22 março 2019

Julia Roberts brilha como a mãe leoa de um jovem drogado e salva "O Retorno de Ben"

O indicado ao Oscar, Lucas Hedges, foi escolhido para interpretar o jovem problemático (Fotos:Tobis Film/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


É véspera de Natal e uma família aparentemente feliz se prepara para a grande festa cristã. Fica claro, de início, que o grupo - pai, mãe e três filhos - leva a sério a religião. Tudo parece perfeito. Nada parece faltar. É a partir da chegada de um quarto filho, Ben, que surpreende todo mundo ao voltar inesperadamente da clínica onde faz tratamento para se livrar das drogas, que o espectador descobre que nem tudo vai tão bem. 

É a partir daí também que a mãe Holly Burns, interpretada na medida por Julia Roberts, mostra que está disposta a apostar todas as suas fichas e correr todos os riscos para receber o filho desajustado em casa, mesmo sabendo de todos os perigos que ele representa.

"O Retorno de Ben" ("Ben Is Back") é escrito e dirigido por Peter Hedges que, a pedido de Julia Roberts, colocou o próprio filho, Lucas Hedges, no papel do problemático Ben. Segundo contam, a estrela teria gostado muito do jovem no filme "Manchester à Beira-mar" e, assim que o diretor a convidou para o papel, sugeriu o nome de Lucas e apostou no seu talento. Sábia Julia. Embora em interpretação comedida, o menino se sai bem, sem muitos arroubos, mas criando desde o início algum laço com o espectador, que sofre com ele e torce para que ele consiga vencer o vício e se integrar à família.

Completam o elenco, em interpretações corretas, Courtney B. Vance como Neal Burns, o marido de Holly, e Kathryn Newton como Ivy Burns, a filha adolescente que parece duvidar da recuperação do irmão. Mas quem brilha mesmo é Roberts, a mãe leoa que não mede esforços para salvar o filho viciado. Ícone de beleza, a atriz chega a ficar feia e sem charme em alguns momentos, quando o que importa é simplesmente salvar seu filho em perigo. Um papel de total entrega. 

O longa de Hedges é sério, bem feito, segura o público na tensão durante os 102 minutos em que mãe e filho não se desgrudam e lutam como se fossem um só contra a tentação e a recaída. Mas pode perder brilho e força por ter sido lançado tão próximo de outro, "Querido Menino", obra-prima de Felix Van Groeningen que parece definitiva quando se trata do tema de drogas.
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Distribuição: Diamond Films


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21 março 2019

"Nós" - o mais selvagem, provocante e espetacular terror psicológico do diretor Jordan Peele

Lupita Nyong'o é o destaque do filme, entregando personagens antagônicos com perfeição (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas

Assustador, tendo, surpreendente do início e especialmente o fim, "Nós" ("Us"), dirigido, roteirizado e produzido pelo excelente Jordan Peele ("Corra!"), é de prender na cadeira e deixar o espectador incomodado. Uma verdadeira aula de psicologia sobre o outro lado do ser humano, mesclando mitologia, terror e suspense na medida certa, mesmo nas cenas mais violentas. Ou seja, o conjunto da obra é impecável, colocando a produção como uma das melhores do gênero dos últimos anos.

Peele acertou em todos os pontos, especialmente na escolha da premiada Lupita Nyong'o como Adelaide e sua versão Red, que deu o toque assustador à trama, unindo os pontos isolados que aparecem no início do longa. A pacata dona de casa Adelaide, que guarda um segredo de infância, é confrontada pela macabra Red, sua imagem e semelhança, de perfil doentio e assassino. E Lupita dá uma interpretação assustadoramente perfeita para ambas, merecedora de um Oscar em 2020. 

O restante do elenco também entrega um excelente trabalho nas versões originais e duplas - Winston Duke, faz o papel de Gabe, marido de Adelaide e Abraham (a cópia), garantindo a parte cômica do filme com seus comentários sem propósito nas horas erradas, Também os jovens atores Shahadi Wright Joseph, como Zora e Umbrae, e Evan Alex, interpretando Jason e o vermelho Pluton, dão show de interpretação nos dois papéis. O elenco conta também com os veteranos Elisabeth Moss e Tim Heidecker, como o casal de amigos e vizinhos Kitty e Josh Tyler.

Ao jornal The Hollywood Reporter, Jordan Peele contou que sua intenção com o filme era criar uma mitologia de monstro e analisar um tipo diferente de terror. “Era muito importante pra mim ter uma família negra no centro de um filme de terror. Mas também é importante notar que, ao contrário de 'Corra!', 'Nós' não é sobre racismo. Ao invés disso, é sobre algo que eu acho que se tornou uma verdade inegável. E é o simples fato de que nós somos nossos próprios piores inimigos”, afirmou.

Fotografia e trilha sonora também são destaques em "Nós", com o diretor empregando raps em momentos tranquilos da família e música clássica nas horas de maior tensão, uma mudança do convencional que agrada. Além do roteiro que explora os medos, traumas e o lado sombrio de cada um. Chega a dar um nó na cabeça de quem está no cinema sobre até onde tudo o que está acontecendo é verdade ou uma grande alucinação? Até que ponto escondemos uma versão violenta que pode se manifestar quando a nossa sobrevivência está em jogo?

Na trama, Adelaide e Gabe decidem levar o casal de filhos para passar um fim de semana em uma casa de veraneio na praia. Aproveitam o dia com o amigos Kitty e Josh Tyler e as gêmeas do casal. Adelaide não se sente bem ao voltar á cidade onde na infância sofreu um grande trauma. Mas será à noite que todos os seus medos virão à tona, quando passam a ser perseguidos por um grupo macabro, exatamente igual a ela e sua família, mas com deformidades nos rostos. Usando macacões vermelhos e tesouras douradas, a única intenção dos duplos é acabar com as versões originais bonitinhas e perfeitas.

A partir daí, cada peça de um imenso quebra-cabeça que começou a ser formado no início do filme vai se encaixando, permitindo ao público criar sua própria opinião sobre o que está ocorrendo e o que esperar do final. Surpreendente, imperdível e perturbador, "Nós" é uma reflexão sobre o eu de cada. Dificilmente terá neste ano um concorrente á altura neste gênero. 


Ficha técnica:
Direção: Jordan Peerle
Produção: Universal Pictures / Blumhouse Pictures
Distribuição: Universal Pictures 
Duração: 1h56
Gêneros: Terror / Suspense
País: EUA
Classificação: 18 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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