24 abril 2019

"O Último Lance" é um belo filme sobre relacionamentos, família e obsessão pela arte

Heikki Nousiainen interpreta um velho marchand finlandês que tenta dar sua última cartada para salvar sua galeria de arte (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Em tempos de "Vingadores - Ultimato" e "Shazam!", "O Último Lance" ("Tuntematon Mestari"), que aborda arte e relações humanas ligadas pela obsessão de um velho homem, foge completamente do circuito blockbuster e entrega a seu público um ótimo drama. A produção finlandesa é tocante, emociona e aborda velhice, sonhos perdidos, orgulho afastando pessoas e o amor pela arte como única razão de viver.


"O Último Lance" tem uma bela fotografia, é bem conduzido, o roteiro um pouco óbvio, mas sem atrapalhar o drama e uma excelente atuação do ator finlandês Heikki Nousiainen como Olavi. Ele é um negociante de arte de 72 anos, viúvo, que não aceita a aposentadoria se aproximando e com ela fim de toda uma vida voltada para a aquisição e venda de obras de arte. Sua galeria não é mais procurada pelos grandes compradores e quando surgem novos clientes, ele vê suas paixões virarem peças de barganha, como uma fruta na feira.


Quase sem amigos, Olavi não se relaciona com a filha e o neto Otto (Amos Brotherus) e é pressionado a se desfazer de seu espaço por causa das dívidas que acumula. Pressionado pela filha (Pirjo Lonka), acaba contratando o neto como estagiário. Um garoto rebelde que não aceita ordens ou orientações de ninguém.


No entanto, o interesse por obras de arte do avô e a facilidade de negociação de Otto vai unir estes dois desconhecidos, especialmente após uma misteriosa obra que vai a leilão despertar a obsessão de Olavi. O marchand vê na pintura a oportunidade de um último grande negócio para ajudá-lo a saldar as dívidas, se reaproximar da família e consertar os erros do passado.


O relacionamento de amor, mágoa, respeito (e também de falta dele) entre Olavi e Otto é o ponto principal de "O Último Lance". A mãe faz a ponte, mas são os dois atores, desconhecidos do circuito comercial, que entregam um filme belo e sensível, que vale a pena ser conferido a partir desta quinta-feira (25) nas salas Cineart.



Ficha técnica:
Direção:  Klaus Härö
Produção: Making Movie
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h35
Gênero: Drama
País: Finlândia
Classificação: Livre
Nota: 4 (0 a 5)

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22 abril 2019

"O Gênio e o Louco", uma irresistível e contundente demonstração de amor à palavra

Mel Gibson e Sean Penn interpretam os criadores do famoso dicionário inglês Oxford (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Pessoas que gostam de - ou trabalham com - palavras não devem perder a mais recente empreitada de Mel Gibson, que conseguiu colocar nas telas um projeto com o qual sonhava desde 1998, quando leu "O Gênio e o Louco" ("The Professor And The Madman"), de Simon Winchester, e imediatamente adquiriu os direitos autorais da obra. O livro, que conta a história da real criação do primeiro dicionário inglês de Oxford, joga luz sobre um episódio histórico sui generis que, certamente, mudou os rumos da humanidade e, de certa forma, apontou caminhos para o que hoje conhecemos como gramática, literatura, linguagem, poesia. Enfim, o mundo das letras. Mas não só ele.


Contam que Gibson, que além de ator é um dos produtores do filme "O Gênio e o Louco", é obstinado. E obstinação, quase obsessão, é uma das tônicas do personagem que ele próprio interpreta: o professor James Murray que, em 1857, se dispõe, com a ajuda de uma pequena equipe, a catalogar e definir todas as palavras da Língua Inglesa. Como a tarefa era praticamente impossível de ser cumprida, Murray pediu ajuda de voluntários que, pelo correio, sugeriam palavras e definições. Entre esses voluntários, chama a atenção a colaboração de um certo Doutor W.C Minor, que contribui brilhantemente com mais de 10.000 verbetes. Com um detalhe: de dentro de um hospício para criminosos.


Convenhamos: o fato que deu origem ao livro e ao filme é, por si só, deliciosamente tão inverossímil quanto genial. E genial está também a atuação de Sean Penn, que se entregou de corpo e alma ao atormentado Minor, deixando confuso o público, que balança entre a admiração, a compaixão e o medo do criminoso louco que ele criou. As poucas cenas em que Gibson e Penn contracenam seriam suficientes para se indicar o filme, mas há outros motivos que tornam "O Gênio e o Louco" imperdível.


Além do resgate de uma verdade histórica, o longa merece aplausos também pela excelente reconstituição de época, pelos figurinos, pela iluminação cuidadosamente fraca como convinha aos anos de 1800 e pelas corretas interpretações de coadjuvantes como Natalie Dormer, no papel de Eliza Merret, viúva do homem assassinado por Minor, e Jennifer Ehle, como Ada Murray - a nos fazer lembrar que há sempre grandes mulheres envolvidas em grandes projetos, mesmo que elas nem sempre tenham o destaque merecido. Na verdade, todo o elenco está brilhante.


"O Gênio e o Louco" não é um filme leve. Nem fácil. Há tensão, dúvidas, mistérios, violência, ignorância. Mas tudo acaba ficando em segundo plano diante da obsessão e, principalmente, do amor de Murray e Minor pelas palavras. Essa parece ser também a obsessão de Farhad Safinia, o diretor iraniano-americano que conseguiu equilibrar com talento a tênue linha que separa a genialidade da loucura. Afinal, é a linguagem que nos torna diferentes dos bichos.
Duração: 2h04
Classificação: 14 anos
Distribuição: Imagem Filmes


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