26 janeiro 2019

Em "Shade - Entre Bruxas e Heróis", amizade e imaginação andam juntas

Produção sérvia aborda os medos e as inseguranças de dois amigos pré-adolescentes (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


"Shade - Entre Bruxas e Heróis" ("Ziogonje") é a história de um garoto de dez anos com paralisia cerebral parcial que sofre com a incapacidade da doença e uma menina da mesma idade vivendo o drama da separação dos pais. O que os une? O bullying que ambos sofrem na escola por serem diferentes. Nasce daí uma grande amizade, sincera e de respeito, que tem momentos alegres e também sofridos.

Jovan (Mihajlo Milavic) é um garoto tímido, sem amigos, que tenta se manter afastado dos colegas de escola, mas sofre o tempo todo com seus ataques. Para se defender, criou um mundo imaginário, onde ele é o super-herói Shade, que tudo pode e surge para defender os mais fracos. Ao conhecer Milica (Silma Mahmuti), a primeira reação é de se afastar daquela menina durona, que veio de outra cidade e também sofre com o bullying.

Vítimas do mesmo problema, acabam se unindo e formando uma bela amizade que vai ajudá-los a superar seus problemas: Jovan não quer ser tão dependente dos pais superprotetores (em especial, a mãe). Milica não aceita o fato de o pai ter uma nova namorada, que ela acha se tratar ser uma bruxa que o enfeitiçou. Cada um com seu medo e ilusão vai precisar do outro para vencer suas barreiras e amadurecer para seguirem suas vidas.

O filme é um pouco confuso, peca nos efeitos visuais e tem alguns pontos que não seriam recomendados mesmo para um público juvenil, como a maneira encontrada por Jovan para se livrar da namorada-bruxa do pai de Milica. Nada a ver para um filme cuja proposta é explorar o lado fantasia da história e não incentivar a violência. Também o final pode espantar algumas mães brasileiras, mais superprotetoras com os filhos nessa idade.

Há também várias situações machistas, mas que não tiram a simplicidade da imaginação dos dois jovens, que acham que podem resolver tudo com um super-herói lutando contra uma "bruxa" malvada. "Shade - Entre Bruxas e Heróis" reúne planos mirabolantes, missões impossíveis e boa dose de cumplicidade infantil. Dirigido por Rasko Miljkovic, o filme passou por mais de 20 festivais pelo mundo, conquistando os prêmios do júri popular no Festival Internacional de Toronto (Tiff Kids) e de melhor filme na Mostra Geração do Festival do Rio deste ano.


Ficha técnica:
Direção: Rasko Miljkovic
Produção: Pluto Filmes
Distribuição: Cineart Films
Duração: 1h30
Gêneros: Drama / Família / Fantasia
Países: Sérvia e Macedônia
Classificação: 12 anos

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25 janeiro 2019

"Green Book: O Guia" inverte os papéis para expor o racismo e a hipocrisia

Mahershala Ali é o pianista Don Shirley que contrata Tony Lip (Viggo Mortensen) para ser seu motorista e segurança durante uma turnê  (Fotos: Diamond Films/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma jornada de conhecimento, mudança de conceitos e exposição aos preconceitos diários que mudaram pouco nos últimos 60 anos. Assim é "Green Book: O Guia", do diretor Peter Farrelly, que está como um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme, além de já ter conquistado várias premiações. Com bela fotografia, a produção segue o estilo road movie, cortando os Estados Unidos de Norte a Sul de carro e expondo o comportamento e o preconceito racial dos moradores de cada localidade por onde passa.

As mudanças são claras a cada quilômetro percorrido e valem principalmente para os personagens principais - Tony Lip (Viggo Mortensen) e Dr. Don Shirley (Mahershala Ali). O primeiro, apesar do jeito grosseirão, é um bom marido, ótimo pai, que prefere se manter afastado dos negócios escusos de amigos e familiares italianos da periferia, mas que precisa se virar para sustentar a família após perder o emprego em um cassino. 

O segundo é um homem solitário, que vive enclausurado num apartamento luxuoso em Nova York, dividido entre ser aceito pelos brancos para quem se apresenta e sem conseguir se encaixar entre os negros como ele, que na maioria das vezes são menosprezados pelos brancos. Eles terão de conviver e dividir espaços por dois meses, o que irá forçá-los a expor suas virtudes e fraquezas. A proposta deste drama, baseado na história real da amizade dos dois, é fazer pensar e levar as pessoas a reavaliarem seus conceitos de cor, raça e descendência.

Se para a dupla principal a convivência se torna um aprendizado para ambos, explorar a questão da cor em sociedades diferentes se torna algo mais difícil. Especialmente nos estados sulistas norte-americanos, onde o negro é tratado quase como escravo e mesmo no caso de Shirley, serve apenas como um entretenimento dos brancos, mas não pode usar o banheiro de uma casa ou jantar entre os brancos. Causa repulsa tais atitudes e dificilmente o público sairá indiferente às situações mostradas. Um claro exemplo está no nome do guia rodoviário entregue a Tony Lip pelo agente musical de Shirley antes da viagem: Green Book é um livro que indica quais os hotéis do sul do país que aceitavam negros como hóspedes.

Em algumas premiações,  “Green Book – O Guia” foi colocado na categoria de comédia, mas poucos são os momentos engraçados. Os diálogos, os apertos e as situações vividas pelos protagonistas se mostram muito atuais apesar de ter se passado nos anos de 1960. Tony percebe no decorrer da viagem que o preconceito a Shirley se estende também aos imigrantes como ele. Não se trata só da cor da pele, mas de raça e cultura (ou falta dela).

“Green Book – O Guia” é inspirado na emocionante história de dois homens antagônicos, cada um com seu preconceito e postura arrogante. De um lado, Tony Lip, contratado como segurança e motorista do famoso músico Dr. Don Shirley. Durante os dois meses da turnê do músico pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir "O Guia" que indica os locais de hospedagem seguros para negros na região. À medida que a dupla vai descendo, cresce o racismo e as situações de humilhação, enfrentadas por Shirley, que passam a desagradar Tony. A união destes dois provocará uma profunda mudança em suas vidas.

A biografia tem também outro detalhe interessante. O roteiro foi escrito pelo diretor Peter Farrelly e Nick Vallelonga, filho de Tony Lip, que conhecia bem a história dos dois amigos que durou anos. Vale também lembrar que “Green Book – O Guia”  tem uma bela trilha sonora composta por Kristopher Bowers, principalmente nas apresentações ao piano de Shirley.

A produção recebeu cinco indicações para o Oscar 2019, todas merecidas, principalmente as de Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), cujas atuações estão excelentes e ambos deveriam estar disputando em igualdade o prêmio de Melhor Ator. O filme também foi indicado às estatuetas de Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. 

"Green Book: O Guia" já conquistou três Globo de Ouro nesse ano: Melhor Filme Comédia ou Musical, Melhor Roteiro (Peter Farrelly, Nick Vallelonga e Brian Currie) e Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali, que levou o mesmo prêmio também no Critic's Choice Awards). Em 2018, o longa foi vencedor do Festival de Cinema de Toronto. Uma avaliação: simplesmente imperdível.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Peter Farrelly
Produção: Dreamworks Pictures / Participant Media / Wessler Entertaiment
Distribuição: Diamond Films Brasil
Duração: 2h10
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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