10 março 2020

"Frankie": cenas longas, suavidade e contemplação

No drama, Isabelle Huppert interpreta a atriz francesa Françoise Crémont (Foto:SBS Distribution)

Mirtes Helena Scalioni


Longos silêncios entremeados com longas conversas, quase sempre entre duas pessoas de cada vez. Exuberantes paisagens de Sintra, em Portugal, e muitos lugares lindos e aprazíveis mostrados como num catálogo de turismo. Talvez não seja exagero resumir assim o filme "Frankie", dirigido por Ira Sachs e com elenco de peso, onde pontuam Isabelle Huppert no papel principal, Marisa Tomei, Bredan Gleeson e Jerémie Renier.

Falado em três idiomas - português, francês e inglês -  o longa é aquele tipo de filme onde nada acontece. O objetivo parece ser mostrar um recorte na vida da atriz francesa Françoise Crémont, a Frankie, que decide ir com a família e alguns amigos para Sintra, quando ela descobre que está muito doente. 



A partir dessa ideia, as cenas são só de mar e montanhas, uma ou outra confidência, um ou outro desabafo, alguma reflexão sobre a vida e a morte. Mas tudo com muita cautela, muita finesse. Nada de conflitos, nada de desgastes. Enfim, um filme lento, quase arrastado, mais para contemplar do que propriamente assistir. Há quem goste.
Direção: Ira Sachs
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos


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06 março 2020

E se o Superman tivesse vivido na União Soviética?

"Superman: Entre a Foice e o Martelo" ("Red Son") chegará ao Brasil em blu-ray e serviços de streaming (Fotos: Divulgação)

Jean Piter Miranda


Já pensou como seria a vida do Superman se ele tivesse crescido na União Soviética e não nos Estados Unidos, como a gente conhece em sua história original? Bem, essa realidade alternativa já foi apresentada aos fãs em 2003, escrita por Mark Millar, que integra a série de quadrinhos "Superman: Red Son" ("Superman: Filho Vermelho", em tradução literal). Agora, uma animação chega em blu-ray e em serviços de streaming para mostrar mais um universo paralelo do principal super-herói da DC Comics. No Brasil, a versão ganhou o nome de "Superman: Entre a Foice e o Martelo", mas ainda não tem data confirmada de estreia.


O Superman comunista é apresentado criança, quando ainda esconde seus superpoderes do mundo. Sua melhor amiga o convence a usar seus dons para a defesa do Estado e para o bem do povo soviético. Daí então tudo começa acontecer bem rápido. O filho da URSS se torna uma celebridade, um ícone, um grande servo do governo de Joseph Stalin, a quem o kriptoniano serve com lealdade. 


Stalin é um dos personagens reais que aparece na história. E, claro, não precisa fazer muito esforço para localizar que tudo se passa durante a Guerra Fria. Período pós-Segunda Guerra Mundial, em que as nações estavam divididas em uma disputa ideológica entre dois modelos econômicos: o capitalismo e o comunismo. A princípio, isso parece nortear a trama da animação. Mas logo isso se perde. 


O roteiro acelera acontecimentos, deixa outros bem superficiais e pouco convincentes. Mais do que o super-herói, o Superman se torna o governante da URSS. Do outro lado da disputa, Lex Luthor. Os dois modelos econômicos se chocam e provocam mudanças em todo o mundo, principalmente na corrida armamentista. Os personagens principais vão alternando ações de nobreza e justiça com atos irresponsáveis e pouco inteligentes, dando um equilíbrio à trama. 

O que parecia uma crítica aos comportamentos humanos logo se inclina para um dos lados. Se no início havia uma tendência de qual dos lados era o certo - comunismo ou capitalismo -, do meio da animação em diante, a visão dos autores fica bem clara. E tudo ganha cara de propaganda. Nada mais fica convincente. 


Batman entra na história, sempre muito bem preparado. Enfrenta o Superman de uma forma que já foi mostrada em outras adaptações. Não há surpresa alguma. Mulher Maravilha tem participação importante e o Lanterna Verde não acrescenta muito. É gente demais pra pouca história. É muito incremento para um resultado bem superficial. Não deixa de ser uma obra bem criativa. Mas não tem encanto. É pra assistir e esquecer dez minutos depois. 


Quem leu os quadrinhos vai notar que o final ficou muito diferente. O que é sempre esperado, pra trazer surpresa. Mas o diferente dessa vez é sinônimo de cortes, de ausência. Dá uma sensação de incompletude. A versão da HQ tem proposta crítica à humanidade e posição praticamente neutra sobre política. A animação não. Em tempos de extremismo e polarização, "Superman: Entre a Foice e o Martelo" é bem desnecessário. 


Ficha técnica:
Direção: Sam Liu
Produção: Warner Bros. Animation / DC Entertainment 
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h25
Gêneros: Animação / Aventura / Ficção
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 2,0 (0 a 5)

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