02 julho 2020

"A Comédia dos Pecados" - Imagina se as paredes do convento falassem

Alison Brie, Aubrey Plaza, Kate Micucci são as freiras nada convencionais (Fotos: Sundance Institute/Divulgação)

Silvana Monteiro - Especial para o blog


Misturar o sagrado e o profano é uma receita  antiga pra mexer com a cabeça dos telespectadores. Em "A Comédia dos Pecados" ("The Little Hours"), mais um entre os top 10 da Netflix, outros ingredientes são acrescentados para esquentar a trama. Um convento habitado por jovens freiras com os nervos e os desejos à flor da pele. Erguido no meio da mata, é um lugar bucólico acessado apenas por uma ponte. Agora, imagine um jovem fugitivo - Massetto (Dave Franco), boa pinta, que até então, para elas, não ouve e nem fala, indo morar ali como criado?


O padre Tommasso (interpretado por John C. Reilly), responsável pelo local, e a Madre Superiora (vivida por Molly Shannon) tentam parecer  livres de qualquer suspeita para  manter as moças firmes na doutrina. Ah! Mas essa história de desejos sexuais reprimidos todo mundo já imagina no que pode dar.


E por falar em dar, as freiras Alessandra, Fernanda e Ginevra - papéis de Alison Brie, Audrey Plazza e Kate Micucci - não vão deixar barato. A fortaleza divina, neste caso, fica restrita às grossas paredes do castelo, pois nesse enredo tem de escravo sexual a rituais secretos na floresta e homossexualidade. O longa "A Comédia dos Pecados" é baseado na obra "Decameron" uma coleção de 100 novelas escritas pelo poeta renascentista Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353. Foi exibido, inicialmente, no Festival Sundance, de 2017.


Além disso, as freiras enclausuradas contam com a ajuda de um animal, que nessa história, pra sorte delas, não recebeu o dom da fala. As insaciáveis religiosas não se intimidam diante da confissão e da penitência, pelo contrário vão fazer de tudo pra viver seus pecados.

O filme tem uma boa fotografia, graças às locações feitas na bela região da Toscana, na Itália. Com leves pitadas de humor, o enredo beira a fragilidade. Mas se você quer ver uma história que mistura sensualidade, humor, sexualidade e cenas de romances sórdidos, se joga!


Ficha técnica:
Direção e roteiro
: Jeff Baena

Distribuição: Netflix
Duração: 1h30
Gêneros: Comédia / Sexo
Países: EUA / Canadá
Classificação: 16 anos

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29 junho 2020

"Wasp Network - Rede de Espiões": a arte de fazer um bom filme a partir de um livro

O elenco conta com nomes como Wagner Moura, Gael Garcia Bernal, Penélope Cruz, Edgar Ramirez, Ana de Armas e Leonardo Sbaraglia (Fotos: Memento Films Distribution)

Mirtes Helena Scalioni


Quando contam uma mesma história, o livro é sempre melhor do que o filme. A tese continua válida para "Wasp Network - Rede de Espiões", em cartaz na Netflix. Só que, desta vez, o longa dirigido pelo francês Olivier Assayas consegue, se não surpreender, no mínimo encantar até mesmo os que já leram o excelente "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", do mineiro Fernando Morais, no qual a produção foi baseada. 

Ambas as obras instigam leitores e espectadores, talvez por se tratar de uma história que poucos sabiam: na década de 1990, jovens cubanos foram infiltrados em organizações de ultradireita instaladas em Miami, que tinham como objetivo minar a economia cubana e matar Fidel Castro. O grupo foi chamado, na época, de Rede Vespa.


Só para lembrar, com o fim da União Soviética, Cuba ficou sem apoio financeiro e entrou em crise. A única saída viável a médio prazo para o país de Fidel Castro era o turismo. Exatamente para impedir que essa ideia prosperasse, e na tentativa de desestabilizar o governo, grupos anticastristas estabelecidos na Flórida orquestraram inúmeros ataques terroristas à ilha, que iam desde explodir bombas em hotéis e pontos turísticos até sobrevoar cidades jogando panfletos contra o presidente cubano, ou matando plantações com venenos jogados por aviões. Ou seja: virou guerra. O que poucos sabem é que, a partir das informações obtidas por esses espiões cubanos infiltrados em Miami, muitos ataques - e consequentemente mortes - foram evitados.


Para contar essa história verdadeira, minuciosamente pesquisada e descrita por Fernando Morais em seu livro, foi montada uma equipe poderosa de produção, que uniu brasileiros, franceses, espanhóis e belgas. O elenco também é tão diverso quanto estelar. Só para ficar nos principais, "Wasp Network..." conta com o brasileiro Wagner Moura (Juan Pablo Roque), o mexicano Gael Garcia Bernal (Manuel Viramontez/Gerardo Hernandez), a espanhola Penélope Cruz (Olga Salanueva), o venezuelano Edgar Ramirez (René Gonzalez), a cubana Ana de Armas (Ana Margarita Martinez) e o argentino Leonardo Sbaraglia (Basuto), todos absolutamente brilhantes em seus papéis. 


Em certo momento, para clarear possíveis confusões de tramas e personagens, a direção faz opção por uma voz em off que, além de esclarecer, contextualiza o funcionamento da Rede Vespa.  

É difícil falar sobre o filme sem cometer spoiller. Melhor, portanto, é contar, genericamente, que embora se trate de um longa de espionagem, não há carrões, mulheres lindas de biquini, mansões ou armas poderosas. Há sim, algumas cenas de ação, como um ataque aéreo no espaço cubano, mas o que o diretor conseguiu mesmo foi fazer um thriller político com alguns toques de humanidade ao abordar questões familiares e afetivas por trás das missões.


Atenção para a cena em que Olga, a personagem de Penélope Cruz, é obrigada a deixar sua filhinha de cerca de um ano aos cuidados de uma tia. A atuação do bebê merece Oscar. Como tanto americanos quanto cubanos têm considerado que "Wasp Network - Rede de Espiões" tendeu para o lado oposto, é sinal de que as escolhas de Olivier Assayas foram acertadas. Um filme imperdível.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Olivier Assayas
Exibição: Netflix
Duração: 2h08
Classificação: 14 anos
Gêneros: Ação / Suspense / Drama

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