25 julho 2019

"Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal" - apresenta um Zac Efron num de seus melhores trabalhos

Filme narra a vida íntima de um dos mais famosos seriais killers dos EUA, responsável por mais de 30 mortes (Fotos: Brian Douglas/Netflix)

Pedro Santos


“Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile”, em tradução livre: Extremamente maldoso, chocantemente maligno e vil, é o título original de "Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal", filme estrelado por Zac Efron, no papel do famoso serial killer, e Lily Collins como Liz Kendall. Também foram esses os adjetivos que o juiz Edward Cowart usou para descrever os crimes cometidos por Ted Bundy, que matou mais de 30 mulheres durante a década de 1970 em mais de sete estados norte-americanos, apesar de o número real de vítimas ser desconhecido e provavelmente muito maior.


O filme conta a trajetória do serial killer a partir da perspectiva de Liz Kendall (cujo nome verdadeiro é Elizabeth Kloepfer), ex-namorada de Bundy. O livro escrito por ela em 1981, "O Príncipe Fantasma: Minha Vida com Ted Bundy", narra o relacionamento abusivo e tempestuoso do casal e serviu de base para o filme. E mostra como uma pessoa tão perigosa e doente pode viver incógnita entre nós, sem levantar qualquer suspeita. Na sequência, a produção apresenta as tentativas de Bundy de sair impune de seus crimes. Por se tratar de um serial killer real, nunca há dúvida sobre ele ser ou não culpado pelos atos hediondos cometidos. Porém, os personagens da trama não sabem que convivem com um monstro, o que gera momentos de tensão interessantes. 



Durante o filme vemos como o assassino em série utiliza seu carisma e inteligência para manipular e atrair suas vítimas de maneira sedutora e também para moldar a opinião das pessoas sobre ele. Com esta mesma sutileza são apresentados alguns pontos da personalidade doentia de Bundy, deixando constantemente a impressão de que há alguma coisa estranha com relação a ele. Os assassinatos nunca ficam explícitos e o filme mostra apenas alguns momentos de violência, deixando que as atrocidades fiquem apenas na imaginação do espectador, onde elas são muito mais efetivas.


Os atores principais estão muito bem. Zac Efron (um dos produtores) surpreende pela forma como consegue imitar as expressões e maneirismos de Ted Bundy, que além de assassino era sequestrador, estuprador, ladrão e necrófilo. E se não estivesse claro que se trata de um psicopata, o espectador poderia até sentir simpatia pelo personagem e achar que tudo não passa de um mal entendido. Lily Collins mostra muito bem como é difícil para Liz aceitar que está sendo enganada pelo homem que ama. Ela entra em negação cada vez que mais evidências são apresentadas, o que a leva a acreditar que é responsável pelo que está acontecendo. 



Além do casal principal, John Malkovich está ótimo interpretando o juiz Edward Cowart, proporcionando alguns momentos de alívio cômico no filme. Jim Parsons consegue se desvencilhar do seu icônico papel de Sheldon Cooper (da série premiada de TV "The Big Bang Theory") e retrata Larry Simpson, o promotor sério e determinado a botar Ted atrás das grades.
     

A direção do filme é competente e impressiona por ser fiel a momentos da história real que são mostrados no final. A experiência certamente poderá ser melhor se o espectador já conhecer o caso do famoso assassino em série norte-americano. Então recomendo a série documental da Netflix “Conversando com um serial killer: Ted Bundy” (2019), também dirigida por Joe Berlinger, que aborda os crimes cometidos pelo sedutor assassino. 

Bundy ainda tem uma participação na série “Mindhunter” (2017), outra produção Netflix. "Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal" é interessante, especialmente porque os seriais killers são muito intrigantes. Assusta pensar que pessoas assim existem no meio de nós. O elenco está muito bom e competente, mas não inova e nem ousa em nada.



Ficha técnica:
Direção: Joe Berlinger
Produção: Voltage Pictures / Netflix
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h50
Gêneros: Suspense / Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

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24 julho 2019

"As Rainhas da Torcida": óbvio, engraçadinho e tipicamente americano, mas emociona

Diane Keaton comanda o primeiro grupo do país de "cheerleaders" da terceira idade, com direito a dança e pompons (Fotos: Universum Film/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Por preconceito ou não, dificilmente alguém que entenda minimamente de cinema vai se interessar por um filme chamado "As Rainhas da Torcida". E desta vez, não se pode culpar os tradutores e responsáveis pela versão. O título original é "Poms", algo que talvez signifique "Pompons". Ou seja: nada de atrativo. E quando a produção é classificada como comédia, ficam ainda mais reduzidas as chances de atrair. Acontece que o elenco é encabeçado por Diane Keaton, atriz cujo nome está sempre ligado a bons trabalhos e atuações elogiadas. Está aí um bom motivo para arriscar uma olhadela nas salas onde o filme será exibido a partir desta quinta-feira (25). 


Outra possibilidade que o filme tem de conquistar o público é a sinopse: com problemas de saúde, Martha (Diane Keaton) vai viver numa comunidade de aposentados perto de Phoenix, capital do estado americano do Arizona. Subvertendo as rígidas regras do condomínio, decide criar um grupo de "cheerleaders", o primeiro do país composto apenas por mulheres acima de 60 anos. 



Um detalhe: "cheerleaders" são aquelas meninas normalmente lindas e de corpos perfeitos que costumam rebolar e sacudir pompons para animar jogos nos Estados Unidos. O resumo é, portanto, no mínimo, curioso, e pode despertar o interesse de determinada faixa etária do público. Filmes sobre a maturidade estão na moda e tendem a fazer sucesso.  


Nada mais americano do que líderes de torcida. Nada mais americano do que condomínios cheios de regras onde moram idosos ricos e remediados. Nada mais americano do que desrespeitar essas regras, desde que o fim seja nobre e edificante o suficiente e ainda valorize a atividade física na terceira idade. Nada mais americano do que um bando de gente velha que canta, salta e dança sem se importar com o ridículo das gordurinhas e a falta de jeito. No Brasil, seriam chamadas de "velhinhas ilariê".


Uma curiosidade que pode enriquecer o filme, que tem roteiro e direção de Zara Hayes: além do elenco, majoritariamente feminino, dos cinco componentes da equipe de produção, três são mulheres, além da montadora. Isso talvez confira à produção um olhar marcadamente feminino, com suas particularidades, tons, cores e diálogos, nem sempre delicados. Às vezes, há ironia, principalmente quando o tema é a independência da mulher. 


"As Rainhas da Torcida" é, enfim, uma comédia tipicamente americana, com alguns toques de drama para equilibrar e temperar. Além de Diane Keaton - cuja transformação e expressão corporal impressionam ao longo do filme, na medida em que sua saúde piora - as demais atuações são corretas: Jacki Weaver como a espevitada vizinha de Martha; Celia Weston e Pam Grier como as amigas solidárias Vicki e Olive; Alisha Boe e Charlie Tahan como Chloe e Ben, os inevitáveis personagens jovens que acabam apostando nas velhinhas; e Bruce McGill, como Carl, espécie de xerife do condomínio, meio bravo, meio bonzinho. 

Tudo como o esperado, sem nenhuma surpresa ou novidade. Interessante é que, talvez por ser tão bem construído dentro de obviedades, o filme emociona. Em certos momentos, fica difícil segurar as lágrimas.
Classificação: 12 anos
Duração: 1h31
Distribuição: Diamond Films


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