25 janeiro 2019

"Green Book: O Guia" inverte os papéis para expor o racismo e a hipocrisia

Mahershala Ali é o pianista Don Shirley que contrata Tony Lip (Viggo Mortensen) para ser seu motorista e segurança durante uma turnê  (Fotos: Diamond Films/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma jornada de conhecimento, mudança de conceitos e exposição aos preconceitos diários que mudaram pouco nos últimos 60 anos. Assim é "Green Book: O Guia", do diretor Peter Farrelly, que está como um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme, além de já ter conquistado várias premiações. Com bela fotografia, a produção segue o estilo road movie, cortando os Estados Unidos de Norte a Sul de carro e expondo o comportamento e o preconceito racial dos moradores de cada localidade por onde passa.

As mudanças são claras a cada quilômetro percorrido e valem principalmente para os personagens principais - Tony Lip (Viggo Mortensen) e Dr. Don Shirley (Mahershala Ali). O primeiro, apesar do jeito grosseirão, é um bom marido, ótimo pai, que prefere se manter afastado dos negócios escusos de amigos e familiares italianos da periferia, mas que precisa se virar para sustentar a família após perder o emprego em um cassino. 

O segundo é um homem solitário, que vive enclausurado num apartamento luxuoso em Nova York, dividido entre ser aceito pelos brancos para quem se apresenta e sem conseguir se encaixar entre os negros como ele, que na maioria das vezes são menosprezados pelos brancos. Eles terão de conviver e dividir espaços por dois meses, o que irá forçá-los a expor suas virtudes e fraquezas. A proposta deste drama, baseado na história real da amizade dos dois, é fazer pensar e levar as pessoas a reavaliarem seus conceitos de cor, raça e descendência.

Se para a dupla principal a convivência se torna um aprendizado para ambos, explorar a questão da cor em sociedades diferentes se torna algo mais difícil. Especialmente nos estados sulistas norte-americanos, onde o negro é tratado quase como escravo e mesmo no caso de Shirley, serve apenas como um entretenimento dos brancos, mas não pode usar o banheiro de uma casa ou jantar entre os brancos. Causa repulsa tais atitudes e dificilmente o público sairá indiferente às situações mostradas. Um claro exemplo está no nome do guia rodoviário entregue a Tony Lip pelo agente musical de Shirley antes da viagem: Green Book é um livro que indica quais os hotéis do sul do país que aceitavam negros como hóspedes.

Em algumas premiações,  “Green Book – O Guia” foi colocado na categoria de comédia, mas poucos são os momentos engraçados. Os diálogos, os apertos e as situações vividas pelos protagonistas se mostram muito atuais apesar de ter se passado nos anos de 1960. Tony percebe no decorrer da viagem que o preconceito a Shirley se estende também aos imigrantes como ele. Não se trata só da cor da pele, mas de raça e cultura (ou falta dela).

“Green Book – O Guia” é inspirado na emocionante história de dois homens antagônicos, cada um com seu preconceito e postura arrogante. De um lado, Tony Lip, contratado como segurança e motorista do famoso músico Dr. Don Shirley. Durante os dois meses da turnê do músico pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir "O Guia" que indica os locais de hospedagem seguros para negros na região. À medida que a dupla vai descendo, cresce o racismo e as situações de humilhação, enfrentadas por Shirley, que passam a desagradar Tony. A união destes dois provocará uma profunda mudança em suas vidas.

A biografia tem também outro detalhe interessante. O roteiro foi escrito pelo diretor Peter Farrelly e Nick Vallelonga, filho de Tony Lip, que conhecia bem a história dos dois amigos que durou anos. Vale também lembrar que “Green Book – O Guia”  tem uma bela trilha sonora composta por Kristopher Bowers, principalmente nas apresentações ao piano de Shirley.

A produção recebeu cinco indicações para o Oscar 2019, todas merecidas, principalmente as de Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), cujas atuações estão excelentes e ambos deveriam estar disputando em igualdade o prêmio de Melhor Ator. O filme também foi indicado às estatuetas de Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. 

"Green Book: O Guia" já conquistou três Globo de Ouro nesse ano: Melhor Filme Comédia ou Musical, Melhor Roteiro (Peter Farrelly, Nick Vallelonga e Brian Currie) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali, que levou o mesmo prêmio também no Critic's Choice Awards). Em 2018, o longa foi vencedor do Festival de Cinema de Toronto. Uma avaliação: simplesmente imperdível.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Peter Farrelly
Produção: Dreamworks Pictures / Participant Media / Wessler Entertaiment
Distribuição: Diamond Films Brasil
Duração: 2h10
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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24 janeiro 2019

"Creed II" conclui franquia com drama comovente de revanches e superação

Drama traz de volta conhecidos personagens e antigas pendências que precisam ser resolvidas (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma volta ao passado para se encontrar no presente. Esse é o foco principal de "Creed II", que relembra situações de 1985, do filme "Rocky 4" para explicar e vencer os dramas de seus personagens. Michael B. Jordan está ainda melhor como Adonis Creed, o excelente boxeador que tenta descobrir seu real objetivo de lutar e ainda conciliar com a vida pessoal. Sylvester Stallone, novamente no papel de Rocky Balboa aposentado, se mostra mais maduro na condução do roteiro e entrega uma produção sensível (apesar das lutas marcadas por violência e ódio), que conclui muito bem a franquia.

Depois de "Creed - Nascido Para Lutar" (2015) quando o boxeador Adonis Creed (Michael B. Jordan) foi apresentado ao público treinado por Balboa, muita coisa mudou na vida do jovem. A dupla segue ganhando disputas, mas é assombrada por pendências do passado que precisam ser concluídas para que ambos possam seguir suas vidas. Esta parte das memórias é muito bem trabalhada pelo diretor Steven Caple Jr., que soube explorar o drama pessoal não só dos dois protagonistas mas também de todos a seu redor, inclusive de velhos inimigos.

Adonis não sabe o real motivo para subir ao ringue - se é por ele ou para superar o pai, Apollo (Carl Weathers), morto durante uma luta em "Rocky 4". Ele deseja tomar as rédeas de seu destino, definindo sua relação com a namorada Bianca (Tessa Thompson) e a mãe, Mary (Phylicia Rashad). Já Balboa leva uma vida pacata de treinador que superou um câncer em "Creed - Nascido Para Lutar", mas que precisa retomar os laços familiares perdidos desde a morte da mulher. Será o desejo de vingança de um velho inimigo que fará a dupla repensar seus destinos. 

E é Dolph Lundgren, que sobe ao ringue no papel do clássico vilão russo Ivan Drago, agora treinador do filho Viktor (o boxeador romeno e ator estreante Florian Munteanu). Após cair em desgraça por ter perdido a luta para Rocky no filme de 1985, traçou como único objetivo fazer uma revanche quase fatal de seu filho contra o pupilo de Balboa. Assim, conseguirá recuperar o respeito de seu país e o da ex-mulher, Ludmilla, interpretada novamente por Brigitte Nielsen, outra integrante de "Rocky 4". 


Na história, Adonis Creed (Michael B. Jordan) segue forte sua carreira conquista o título mundial dos Pesos Pesados tendo Balboa como treinador. Mas não consegue afastar a ideia de ser apenas uma sombra do pai, Apollo (Carl Weathers) e de sua violenta morte após uma luta em 1985 (filme "Rocky 4") contra Ivan Drago. Para recordar duramente o passado, seu próximo adversário será o implacável Viktor, filho de Ivan e treinado por ele para vencer e massacrar Adonis, numa revanche pessoal contra Balboa. É o passado voltando para assombrar os jovens lutadores que vivem sentimentos de fúria, submissão, insegurança e necessidade de superação.

"Creed II" é nostálgico em vários momentos ao retomar antigos personagens e relembrar conhecidas e marcantes locações e situações de filmes passados da franquia, como a escadaria que Rocky subiu durante seu treinamento na Rússia para a grande luta contra Drago. E claro, não poderia ficar de fora, o clássico tema de "Rocky", tocado num momento crucial do longa. Coisa de fazer arrepiar. 

A trilha sonora é de Ludwig Göransson, responsável também por "Creed: Nascido Para Lutar", e que concorre ao Oscar 2019 com "Pantera Negra". Ele tem também em seu currículo sucessos recentes como "Desejo de Matar" e "Venom", ambos de 2018, e "Tudo e Todas as Coisas" (2015). 

Com ótima fotografia, bom roteiro, interpretações bem conduzidas pelo elenco, especialmente a de Michael B. Jordan, "Creed II" encerra muito bem o ciclo do personagem Rocky Balboa, iniciado há 33 anos, que teve seus altos e baixo, mas foi muito bem retomado há três anos.



Ficha técnica:
Direção: Steven Caple Jr.
Produção: Warner Bros. Pictures / MGM Studios / New Line Cinema
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h10
Gêneros: Drama / Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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