao fenômeno do rock, bastou o encontro com dois dos integrantes de uma banda de bar (o quarto - Deacon veio por último) para que as canções surgissem e ganhassem as rádios e TVs pelo mundo. "Bohemian Rhapsody" é uma imperdível homenagem ao vocalista que certamente vai encantar os fãs pelo mundo.



Ficha técnica:
Direção e produção: Bryan Singer
Produção: GK Films / 20th Century Fox / New Regency Pictures / Tribeca Productions
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h15
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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