12 agosto 2020

Em "The Banker", Samuel L. Jackson e Anthony Mackie arrasam como os primeiros banqueiros negros dos EUA

Para conquistar o mercado, dupla precisa de um branco para ser o teste de ferro dos negócios (Fotos: Apple TV+ /Divulgação)

Maristela Bretas


Com ótimas atuações de Anthony Mackie e Samuel L. Jackson, "The Banker" expõe o racismo na década de 1950. O primeiro longa-metragem produzido pela Apple TV+ merece ser conferido. Ele mostra duas visões da mesma questão racial, que é tão forte no interior do Texas quanto numa cidade grande como Los Angeles. Apesar da capacidade de identificar boas oportunidades de negócios e de investir dinheiro, Joe Morris (Samuel L. Jackson) e Bernard Garrett (Anthony Mackie) não passam de dois empresários afro-americanos que são vistos com preconceito pelo mercado.


Garret é de origem pobre, nascido numa cidade pequena do Texas que ainda vive sob a bandeira confederada e que não aceita que negros tenham direitos. Genial em cálculos desde pequeno, ele passa a juventude aprendendo tudo o que pode sobre mercado imobiliário e investimentos financeiros. E promete a si mesmo que vai vencer e construir seu império numa grande cidade. Mackie está ótimo no papel, do negro batalhador, mas arrogante, que não aceita o subemprego, nem mesmo quando sua empresa está em risco.

Samuel L. Jackson, com seu jeitão fanfarrão e a risada que é marca registrada, entrega, como sempre, uma ótima interpretação de Joe Morris, o dono de um clube noturno que, com muito jogo de cintura, fez sua vida e fortuna em Los Angeles. 


Apesar de trancos e barrancos do primeiro contato, ele e Garret acabam formando uma sólida sociedade numa corretora imobiliária para depois partirem para um voo mais ousado: se tornarem os primeiros banqueiros negros dos Estados Unidos, em um dos piores períodos de segregação racial do país.

Mas para terem sucesso e entrarem "no mundo dos brancos", eles precisavam "ser brancos". Para isso, tiveram que contar com mais um integrante na equipe que era um fracasso total em fazer negócios e que tinha pouco tempo para aprender como se tornar um empresário de sucesso e ser o testa de ferro da dupla para negociar no preconceituoso mercado. 


E foi usando a cor e a aparência de Matt Steiner (Nicholas Hoult, que também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar a dupla) que Garrett e Morris conseguiram, por muitos anos, contornar as limitações raciais da época e se tornarem os primeiros proprietários de imóveis negros mais ricos e bem-sucedidos do país. Hoult também entrega uma boa atuação e consegue acompanhar o ritmo da dupla principal.


A todo o momento, a questão racial é lembrada, tanto na hora de fechar um negócio usando Steiner de fachada, quanto na relação de Garrett com as pessoas de sua cidade natal. Numa época em que negros eram vistos como raça inferior, um segredo como este ia acabar sendo descoberto. O enredo é bom, mas é na interpretação da dupla principal que o filme se sustenta muito bem. Também a reconstituição de época ficou muito boa


Baseada em fatos reais, "The Banker" teve seu lançamento adiado por causa de uma acusação de abuso sexual infantil cometido por Bernard Garrett Jr. contra as irmãs do segundo casamento do pai quando todos moravam na mesma casa. Ou seja, no período abordado pelo filme. O acusado é um dos produtores do filme e aproveitou para contar apenas sua versão da história do pai, quando vivia com sua mãe, Eunice. No filme ela é interpretada por Nia Long, cujo talento merecia mais destaque.

A madrasta e as meias-irmãs de Garrett Jr. foram ignoradas completamente por ele na história, provocando revolta na família. Os abusos foram denunciados às vésperas da estreia no cinema, em novembro de 2019, provocando seu adiamento. Somente em julho deste ano, a Apple TV+ lançou a produção diretamente em seu canal de streaming.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
George Nolfi
Exibição: Apple Tv+
Produção: Romulus Entertainment
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
Gênero: Drama
Nota: 4,5 (0 a 5)


Tags: TheBanker, AppleTV+, AnthonyMackie, SamuelLJackson, NicholasHoult, NiaLong, drama, banqueiros, racismo, segregaçãoracial, cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

06 agosto 2020

"Difícil É Não Brincar" é selecionado para o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo

Produção mineira registra a infância em três distritos do interior de Minas Gerais (Fotos: Eliane Gouvêa/Divulgação)


Da Redação


A produção mineira "Difícil É Não Brincar", da diretora Papoula Bicalho, foi selecionada para o 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que acontece entre 20 e 30 de agosto, na Mostra Infanto-Juvenil. O filme é dos seis mineiros selecionados entre 3.056 inscritos na premiação.

O curta registra a infância em três distritos do interior de Minas Gerais pertencentes aos municípios de Congonhas e Ouro Preto, onde a produção de minério é a principal atividade econômica. Entre minas e minérios, crianças brincam e revelam seus sonhos e pesadelos, apostando que até nas adversidades, difícil mesmo é não brincar.

Dar voz às crianças é o principal objetivo do filme. “Meu desejo era torná-las protagonistas, narradoras e produtoras das sequências. A brincadeira foi o modo de obter isso de forma espontânea e criativa”, conta Papoula Bicalho, que concebeu e dirigiu o filme. “Quando as crianças brincam, liberam o seu imaginário e mostram de forma sensível os desejos, sonhos e pesadelos que as animam ou afligem. Você passa a ver a criança sem as máscaras impostas por certa cultura ou religião, pela família, por hábitos e costumes. Elas estão ali, inteiras, inventivas”.


Ambientado nesse universo lúdico das brincadeiras da infância, o enredo traz à tona várias nuances desta fase da vida e levanta questões pessoais e sociais que as crianças enfrentam: as inseguranças, a adaptação a diferentes realidades das comunidades, os sonhos que dividem espaço com incertezas do futuro e as delícias de ser criança e poder, mesmo nas adversidades, inventar mundos possíveis, brincando.

Participaram das filmagens mais de 90 crianças de Miguel Burnier e Comunidade do Mota (distrito e sub-distrito de Ouro Preto) e Lobo Leite (distrito pertencente a Congonhas). Os pontos de partida para a construção do enredo foram provocações e desafios que pudessem resultar em brincadeiras e depoimentos significativos para desvendar anseios, intimidações, prazeres e desejos que se apoderam dessas crianças no dia-a-dia. “O narrador do filme é a ação delas em meio aos colegas, amigos e à paisagem dos locais onde vivem”, explica Papoula Bicalho.


O curta contou com direção de produção de Janice Miranda, apoio institucional do Museu de Congonhas, parceria com a comunidade escolar dos distritos onde foram feitas as filmagens e realização da Luz Comunicação, com patrocínio da Gerdau.

Link para o teaser:

Ficha técnica:
Direção, concepção, roteiro, trilha e montagem
: Papoula Bicalho

Assistência de direção: Bruno Madeira, Zé Paulo Osório
Direção de produção: Janice Miranda
Produção: Fabrício Kent, Nathália Rezende Santos, Valdirene Andrade
Captação de imagem e som: Eliane Gouvêa, Papoula Bicalho, Rodrigo Gouvêa, Zé Paulo Osório
Tratamento e masterização de som: André Cabelo
Transporte: Edgard Magalhães, João Batista De Magalhães

Tags: DifícilÉNãoBrincar, FestivalInternacionalDeCurtasMetragensDeSãoPaulo, curta-metragem, produçãomineira, Papoula Bicalho, OuroPreto, Congonhas, crianças, brincadeiras, cinemanoescurinho