15 março 2019

"Suprema" mostra a trajetória de uma mulher contra o machismo e o preconceito

Felicity Jones interpreta a jurista Ruth Bader Ginsburg, primeira mulher a ocupar um cargo na Suprema Corte dos EUA (Fotos: eOne/Divulgação)

Maristela Bretas


Com boa interpretação, Felicity Jones salva o filme "Suprema"  ("On The Basis of Sex") sobre a trajetória da juíza da Suprema Corte dos EUA, Ruth Bader Ginsburg. A personagem, primeira mulher a conquistar um dos cargos mais importantes daquele país entre as décadas de 50 e 60, enfrentou o machismo por ser uma das poucas a se graduar em Direito nas universidades de Harvard e Columbia (dominada pelos homens) e de tentar mostrar todo o seu potencial como profissional. 

Para piorar, RBG era baixinha, mas superava tudo com uma forte personalidade. Desprezada pelos escritórios de advocacia, ela se especializou em direito relacionado ao gênero, decidindo atacar o Estado norte-americano para derrubar centenas de leis que permitiam a discriminação às mulheres.

Em tempos de produções sobre o poder e a força das mulheres, o filme fica muito restrito e dá a impressão e ser apenas para americano ver. Há momentos tá arrastados que chegam a ser chatos, graças à preocupação da diretora Mimi Leder em ser fiel demais à história da juíza, que exagerou na duração - duas horas é muito para uma biografia sem grandes reviravoltas. 

Sem desmerecer as conquistas e a garra de RBG para chegar onde chegou. Especialmente na luta contra a discriminação feminina, seu maior empecilho para crescer e se destacar num mundo feito por homens e para homens. E que insiste em afirmar que "lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos e da cozinha".

Martin Ginsburg, marido de Ruth, interpretado por Armie Hammer, é típico coadjuvante que só recebe algum destaque por ser um dos poucos homens que a apoia em sua luta a favor das mulheres. Mesmo assim, diante dos amigos e do chefe de advocacia onde trabalha, deixa escapar posições machistas também. 

Justin Theroux e Sam Waterson (ótimo) têm mais destaque e entregam melhores interpretações que Hammer, que não perde a cara de cachorro que caiu da mudança. Já Kathy Bates, que interpreta a advogada militante dos direitos humanos Dorothy Kenyon, tem participação pequena e foi mal aproveitada pelo roteiro.

Uma boa ambientação de época, com abordagem correta do que foi o trabalho da jurista (ainda viva e que é apresentada no final) e a importância do seu legado de ativismo. Como biografia atende bem, não chega a emocionar, força algumas situações, mas serve de inspiração para muitas mulheres de brigarem por espaço e igualdade.

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Ficha técnica:
Direção: Mimi Leder
Produção: Participant Media
Distribuição: Diamond Films
Duração: 2h01
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,8 (0 a 5)

Tags: #Suprema, #OnTheBasieOfSex, #FelicityJones, #ArmieHammer, #RuthBaderGinsburg, #biogrtadia, #drama, #DiamondFilms, #cinemanoescurinho

14 março 2019

Liam Neeson ficará mais marcado por polêmica do que por “Vingança a Sangue-Frio”

Pacato e exemplar limpador de neve muda de comportamento e sai caçando os responsáveis pela morte do único filho (Fotos Doane Gregory/Studiocanal)

Wallace Graciano


Era fevereiro e Liam Neeson vivia a expectativa pela estreia de “Vingança a Sangue-Frio” ("Cold Pursuit"), seu mais recente longa, que ele promete ser seu último no gênero de ação, e é um remake do norueguês “Cidadão do Ano” (“Kraftidioten”), de 2014, também dirigido por Hans Petter Moland. Porém, bastou uma declaração polêmica, na qual ele tentou fazer uma associação ao filme ao qual é protagonista, para sua carreira ser colocada em xeque e a obra ser adiada por quase um mês, chegando às telonas somente nesta quinta-feira (14). 

Em entrevista ao jornal inglês The Independent, Neeson disse que há cerca de 40 anos uma amiga lhe contou ter sido estuprada por um negro. Sedento por vingança, assim como o personagem ao qual dá vida no longa, ele vagou por dez dias com uma barra de ferro por bairros onde negros moravam, procurando arrumar confusão com qualquer um, tudo por conta de sua “necessidade primária de atacar”. Acusado de racismo, Neeson viu o longa ser colocado em xeque. Não à toa, a première em Nova York foi cancelada após o episódio e a Paris Filme, distribuidora da película no Brasil, optou por “esperar a poeira baixar”.

Deixando de lado as controvérsias, “a necessidade primária de atacar” dita em sua resposta remete bem à história de Nels Coxman, personagem a quem dá vida na película. Pai de uma família em um subúrbio pacato, ele vê sua vida tomar outro rumo após seu filho ser morto por um poderoso chefão das drogas da região. Tomado pelo ódio, ele passa eliminar um a um os intermediários, buscando chegar no cabeça da gangue, um dos narcotraficantes mais preocupado do país que chama a atenção por sua dieta macrobiótica. 

Porém, nesse ínterim, Nels vira um personagem impulsivo, com ações exageradas e frenéticas em meio a uma tentativa de que um roteiro de suspense fosse criado. Dessa forma, o longa se transforma em uma comédia trash, carregada de humor negro, com final previsível, que tem como ponto central um protagonista sem carisma que consegue fisgar o público. Paralelamente, personagens secundários são desenvolvidos exaustivamente, sem a mínima necessidade, o que torna a narrativa cansativa.

Apesar disso, a trama entrega ao fã amante do gênero um bom filme, com toques “tarantinianos”, abusando da hiper-violência marcada por piadas, músicas cômicas e uma fotografia impactante.  No fim das contas, Neeson ficará mais marcado pela polêmica do que pelo remake. Porém, a película não é das piores e entretêm os amantes do gênero que buscam um “quê” de ação com doses de humor negro.
Duração: 1h59
Distribuição: Paris Filmes
Classificação: 16 anos



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