03 janeiro 2021

“AmarElo - É Tudo Pra Ontem” convoca o Brasil a reescrever a história do negro neste país

Documentário do rapper Emicida foi gravado nos bastidores e durante o show no Theatro Municipal de São Paulo (Fotos: Jefferson Delgado)


Mirtes Helena Scalioni


Não é preciso ser especialista nem iniciado no gênero para aplaudir com entusiasmo o documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, do rapper e ativista Emicida. Até porque o filme, em cartaz na Netflix, fisga o espectador é pela emoção. É no vaivém das câmeras, ora nos bastidores e no palco do show histórico que ele fez no majestoso Theatro Municipal de São Paulo, ora nos inúmeros depoimentos de pessoas envolvidas na tarefa que parece ser o objetivo do artista: mais do que convidar, convocar o Brasil a reescrever a história do negro neste país.


Dirigido com equilíbrio e inteligência por Fred Ouro Preto, “AmarElo...” resgata nomes esquecidos da nossa cultura miscigenada, desde os primeiros sambistas que resistiram com bravura, passando pelo Movimento Negro Unificado de 1987 e por artistas e intelectuais pretos que nossos livros didáticos desconhecem. Ao final, o espectador compreende, com nitidez, o porquê do pedido de urgência no título do filme.


Não é preciso rebuscar o discurso para falar de preconceito e desigualdades. É isso que o rapper Emicida deixa claro durante todo o filme, quando, com sua linguagem peculiar, decreta mais de uma vez do alto do palco daquele teatro inatingível agora ocupado: “Nóis só tem nóis. Tá ligado?” Ou quando entoa a versão que fez de um velho sucesso de Belchior: “Tenho sangrado demais/tenho chorado pra cachorro/ano passado eu morri/mas esse ano eu não morro”.


Impossível ficar alheio ao ver aquele teatro lotado de pobres e negros cantando junto com o rapper, ídolo sem pompa, de carne e osso como todo mundo. Não é por acaso que “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, começa e termina com a frase em off na voz do próprio Emicida repetindo um ditado iorubá: “Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que só jogou hoje”.



Ficha técnica: 
Direção: Fred Ouro Preto 
Exibição: Netflix 
Duração: 1h29 
Classificação: 12 anos 
País: Brasil 
Gêneros: documentário

02 janeiro 2021

"Umbrella" - uma animação emocionante, terna e merecedora de Oscar

 Curta-metragem brasileiro entra na disputa por uma indicação em 2021 (Fotos: Stratostorm/Divulgação)

Maristela Bretas


De fazer chorar do início ao fim. Este é "Umbrella", o curta-metragem de animação brasileiro produzido pelo estúdio criativo Stratostorm, que entra na corrida pelo Oscar 2021. Ele será o primeiro nacional do gênero a se aproximar da seleção para a premiação da Academia. A previsão é de que a lista de indicados ao Oscar seja divulgada em 15 de março.

São quase 8 minutos de muita emoção, especialmente porque foi inspirado em fatos reais vivenciados pela irmã da diretora Helena Hilario. Para quem quiser conferir, a animação obra ficará disponível gratuitamente entre os dias 7 e 21 de janeiro no Youtube da Stratostorm: https://www.youtube.com/user/stratostormvfx/featured



"Umbrella" é emocionante, doce, cheio de bondade e ternura e também tristeza ao contar a história do pequeno Joseph. No passado, uma menina que acompanha a mãe na visita a um orfanato, conhece o garoto, que sonha em ter um guarda-chuva amarelo. Este encontro inesperado desperta a memória do menino e vai mudar a vida de ambos. Mas também é capaz de nos fazer refletir sobre a importância de observar, escutar e sempre se colocar no lugar do outro.


Helena Hilario e Mario Pece se uniram para criar o roteiro e dirigir esse projeto independente que já conquistou prêmios e indicações em 14 festivais internacionais de cinemas e curtas. A mais recente premiação foi a de Melhor Curta de Animação do Tribeca Film Festival 2020, nos Estados Unidos.

“Estamos muito felizes e honrados pelo reconhecimento do nosso trabalho nos mais importantes e prestigiados festivais de cinema do mundo. A trajetória para produzir o projeto não foi fácil, mas nos enche de orgulho olhar cada pedacinho da história do "Umbrella" e trazer esse reconhecimento para o mercado de animação brasileiro”, comenta Helena.



    

Segundo ela, o roteiro foi escrito com um storytelling voltado para um curta-metragem. "Nosso objetivo era fazer um curta de animação e transformar a dor em arte. Nos inspiramos em um evento triste para criar uma história bonita e delicada. E assim entendemos que não podemos julgar as pessoas sem saber o que tem por trás daquela vivência. Por isso pensamos em trazer a empatia e a esperança para essa narrativa. Algo que precisamos cada vez mais e mais”, complementa.

O projeto foi escrito em dezembro de 2011 e ganhou vida em 2019. “Umbrella é nosso projeto pessoal e é um trabalho artístico lindo, produzido por uma equipe pequena de artistas excepcionais e talentosos, que colocaram todo amor e dedicação na execução de todas as etapas da produção e trouxeram à vida exatamente o que nós imaginávamos. Foi um trabalho incrível de colaboração e aprendizado entre todos nós e estamos muito felizes em chegarmos tão longe”, reflete Helena.


Ficha Técnica:
Criação: Estúdio Criativo Stratostorm 
Roteiro, Direção e Produção: Helena Hilario e Mario Pece 
Equipe completa: confira no site http://www.umbrella.movie 
Duração: 7'55 
Classificação: Livre 
País: Brasil 
Gêneros: Animação / Família 
Nota: 5 (de 0 a 5)