Gal Gadot retorna a seu papel de super-heroína e entrega
outra grande produção (Fotos: Clay Enos/ DC Comics)
Maristela Bretas
Patty Jenkins e Gal Gadot provam mais uma vez que duas
mulheres inteligentes e engajadas fazem a diferença. "Mulher-Maravilha
1984" não é mais um filme de super-heroína, mesmo com toda a ação, efeitos
visuais fantásticos, ótimas batalhas e grandes vilões. A famosa personagem que
usa um maiô dourado, vermelho e azul entrega um filme que explora sentimentos,
medos e, principalmente, desejos. Coisas comuns dos seres humanos, mas que agora
atingem uma das maiores guerreiras de Themyscira.
A esperada produção apresenta um equilíbrio pouco visto nos
demais personagens da DC Comics, com a Mulher-Maravilha novamente interpretada
pela bela e carismática Gal Gadot, dividindo o espaço quase que em igualdade
com seus dois arqui-inimigos: Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro
Pascal). Difícil dizer quem está melhor.
Não espere ver apenas lutas da heroína contra os excelentes
vilões. O forte de todo o enredo é o desejo, para o bem ou para o mal, que move
o ser humano. Diana Prince, mesmo sendo uma semideusa não escapa de sucumbir a
seu mais profundo desejo - o de ter de volta seu grande amor, Steve Trevor
(Chris Pine), morto na 1ª Grande Guerra ("Mulher-Maravilha”- 2017).
E é assim que os fãs vão poder ver o belo e apaixonado casal
junto novamente. Mas como Superman, Trevor é a criptonita de Diana. O público
vai conhecer também a mulher fragilizada e quase sem poderes, capaz de sangrar
e de se ferir, mas nunca de deixar de amar seu piloto e a humanidade, por pior
que ela seja.
Se uma guerreira não resiste a ter um desejo realizado, não
seriam os pobres mortais como Bárbara Minerva (Kristen Wiig) e Maxwell Lord
(Pedro Pascal) que ficariam ilesos. E tudo isso graças a uma misteriosa pedra
do passado. E não só eles, mas todos que são expostos a ela.
Wiig (de "Perdido em Marte" - 2015 e
"Caça-Fantasmas" - 2016) arrasa na transformação de Bárbara, uma
pesquisadora desleixada e quase invisível ao mundo numa poderosa e atraente
mulher, mas sem sentimentos. Para depois se tornar a Mulher-Leopardo, com
poderes semelhantes aos da Mulher Maravilha. Ela está demais, sem ser caricata.
Mas é em Pascal que estão concentradas todas as ações do
filme e ele entrega um vilão excelente, sem ser caricato. O ator, conhecido por
papéis em sucessos como as séries "Narcos" (2015 a 2017), da
@Netflix, e "The Mandalorian", em exibição na @Disney+, interpreta o
empresário de boa lábia, mas falido que se torna o homem mais poderoso do
mundo. Ele muda comportamento e feições, sem alterar sua aparência ou usar
fantasia, como acontece com muitos vilões dos quadrinhos. Seu mal é interior,
faz parte da essência dos seres humanos - a ganância.
O filme traz de volta também duas grandes atrizes do
primeiro filme - Robin Wright, como Antíope, e Connie Nielsen, a rainha
Hippolyta, mãe de Diana. Apesar da participação apenas no início, elas
representam os valores que vão guiar Diana por toda a sua vida e fazer a
diferença na luta contra os inimigos.
Mas e os efeitos visuais? Claro que estão bem presentes e
como era esperado, excelentes e com muita destruição, mas sem matança e sangue
jorrando. Uma característica da Mulher-Maravilha que, como ela mesma diz, não
gosta de armas. O laço dourado é seu aliado contra os bandidos. Tudo se resolve
com charme, um sorriso, uma piscada ou uma boa briga. Tem também perseguição
com tanque, só para ficar diferente.
A ótima trilha sonora foi acertadamente entregue ao grande
Hans Zimmer, responsável por sucessos como "Batman vs Superman - A Origem
da Justiça" (2016), que conta também com a Mulher-Maravilha no elenco,
"Dunkirk" (2017), "O Rei Leão" (2019) e outros inúmeros
sucessos para o cinema. Não poderia ficar de fora a música tema.
Gal Gadot está mais madura, segura de seu papel como super-heroína
e símbolo da força das mulheres. E encontrou em Jenkins, também roteirista do
filme, a parceira ideal para apresentar esta personagem inspiradas nos quadrinhos
da DC Comics. As duas também são produtoras do filme, juntamente com Zack e
Deborah Snyder e Charles Roven.
"Mulher-Maravilha 1984", assim como a primeira, é
outra grande produção e merece ser assistida no cinema, tomando as devidas
medidas de segurança: use máscara durante toda a exibição e não esqueça o
álcool gel antes e depois da sessão.
Ficha técnica: Direção: Patty Jenkins Distribuição: Warner Bros. Pictures Duração: 2h30 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura /Fantasia Nota: 5 (de 0 a 5)
Minisérie, em exibição na Netflix, está na 1ª temporada com
sete episódios e é ambientada entre as décadas de
1950 e 1960 (Fotos: Netflix)
Mirtes
Helena Scalioni
Desde que
foi lançada em outubro, tornando-se o maior sucesso da Netflix, o que mais se
ouve em relação a “O Gambito da Rainha” ("The Queen’s Gambit") é:
“não é preciso entender de xadrez para gostar da série”. Verdade. A trajetória
da órfã Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), desde que foi entregue a um
orfanato até se tornar uma campeã de xadrez, é capaz sim de despertar o
interesse dos espectadores, até porque não se trata de uma menina qualquer.
Deixada no
orfanato depois que sua mãe morreu em um acidente de carro quando ela tinha
nove anos, Beth Harmon sofre com lembranças e traumas. É neste período que ela
começa a aprender xadrez até se revelar uma criança-prodígio nesse jogo,
reservado praticamente só aos homens na década de 1950. Enquanto a menina – e
depois a jovem - revive seu passado, vai revelando ao público o que a faz ter
tantos problemas e feridas não cicatrizadas.
Para quem
não sabe, “gambito” é uma manobra de xadrez que consiste em driblar o
adversário entregando a ele uma peça importante do jogo para, logo à frente,
conseguir vantagens. Claro que o jogo é também uma metáfora da vida sofrida de
Beth que, além de ser única num universo dominado por homens, faz uma personagem
complexa e contraditória, cheia de vícios e, muitas vezes, disposta à
autodestruição.
Cenários e
locações deslumbrantes nos Estados Unidos, no México, na França e na União
Soviética, também ajudam, assim como os figurinos, impecáveis, que acompanham o
crescimento da personagem dos nove aos vinte e poucos anos, do sisudo uniforme
do orfanato à leveza dos godês de cinturinha fina até chegar às saias acima dos
joelhos. As décadas de 1950 e 1960 estão muito bem representadas no longa. Uma
curiosidade: o filme foi adaptado do romance homônimo escrito em 1983 por
Walter Tevis.
Além da
performance de Anya Taylor-Joy, que enfeitiça o público e cria mistérios com
olhares e uma expressão corporal perfeita, há que se destacar a atuação de
Marielle Heller como Alma Wheatley, a mãe adotiva de Beth, responsável pelos
momentos mais ternos, afetuosos e humanos do longa. Um truque talvez da direção
de Scott Frank e Allan Scott para aliviar o olhar do espectador cansado de
tantos tabuleiros, bispos, cavalos, torres e partidas.
Conta-se que
a produção de “O Gambito da Rainha” fez questão de contratar profissionais de
xadrez como consultores para garantir a realidade dos jogos. Nada, nenhum lance
ou deslocamento de peça no tabuleiro é aleatório. Pode ser. O que cansa, na
verdade, é o número exagerado de partidas. Quando não está jogando em torneios
e campeonatos, Elizabeth está treinando, lendo sobre o jogo ou brincando de
jogar com os amigos. Chega a ficar repetitivo.
É certo que,
como já foi dito, ninguém precisa entender de xadrez para apreciar a série. Mas
é certo também que parece inverossímil alguém levar a vida jogando ou só
pensando no jogo dia e noite. Beira o fanatismo. E vai ver que é.
Ficha técnica: Direção: Scott Frank e Allan Scott Exibição: Netflix Duração: média 60 minutos por episódio (1ª Temporada - 7 episódios) Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Drama / Série