03 março 2020

"Luta por Justiça" leva ao cinema o racismo estrutural do Judiciário norte-americano

Michael B. Jordan é o advogado de Jamie Foxx nesta história, baseada em fatos reais (Fotos: Jake Giles Netter/Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Jean Piter Miranda


Negros condenados à morte sem terem passado por um julgamento justo, com amplo direito de defesa, como prevê a lei. Um jovem advogado negro, idealista, recém-formado, que abre mão de ter uma carreira lucrativa para tentar ajudar aqueles que podem ter sido injustiçados pelo sistema. Essa é a trama central de "Luta por Justiça", novo filme do jovem diretor norte-americano Destin Daniel Cretton, estrelado por Michael B. Jordan, Jamie Foxx e Brie Larson.


Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) é um jovem advogado negro formado em Harvard, uma das mais conceituadas universidades do mundo. Isso daria a ele a chance de ingressar em um grande escritório de Nova York, ganhar uma boa grana e seguir sua vida ao bom estilo americano. Mas, como foi dito, ele prefere dar assistência jurídica gratuita a presidiários negros que estão no corredor da morte no Alabama. O principal deles é Walter McMillian (Jamie Foxx), condenado pelo assassinato de uma adolescente branca na cidade em que vive.


A temática não é nova e é sempre retratada em filmes e séries nos EUA, com base em histórias reais. Como recentemente foi mostrado na ótima série "Olhos que Condenam", da Netflix. "Luta por Justiça" também é inspirado em um caso verídico. Isso já é o suficiente pra trazer o público para o lado dos advogados que buscam por justiça. Ao mesmo tempo, em cada cena, fica muito evidente o racismo estrutural, aquele que está enraizado nas práticas da polícia, na opinião pública e, principalmente, no sistema prisional. Por se tratar de um embate que se passa no mundo jurídico, não dá pra esperar surpresas.


Consulta de arquivos e conversas com testemunhas, em meio à hostilidade dos moradores da pequena cidade. Busca por erros na investigação, inconsistências e contradições em depoimentos, procedimentos ignorados, casos semelhantes ocorridos em outras localidades. É uma corrida burocrática contra o relógio, já que o tempo está passando para o condenado que aguarda no corredor da morte a data de sua execução. São pouco mais de duas horas de filme. O roteiro exalta Bryan e o coloca como herói perfeito.


Os outros personagens são mais humanos, com qualidades e defeitos, erros acertos, virtudes e medos. A união da comunidade negra em apoio a Walter e Bryan é um dos destaques. A disputa nos tribunais tem reviravoltas, mas nada que provoque muita emoção. As atuações são boas, condizentes com cada cena. Sem exageros, sem forçar a barra. Brie Larson é tão discreta que quase passa despercebida no filme como Eva, assistente de Bryan.

No fim, é tudo muito previsível. Não há nenhum pico de emoção. E pra não deixar pontas soltas, o desfecho de cada personagem é apresentado. Como terminaram ou como estão hoje. Cumpre assim o papel do longa, em boa dose. Nada além disso.


Ficha técnica:
Direção: Destin Daniel Cretton
Produção: Warner Bros / Endeavor Content / One Community / Participant / Macro / Netter
Productions / Outlier Society
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h17
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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28 fevereiro 2020

"Dolittle" - um filme para quem curte bichos e um grande balde de pipoca

Robert Downey Jr. repete a clássica história do médico que conversa com os animais (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Uma retomada ao clássico infanto-juvenil "Dr. Dolittle" com grandes estrelas e muitos efeitos especiais. Este é "Dolittle", a nova versão em cartaz no cinema que tem como protagonista Robert Downey Jr., após sucessos como Homem de Ferro, na franquia "Vingadores", ou como Sherlock Holmes. O longa usa e abusa da computação gráfica, superando os anteriores (1998 e 2001) que tiveram Eddie Murphy no papel do médico veterinário que conversa com os animais. O que era esperado.


Na nova versão, os bichos têm mais desenvoltura, os sentimentos deles ficam mais sinceros nos olhares e nos diálogos. E eles passam mais vida e carisma que os personagens de "Rei Leão", apesar da alta tecnologia usada na live-action da Disney. Faltou apostar mais na aventura. O filme fica morno em alguns momentos, mas os animais logo tratam de mudar isso. Além da ótima interpretação de Robert Downey Jr., que ajuda a salvar a produção de US$ 175 milhões.


O ator tenta ser o mais divertido possível, mas ainda mantém cacoetes de seu personagem de super-herói, inclusive a prepotência de sempre achar que não precisa de ninguém. Ele conduz bem seu papel e as cenas divididas com os animais são muito boas. Principalmente suas brigas com a arara Polly (voz original de Emma Thompson), que chama Dolittle na responsabilidade quando ele passa dos limites. Ou com o medroso gorila Chee-Chee (voz de Rami Malek) e o urso polar Yoshi (John Cena).

Um dos destaques do filme é a trilha sonora, especialmente a canção "Original", interpretada por Sia, e a versão épica para a clássica "What a Wonderful World", de Louis Armstrong, feita por Reuben and The Dark e AG, que emociona.


O elenco animal conta com vozes de outros nomes famosos do cinema: a pata Dab-Dab (Octavia Spencer), o cão Jip (Tom Holland), o tigre neurótico Barry (Ralph Fiennes), a raposa Tutu (Marion Cotillard) e a girafa Betsy (Selena Gomez). Já entre os humanos, destaque para Antonio Banderas (Rei Rassouli), Michael Sheen (o invejoso Dr. Blair Müdfly, que não aceita o dom de Dolittle) e Jim Broadbent (como lorde Thomas Badgley, que deseja tomar o trono da jovem rainha Vitória, papel de Jessie Buckley).


Apesar do elenco de peso de dubladores, a versão em português deixa os diálogos mais engraçados. As falas de Dolittle também ganham mais sarcasmo na voz do dublador brasileiro de Downey Jr. As crianças vão se divertir com as aventuras do físico, que também é médico veterinário, seu assistente Tommy Stubbins (Harry Collett) e a bicharada da reserva animal mantida pelo excêntrico Doutor Dolittle.  Vivendo em total isolamento do mundo humano após uma tragédia, ele recebe um chamado urgente da rainha da Inglaterra e precisará da ajuda de todos os seus amigos animais para realizar sua missão.


"Dolittle" é um bom entretenimento e tinha todos os recursos para bater os filmes anteriores. Mas pecou se perdeu ao entregar um filme de pouca ação, apesar dos diálogos engraçados, do colorido de passar boas lições de amizade, respeito aos animais e fidelidade. Mas ainda indico como uma boa opção para levar as crianças numa sessão de fim de semana.


Ficha técnica:
Direção: Stephen Gaghan
Produção: Universal Pictures / Perfect World Pictures / Team Downey
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
Duração: 1h42
Gêneros: Comédia / Aventura / Família
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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