16 dezembro 2020

"Mulher-Maravilha 1984" é um filme de desejos, medos e seres humanos

 

Gal Gadot retorna a seu papel de super-heroína e entrega outra grande produção (Fotos: Clay Enos/ DC Comics)

Maristela Bretas


Patty Jenkins e Gal Gadot provam mais uma vez que duas mulheres inteligentes e engajadas fazem a diferença. "Mulher-Maravilha 1984" não é mais um filme de super-heroína, mesmo com toda a ação, efeitos visuais fantásticos, ótimas batalhas e grandes vilões. A famosa personagem que usa um maiô dourado, vermelho e azul entrega um filme que explora sentimentos, medos e, principalmente, desejos. Coisas comuns dos seres humanos, mas que agora atingem uma das maiores guerreiras de Themyscira.

A esperada produção apresenta um equilíbrio pouco visto nos demais personagens da DC Comics, com a Mulher-Maravilha novamente interpretada pela bela e carismática Gal Gadot, dividindo o espaço quase que em igualdade com seus dois arqui-inimigos: Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro Pascal). Difícil dizer quem está melhor. 
 

Não espere ver apenas lutas da heroína contra os excelentes vilões. O forte de todo o enredo é o desejo, para o bem ou para o mal, que move o ser humano. Diana Prince, mesmo sendo uma semideusa não escapa de sucumbir a seu mais profundo desejo - o de ter de volta seu grande amor, Steve Trevor (Chris Pine), morto na 1ª Grande Guerra ("Mulher-Maravilha”- 2017).

E é assim que os fãs vão poder ver o belo e apaixonado casal junto novamente. Mas como Superman, Trevor é a criptonita de Diana. O público vai conhecer também a mulher fragilizada e quase sem poderes, capaz de sangrar e de se ferir, mas nunca de deixar de amar seu piloto e a humanidade, por pior que ela seja.
 

Se uma guerreira não resiste a ter um desejo realizado, não seriam os pobres mortais como Bárbara Minerva (Kristen Wiig) e Maxwell Lord (Pedro Pascal) que ficariam ilesos. E tudo isso graças a uma misteriosa pedra do passado. E não só eles, mas todos que são expostos a ela. 
 
Wiig (de "Perdido em Marte" - 2015 e "Caça-Fantasmas" - 2016) arrasa na transformação de Bárbara, uma pesquisadora desleixada e quase invisível ao mundo numa poderosa e atraente mulher, mas sem sentimentos. Para depois se tornar a Mulher-Leopardo, com poderes semelhantes aos da Mulher Maravilha. Ela está demais, sem ser caricata.


Mas é em Pascal que estão concentradas todas as ações do filme e ele entrega um vilão excelente, sem ser caricato. O ator, conhecido por papéis em sucessos como as séries "Narcos" (2015 a 2017), da @Netflix, e "The Mandalorian", em exibição na @Disney+, interpreta o empresário de boa lábia, mas falido que se torna o homem mais poderoso do mundo. Ele muda comportamento e feições, sem alterar sua aparência ou usar fantasia, como acontece com muitos vilões dos quadrinhos. Seu mal é interior, faz parte da essência dos seres humanos - a ganância.
 


O filme traz de volta também duas grandes atrizes do primeiro filme - Robin Wright, como Antíope, e Connie Nielsen, a rainha Hippolyta, mãe de Diana. Apesar da participação apenas no início, elas representam os valores que vão guiar Diana por toda a sua vida e fazer a diferença na luta contra os inimigos. 
 

Mas e os efeitos visuais? Claro que estão bem presentes e como era esperado, excelentes e com muita destruição, mas sem matança e sangue jorrando. Uma característica da Mulher-Maravilha que, como ela mesma diz, não gosta de armas. O laço dourado é seu aliado contra os bandidos. Tudo se resolve com charme, um sorriso, uma piscada ou uma boa briga. Tem também perseguição com tanque, só para ficar diferente.


 
A ótima trilha sonora foi acertadamente entregue ao grande Hans Zimmer, responsável por sucessos como "Batman vs Superman - A Origem da Justiça" (2016), que conta também com a Mulher-Maravilha no elenco, "Dunkirk" (2017), "O Rei Leão" (2019) e outros inúmeros sucessos para o cinema. Não poderia ficar de fora a música tema.

 


Gal Gadot está mais madura, segura de seu papel como super-heroína e símbolo da força das mulheres. E encontrou em Jenkins, também roteirista do filme, a parceira ideal para apresentar esta personagem inspiradas nos quadrinhos da DC Comics. As duas também são produtoras do filme, juntamente com Zack e Deborah Snyder e Charles Roven.


"Mulher-Maravilha 1984", assim como a primeira, é outra grande produção e merece ser assistida no cinema, tomando as devidas medidas de segurança: use máscara durante toda a exibição e não esqueça o álcool gel antes e depois da sessão.
 


Ficha técnica:
Direção:
Patty Jenkins
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 2h30
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura /Fantasia
Nota: 5 (de 0 a 5)

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12 dezembro 2020

“O Gambito da Rainha” até agrada, mas pode cansar como assistir a uma demorada partida de xadrez

 

Minisérie, em exibição na Netflix, está na 1ª temporada com sete episódios e é ambientada entre as décadas de 1950 e 1960 (Fotos: Netflix)

Mirtes Helena Scalioni


Desde que foi lançada em outubro, tornando-se o maior sucesso da Netflix, o que mais se ouve em relação a “O Gambito da Rainha” ("The Queen’s Gambit") é: “não é preciso entender de xadrez para gostar da série”. Verdade. A trajetória da órfã Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), desde que foi entregue a um orfanato até se tornar uma campeã de xadrez, é capaz sim de despertar o interesse dos espectadores, até porque não se trata de uma menina qualquer.

 
Deixada no orfanato depois que sua mãe morreu em um acidente de carro quando ela tinha nove anos, Beth Harmon sofre com lembranças e traumas. É neste período que ela começa a aprender xadrez até se revelar uma criança-prodígio nesse jogo, reservado praticamente só aos homens na década de 1950. Enquanto a menina – e depois a jovem - revive seu passado, vai revelando ao público o que a faz ter tantos problemas e feridas não cicatrizadas. 


Para quem não sabe, “gambito” é uma manobra de xadrez que consiste em driblar o adversário entregando a ele uma peça importante do jogo para, logo à frente, conseguir vantagens. Claro que o jogo é também uma metáfora da vida sofrida de Beth que, além de ser única num universo dominado por homens, faz uma personagem complexa e contraditória, cheia de vícios e, muitas vezes, disposta à autodestruição.


Cenários e locações deslumbrantes nos Estados Unidos, no México, na França e na União Soviética, também ajudam, assim como os figurinos, impecáveis, que acompanham o crescimento da personagem dos nove aos vinte e poucos anos, do sisudo uniforme do orfanato à leveza dos godês de cinturinha fina até chegar às saias acima dos joelhos. As décadas de 1950 e 1960 estão muito bem representadas no longa. Uma curiosidade: o filme foi adaptado do romance homônimo escrito em 1983 por Walter Tevis.


Além da performance de Anya Taylor-Joy, que enfeitiça o público e cria mistérios com olhares e uma expressão corporal perfeita, há que se destacar a atuação de Marielle Heller como Alma Wheatley, a mãe adotiva de Beth, responsável pelos momentos mais ternos, afetuosos e humanos do longa. Um truque talvez da direção de Scott Frank e Allan Scott para aliviar o olhar do espectador cansado de tantos tabuleiros, bispos, cavalos, torres e partidas. 


Conta-se que a produção de “O Gambito da Rainha” fez questão de contratar profissionais de xadrez como consultores para garantir a realidade dos jogos. Nada, nenhum lance ou deslocamento de peça no tabuleiro é aleatório. Pode ser. O que cansa, na verdade, é o número exagerado de partidas. Quando não está jogando em torneios e campeonatos, Elizabeth está treinando, lendo sobre o jogo ou brincando de jogar com os amigos. Chega a ficar repetitivo.

É certo que, como já foi dito, ninguém precisa entender de xadrez para apreciar a série. Mas é certo também que parece inverossímil alguém levar a vida jogando ou só pensando no jogo dia e noite. Beira o fanatismo. E vai ver que é.


Ficha técnica:
Direção:
Scott Frank e Allan Scott
Exibição: Netflix
Duração: média 60 minutos por episódio (1ª Temporada - 7 episódios)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Série

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