21 fevereiro 2019

"Todos Já Sabem" é um suspense que entrelaça vidas e expõe segredos de família

Penélope Cruz e Javier Bardem protagonizam este drama espanhol que aborda principalmente a relação familiar (Fotos: Memento Films Distribution)

Maristela Bretas


Muitas são as produções espanholas que dão prazer em assistir. "Todos Já Sabem" ("Todos lo Saben") é um exemplo disso, principalmente por reunir um elenco renomado com nomes como Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín. O suspense explora as relações entre os membros de uma família e o pequeno vilarejo onde vivem. E como são vistos (e tratados) aqueles que deixaram o local. Quem ficou e quem quer sair também, como encaram a rotina diária e como "aceitam" a volta, mesmo que temporária, daqueles que partiram. 


Velhos rancores, inveja, ganância, ciúme se misturam com saudade, carinho e amor para contar a história de Laura (Penélope Cruz) que retorna à sua cidade natal na Espanha para acompanhar a cerimônia de casamento de sua irmã mais nova, Anna (Inma Cuesta). Por motivos de trabalho, Alejandro (Ricardo Darín), o marido argentino dela, não pode acompanhá-la. 


Na cidade, Laura reencontra o ex-namorado, Paco (Javier Bardem), que não via há muitos anos e que agora está casado com Bea (Bárbara Lennie). Durante a festa de casamento, uma pessoa é sequestrada e toda a família precisa se unir para tentar resolver o caso, enquanto se questionam se o culpado estaria entre eles. Na busca por uma solução, segredos e mentiras são revelados e pode mudar a vida de todos eles.


"Todos Já Sabem" trata-se de um filme sobre gente, mas é a preocupação com detalhes nas imagens de objetos e rostos que dão o maior peso à narrativa. Com diálogos curtos e densos, mas marcantes, o diretor e roteirista Asghar Farhadi aposta num tema comum para mostrar a complexidade das relações familiares. A narração não fica lenta, mas se mostra confusa às vezes por causa das várias histórias inseridas, abordando segredos que dificilmente permanecem guardados e são explorados nas mais diversas situações, especialmente porque todas envolvem dinheiro. 


O destaque na narrativa fica para o casal Cruz/Bardem, com uma atuação mediana de Darín, que ficou à sombra dos dois, mesmo com o diretor dando a cada integrante do elenco o peso que a trama exige. Participam também do filme Eduard Fernández (Fernando, cunhado de Laura), Elvira Mínguez (Mariana, irmã mais velha de Laura e casada com Fernando), Sara Sálamo (Rocio, sobrinha de Laura), Roger Casamajor (Joan, marido de Anna), José Ángel Egido (investigador) e Jaime Lorente (Luis, namoradinho da filha de Laura).

Um drama com pinceladas de romance policial, "Todos Já Sabem" é uma produção que merece ser conferida pela história e pelas belas paisagens. Filmado inteiramente em espanhol, foi rodado na cidade espanhola de Torrelaguna, além de Madri e Guadalajara, exibe também costumes de comunidades locais, especialmente as festas familiares, com muito vinho, comida e canções.



Ficha técnica
Direção e roteiro: Asghar Farhadi
Produção: Memento Films Productions / Morena Films / Lucky Red / France 3 Cinéma / Rai Cinema
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h12
Gêneros: Drama / Suspense
Países: Espanha / França / Itália
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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18 fevereiro 2019

Duro e comovente, "Querido Menino" fará você esquecer tudo o que viu sobre jovens drogados

Steve Carell e Timothèe Chalamet interpretam pai e filho vivendo o drama para vencer o vício que desestrutura toda a família (Fotos: François Duhamel/Amazon)

Mirtes Helena Scalioni


Há filmes, às vezes até fortes, dos quais a gente se esquece assim que sai do cinema ou, no máximo, no dia seguinte. Não é o caso de "Querido Menino" ("Beautiful Boy"), drama dirigido por Felix Van Groeningen, baseado em fatos reais. Possivelmente, durante algum tempo, o espectador vai refletir e tentar compreender a dor e a aflição daquele pai que faz o impossível para salvar o filho das drogas. Histórias sobre jovens drogados há muitas. Mas essa é diferente. E impacta de forma tão contundente exatamente porque não se limita ao maniqueísmo. Não há lições de moral, demonização, vilões nem mocinhos. Não há culpados nem inocentes. 

David Sheff é um jornalista e escritor bem sucedido que vive numa casa linda com sua segunda mulher Karen e três filhos: os dois menores, lindos e saudáveis, e o adolescente Nic, fruto do seu primeiro casamento com Vick. A vida seria um permanente comercial de margarina se Nic não tivesse se metido com drogas pesadas. O mais inesperado é que pai e filho vivem bem. Não brigam, são amorosos um com o outro, têm cumplicidade e afeto. Ou seja: ninguém errou. O menino foi bem criado, ia bem na escola, era amigo dos irmãos. A pergunta que fica é: como isso pode acontecer?

Essa é, aliás, a pergunta que David Sheff se faz durante todo o filme. O olhar e as expressões dele refletem isso. Numa interpretação mais do que brilhante de Steve Carell, esse pai que ama desesperadamente o filho é incansável nas inúmeras tentativas de recuperar o menino em suas repetidas recaídas. E a luta é árdua e longa. Tão longa que Nic é interpretado por dois atores, em duas fases da vida: Timothèe Chalamet quando adolescente, e Jack Dylan Grazer aos 12 anos. Ambos estão muito bem. E para quem não está ligando o nome à pessoa, vale lembrar que Chalamet foi o adolescente de "Me Chame Pelo Seu Nome", em atuação muito elogiada.

Embora o público costume valorizar a interpretação de drogados e malucos, no caso de "Querido Menino", os aplausos mais veementes são mesmo para Carell, que soube transmitir, com maestria e muita emoção, o sofrimento e as dúvidas do pai, às vezes paralisado diante de tanto cansaço e dor. Completam o elenco, Maura Tierney como Karen, Amy Ryan como Vick, mãe de Nic, e Kaitlyn Dever como Lauren, a amiguinha drogada.

Uma curiosidade: a expressão "beautiful boy" do título em inglês é uma referência à bela canção que John Lennon fez para o seu filho Sean. Em momento comovente do filme, ela é cantarolada pelo pai. Aliás, é preciso dizer, a trilha sonora do longa é expressiva e bela e pontua com perfeição os conflitos e dramas dos personagens.

"Querido Menino" é todo contado em flashbacks. Portanto, é aos poucos que o espectador vai costurando a relação do pai com o filho, vai compreendendo a estrutura daquela família tão comum quanto afetuosa e, claro, vai sofrendo como todos porque nada pode ser feito. É como uma fatalidade, da qual não se pode escapar. É como se não houvesse esperança.
Duração: 2h01
Classificação: 14 anos
Distribuição: Diamond Films


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