05 janeiro 2021

Diretora da animação "Umbrella" fala sobre o curta premiado e outros projetos

Helena Hilário e Mario Pece dirigiram, roteirizaram e produziram "Umbrella" (Foto Patty Rabello/Divulgação)

Maristela Bretas


Com quase oito minutos de pura emoção, o público poderá conferir de 7 a 21 de janeiro no canal do Youtube do estúdio criativo Stratostorm: https://www.youtube.com/user/stratostormvfx/featured - o emocionante curta de animação brasileiro "Umbrella". A produção será a primeira nacional do gênero a se aproximar da seleção para o Oscar 2021, cuja lista deverá ser anunciada no dia 15 de março. Saiba mais sobre a animação no post do blog - https://bit.ly/3536fvw.

O blog @cinemanoescurinho conversou rapidamente com a diretora Helena Hilário que dirigiu, roteirizou e produziu "Umbrella", juntamente com o também diretor Mario Pece. A animação já conquistou 14 premiações em festivais internacionais. Helena fala sobre o prazer deste reconhecimento, outras produções e projetos futuros.

- Com tantas indicações e premiações (podendo inclusive disputar o Oscar), "Umbrella" já pode ser considerado o curta de animação que vai abrir as portas para o reconhecimento da excelente qualidade da produção nacional nesta categoria?
Curtas são uma forma de arte fascinante e onde algumas das animações mais bonitas podem ser encontradas. Acreditamos que temos artistas muito talentosos no nosso país, tanto artistas de animação tradicional 2D quanto artistas de CGI e animação 3D. Existem produções maravilhosas acontecendo no Brasil e ficamos muito felizes sempre que vemos novos projetos de animação feitos por brasileiros e que exploram o storytelling e novas técnicas.


O mercado de animação independente em geral é muito desafiador, pois a produção é demorada, os custos são altos e requer muito planejamento e um monte de elementos e variáveis, tanto técnica quanto artística, que devem funcionar juntamente em perfeita sincronia para o projeto dar certo. Não existe uma fórmula exata e o bom resultado em animação se dá muito por experiência na área, solução de desafios e paciência (risos). Nós esperamos inspirar cineastas brasileiros a contar suas histórias.


- A Stratostorm já está trabalhando em algum novo projeto de animação?
Sim. Além dos projetos que colaboramos com clientes para publicidade e entretenimento, estamos trabalhando em alguns outros projetos autorais. Um deles é o nosso próximo curta-metragem com uma estrutura narrativa de drama, bem emotivo e complexo, com uma mensagem bonita na mesma linha do "Umbrella". E estamos trabalhando em alguns outros projetos bem legais, um deles é um canal no Youtube de músicas infantis chamado StratoKids que lançamos recentemente e estamos na reta final de produção de uma série infantil de dez episódios que será lançada em breve.

 


Ponto de partida

A Stratostorm também criou outro curta, bem divertido -"Monsters Got Talent", que conta a história de três amigos monstros numa cidade de monstros. Eles resolvem abrir audições para uma competição de talentos e procuram os melhores artistas, entre cantores a mágicos, dignos do grande prêmio.

Como surgiu a ideia de um show de talentos de monstros?  Ele também chegou a ser apresentado em algum festival internacional de curtas?
O "Monsters Got Talent" foi nosso primeiro experimento e desafio com animação, sabíamos que um dia iríamos viabilizar o Umbrella e já estávamos planejando, mas nunca tínhamos produzido uma animação com personagens então decidimos criar um projeto durante nosso tempo livre ao longo de 2016 para ganharmos experiência e organizarmos o workflow e pipeline do estúdio para nos prepararmos para o "Umbrella".

"Monsters" foi um projeto cheio de aprendizados para todos nós. A intenção era ser algo interno do estúdio e não planejamos ele para festivais. Porém, na época que colocamos o curta online, ele nos rendeu uma resposta positiva da comunidade de animação. Então deixamos online como um showcase do nosso potencial. É um curta sempre recebido com carinho. Para nós foi essencial termos produzido um projeto menor antes de encararmos uma produção tão complexa quanto o "Umbrella". 



Ficha Técnica
Criação:
Estúdio Criativo Stratostorm
Roteiro, Direção e Produção: Helena Hilario e Mario Pece
Equipe completa: confira no site http://www.umbrella.movie
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: Animação / Família 

03 janeiro 2021

“AmarElo - É Tudo Pra Ontem” convoca o Brasil a reescrever a história do negro neste país

Documentário do rapper Emicida foi gravado nos bastidores e durante o show no Theatro Municipal de São Paulo (Fotos: Jefferson Delgado)


Mirtes Helena Scalioni


Não é preciso ser especialista nem iniciado no gênero para aplaudir com entusiasmo o documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, do rapper e ativista Emicida. Até porque o filme, em cartaz na Netflix, fisga o espectador é pela emoção. É no vaivém das câmeras, ora nos bastidores e no palco do show histórico que ele fez no majestoso Theatro Municipal de São Paulo, ora nos inúmeros depoimentos de pessoas envolvidas na tarefa que parece ser o objetivo do artista: mais do que convidar, convocar o Brasil a reescrever a história do negro neste país.


Dirigido com equilíbrio e inteligência por Fred Ouro Preto, “AmarElo...” resgata nomes esquecidos da nossa cultura miscigenada, desde os primeiros sambistas que resistiram com bravura, passando pelo Movimento Negro Unificado de 1987 e por artistas e intelectuais pretos que nossos livros didáticos desconhecem. Ao final, o espectador compreende, com nitidez, o porquê do pedido de urgência no título do filme.


Não é preciso rebuscar o discurso para falar de preconceito e desigualdades. É isso que o rapper Emicida deixa claro durante todo o filme, quando, com sua linguagem peculiar, decreta mais de uma vez do alto do palco daquele teatro inatingível agora ocupado: “Nóis só tem nóis. Tá ligado?” Ou quando entoa a versão que fez de um velho sucesso de Belchior: “Tenho sangrado demais/tenho chorado pra cachorro/ano passado eu morri/mas esse ano eu não morro”.


Impossível ficar alheio ao ver aquele teatro lotado de pobres e negros cantando junto com o rapper, ídolo sem pompa, de carne e osso como todo mundo. Não é por acaso que “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, começa e termina com a frase em off na voz do próprio Emicida repetindo um ditado iorubá: “Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que só jogou hoje”.



Ficha técnica: 
Direção: Fred Ouro Preto 
Exibição: Netflix 
Duração: 1h29 
Classificação: 12 anos 
País: Brasil 
Gêneros: documentário