10 janeiro 2019

"Assunto de Família" mostra por que mereceu a Palma de Ouro em Cannes

Pequena obra-prima do cinema japonês é dirigida de maneira sutil e perfeita por Hirokasu Kore-eda (Fotos: Wild Bunch Distribution)

Mirtes Helena Scalioni


O que determina a formação de um grupo que possa ser chamado de família? Seriam os laços de sangue os imperativos formadores desse grupo? Que personagens, afinal, cabem e estão moralmente aptos a formar uma família? O debate, além de oportuno nesse Brasil de hoje, é o mote principal de "Assunto de Família" ("Manbiki Kazoku"), produção japonesa dirigida e roteirizada por Hirokasu Kore-eda que, segundo consta, tem esse tema como uma constante em sua obra. 

E foi com "Assunto de Família" que o diretor conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2018. O drama também foi indicado ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro do Globo de Ouro 2019 e é o representante do Japão no Oscar deste ano na mesma categoria.

Estranhamente, o filme começa com Osamu Shibata (Lily Franky) ensinando a um menino que parece ser seu filho a praticar pequenos furtos num mercado. Para o espectador, fica claro, logo no início, que o adolescente Shota (Jyo Kairi) tem grande admiração pelo pai/mestre quando os dois saem comemorando o sucesso do roubo, na verdade praticado devido a uma perfeita e bem orquestrada cumplicidade da dupla.

De volta para casa, enquanto caminham por bairros pobres de alguma cidade do Japão, eles se deparam com uma cena que, ao que parece, já conhecem: uma menina de uns três/quatro anos está abandonada, com frio e machucada na porta de casa. Sem muitos questionamentos, como se tudo fosse muito natural, eles levam a menina Yuri (Miyu Sasak) para casa deles com o objetivo de cuidar dela.

"Assunto de Família" surpreende mais ainda quando, ao chegar à casa que parece estar numa favela, os três são recebidos por um estranhíssimo grupo composto por uma senhora que todos chamam de avó (Kiki Kirin), duas mulheres adultas, que o público vai aos poucos identificando como Nobuyo Shibata (Sakura Andô) e Aki Shibata (Mayu Matsuoba).

E é também aos poucos, ao longo dos 120 minutos do filme, que o espectador descobre que aquela é uma família particularíssima, onde vivem numa harmonia possível, ladrões, prostitutas e trambiqueiros. O pequeno espaço, quase claustrofóbico, permite que os conluios e cumplicidades despertem e floresçam. Assim como os afetos.

Filmes sobre famílias costumam ser sempre ricos. Mas esse é particularmente rico porque tem um roteiro hábil. E o diretor, sem nenhum julgamento moral, envolve o público numa trama que, depois, se revela misteriosa, policialesca. Não dá pra saber exatamente quanto tempo aquelas pessoas estão ali, à margem da sociedade.

Mas é possível imaginar que não se trata de pouco tempo porque os moradores enfrentam a neve, a chuva, o calor do verão. Enquanto segredos são revelados, o espectador tem a chance de refletir sobre o encanto de criar e reforçar laços e sobre todos os conceitos a respeito da amizade, o amor e os afetos.
Duração: 2h01
Classificação: 14 anos
Distribuição: Imovision


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"Homem-Aranha no Aranhaverso" é animação imperdível do herói dos quadrinhos

Super-herói Marvel vai contar com a ajuda de outros como ele, vindos de dimensões paralelas, para combater o crime em Nova York (Fotos: Sony Pictures Entertainment)

Maristela Bretas


Depois de laçar a estatueta de Melhor Filme de Animação do Globo de Ouro 2019, "Homem-Aranha no Aranhaverso" ("Spider-Man: Into the Spider-Verse") solta sua teia a partir desta quinta-feira nos cinemas brasileiros com a promessa de prender o público que curte uma super história em quadrinhos. A produção da Marvel Studios com distribuição da Sony Pictures também está disputa outros prêmios importantes de Hollywood, inclusive o Oscar deste ano na categoria.



A história do jovem que adquire superpoderes após ser picado por uma aranha geneticamente modificada já é conhecida por todos. Mas agora ganha as telas com outras roupagens. A começar pela escolha de um jovem negro do Brooklin para vestir a fantasia azul e vermelha do herói que circula pela cidade combatendo o crime pendurado numa teia. Uma escolha politicamente correta e excelente.


Miles Morales é um garoto simpático, que conquista o público de imediato por ser um fã do Homem-Aranha como muitos de nós. Para ele, Peter Parker, agora já conhecido por todos como o aracnídeo do bem, é seu modelo de super-herói. O adolescente admira a forma como ele combate o crime na cidade e atrai seguidores por onde passa. Até que o Homem-Aranha é dado como morto e a criminalidade toma conta de Nova York.


A população agora precisa de um novo protetor. Miles só não esperava que fosse ele, inspirado no legado de Parker e vivendo a mesma situação - ser picado por uma aranha e adquirir poderes. Ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, o jovem é surpreendido com a presença do próprio Parker, vestindo o traje do herói coberto por um sobretudo. Vindo de uma dimensão paralela, ele será o mentor de Miles para que se torne o novo "amigo da vizinhança". 

Se o garoto já está vibrando com a chance de lutar ao lado de seu herói, imagina com outras quatro versões, vindas de universos diferentes. Todos eles precisarão se unir para vencer Wilson Fisk - O Rei do Crime - e seus parceiros: Dra. Octopus, Duende Verde e Scorpion. Só depois poderão retornar a seus mundos.


"Homem-Aranha no Aranhaverso" é ótimo, tem muita cor, ação, aventura e diálogos engraçados, com direito a "balões" de pensamentos dos personagens, como nas HQs. Este é inclusive um dos grandes diferenciais desta produção, que mescla computação gráfica e traços clássicos do formato 2D. Merece cada prêmio que faturar neste ano na categoria de Filme de Animação, apesar da forte concorrência com "Os Incríveis 2", outra excelente produção que arrasou bilheterias.


Os diretores de "Aranhaverso" também se preocuparam em passar boas mensagens, o que coloca o filme também no gênero família. Além de precisar aprender o mais rápido possível como se tornar um herói, Miles Morales também vive os dramas da adolescência, o bullying na escola, a família que o trata como criança, o pai policial amoroso, mas que não aceita a presença de um Homem-Aranha fazendo a segurança da cidade, e o tio boa-praça mas ligado à criminalidade.


A Marvel também mostra nesta produção uma preocupação com a inclusão ao inserir um jovem negro no papel de um de seus mais icônicos super-heróis. E de imediato ele conquista o público por sua simplicidade e simpatia. A desmistificação continua com a escolha dos personagens das demais versões - Gwen Stacy é a Mulher-Aranha, Homem-Aranha Noir, o Porco-Aranha e Peni Parker, uma menina que parece ter saído de um anime e que tem um robozinho como parceiro.


Na versão legendada um grande atrativo é o elenco de peso que fez a dublagem: Jake Johnson ("Te Peguei! - 2018), como Peter Parker/Homem-Aranha, Mahershala Ali (prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Globo de Ouro 2019 pelo filme "Green Book: O Guia", que estreia neste mês) como o tio Aaron, Shameik Moore (Miles Morales), Hailee Steinfeld (de "Bumblebee" - 2018), como Gwen Stacy, Nicholas Cage (Homem-Aranha Noir), Lily Tomlin (tia May), John Mulaney (Porco-Aranha), Liev Schreiber (Rei do Crime) e Chris Pine, como o Homem-Aranha idolatrado por Morales.


Stan Lee, que junto com Steve Ditko criou os quadrinhos dos super-heróis da Marvel, recebeu uma participação ainda maior que nos filmes, mantendo o humor, mas passando uma boa mensagem ao jovem Miles. "Homem-Aranha no Aranhaverso" é uma animação imperdível, ideal para assistir com um baldão de pipoca no colo e um copo grande de refrigerante.


Ficha técnica:
Direção: Bob Persichetti / Peter Ramsey / Rodney Rothman
Produção: Sony Pictures Animation / Marvel Animation /Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Animação / Ação / Família
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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