27 janeiro 2021

"Unidas Pela Esperança" é um filme sobre amizade e família, embalado por uma ótima trilha sonora

Baseado em fatos reais, história conta como várias mulheres de militares britânicos formaram um coral de sucesso (Fotos: Sean Gleason/Califórnia Filmes)

Maristela Bretas


Kristin Scott Thomas e Sharon Horgan estrelam a agradável e divertida produção "Unidas Pela Esperança" ("Military Wives"), dirigida por Peter Cattaneo, inspirado em fatos reais. O filme conta a história de um grupo de mulheres de diferentes origens, cujos maridos, esposas e companheiros estão servindo no Afeganistão. Morando na base militar de Flitcroft, no Reino Unido, elas não encontram muita ocupação enquanto esperam a volta deles em seis meses.


Umas gastam muito em compras supérfluas, outras se entregam à bebida e há também aquelas que vivem 24 horas em função dos filhos. Elas deixam de lado seus desejos e prazeres da vida. Tudo é motivo para ocuparem o tempo e a cabeça. Assim tentam esquecer o medo de um dia receberem a cruel notícia da perda de seu ente querido em combate.

Foi pensando nisso e vivendo o mesmo problema, que duas delas - Kate (Kristin Scott Thomas), esposa do comandante, e Lisa (Sharon Horgan), a nova diretora do Comitê Social da base, resolveram criar o primeiro coral de esposas militares. Além de dar um objetivo para elas, o coral também se torna o ponto de apoio, nos bons ou maus momentos.


O projeto dá tão certo que elas se tornam conhecidas e passam a ser chamadas para eventos externos, incluindo uma apresentação no famoso Royal Albert Hall de Londres. O difícil, no entanto, é conseguir conciliar as diversas personalidades, especialmente a de Kate, que age como uma comandante guiando um exército, e tirando o lado prazeroso das mulheres se reunirem para soltar a voz e a angústia. 

A imposição e a soberba de Kate desagradam Lisa, idealizadora do projeto, que pensava em alguma coisa mais leve, regada a vinho, música e bate-papo.


O longa-metragem foi inspirado no primeiro Coral de Esposas de Militares, formado há dez anos na base do exército de Catterick, no norte de York - Reino Unido, que também virou série da BBC - "The Choir: Military Wives". A música composta e cantada por elas liderou as paradas do Reino Unido. 

Atualmente, 2.300 mulheres compõem 75 corais de esposas de militares em todo o Reino Unido e em suas bases militares no exterior, sob o lema "Juntas Somos Mais Fortes". Eles recebem, inclusive uma homenagem nos créditos finais.


E para criar uma produção que captasse bem o sentimento destas mulheres e a importância do projeto, nada melhor que um roteiro escrito a quatro mãos femininas - Rachel Tunnard e Rosanne Flynn. A primeira se encontrou e conviveu com um grupo de esposas para obter detalhes e histórias sobre o mundo delas, o que ajudou a dar mais realidade ao roteiro. 

Várias dessas esposas participaram como figurantes, especialmente na cena em que os soldados estão indo para a guerra. "São famílias reais de soldados dizendo adeus”, segundo o produtor Piers Tempest.


Além dos dramas familiares e pessoais de Kate, e Lisa, outras personagens se destacam do grupo: a jovem recém-casada de bela voz, uma cabeleireira cuja voz desafia os padrões e uma mãe que traz uma voz inesperadamente doce. 

Kristin Scott Thomas entrega uma ótima interpretação de Kate, uma mulher durona que tenta esconder o sofrimento da perda do filho em combate. Sharon Horgan também está muito bem como Lisa, que não consegue diálogo com a filha rebelde e se entrega à bebida.


Um ponto alto é a trilha sonora de primeira. A música-tema é "Home Thoughts From Abroad", composta pelo coral verdadeiro a partir de cartas escritas para os parceiros no campo de batalha. Mas a atração mais fica para sucessos como "Angels" (Robbie Williams), "Morning Has Broken" (Cat Stevens), "Don't You Want Me" (The Human League), "Only You" (Yazoo), "We Are Family" (Sister Sleadge, não poderia faltar, claro), "Shout" (Tears For Fears), "Time AfterTime" (Cindy Lauper), "Don't Go Breaking My Heart" (Elton John), "You've Got A Friend" (James Taylor), "Wannabe" (Spyce Girls) e vários outros sucessos.

Todo filmado no Reino Unido, "Unidas Pela Esperança" mostra belas locações, como a região onde estão as instalações do 4º Batalhão do Regimento Escocês usado nas filmagens e o centro de Londres e suas construções clássicas, como o prédio do Royal Albert Hall. Um filme feito como homenagem, em que se destaca a amizade e, a união. Ideal para uma sessão da tarde.


Ficha técnica:
Direção: Peter Cattaneo
Distribuição: Califórnia Filmes (em exibição nos cinemas)
Duração: 1h52
Classificação: 12 anos
País: Reino Unido
Gêneros: Drama / Comédia
Nota: 3 (de 0 a 5)

24 janeiro 2021

"Soul"´- Animação para adulto que discute o propósito da vida com excelente trilha sonora

Joe e 22 vivem grandes aventuras entre a vida terrena e uma existência espiritual (Fotos: Disney-Pixar/Divulgação)


Maristela Bretas


E se você tivesse uma segunda chance de viver, o que mudaria? Já parou para pensar se fez a escolha certa? Pois foi com esta abordagem e uma ótima trilha sonora que a animação "Soul", da Disney/Pixar foi lançada diretamente na plataforma de streaming Disney Plus.Enquanto "Divertida Mente" (2015) e "Toy Story 4" (2019) foram destinados à criançada, com muita cor e personagens divertidos, mas uma mensagem direta aos públicos jovem e adulto, "Soul" definitivamente foge deste padrão e não é para criança.
 

A animação trata do propósito da vida, as escolhas - certas ou erradas - que fazemos enquanto estamos vivos e que vão ser avaliadas quando passarmos para outro plano. Com direção de Pete Docter e Kemp Powers, "Soul" conta a história de Joe Gardner (voz de Jamie Foxx), um simpático pianista e professor de música do ensino médio que sonha em se tornar um músico profissional e brilhar como os grandes nomes do jazz. Uma paixão aprendida com o pai e que ele considera sua razão de viver.

 


Um passo em falso, no entanto, muda seus sonhos e ele precisará reavaliar tudo o que acreditava e aceitar o que virá pela frente. E ainda ensinar uma alma da pré-vida muito fofa e rebelde - a 22 (voz de Tina Fey) - a gostar e se adaptar à vida terrena. A pré-vida é um lindo e colorido lugar onde as novas almas conquistam suas personalidades, peculiaridades e interesses, antes de irem para a Terra e ocuparem novos corpos. As crianças poderão gostar das "alminhas" da pré-vida que estão esperando sua chance e aprontam todas. Mas só.
 
 


Joe não aceita a morte e menos ainda a incumbência de ser babá e fará de tudo para voltar ao seu antigo corpo. Ele só pensa em música e se cobra por não ter atingido o sucesso que o pai esperava e que a mãe (dublada por Angela Basset) preferia que não existisse. Ele não consegue se ver fazendo outra coisa e não abre seus horizontes, mas também é inconformado com o que conseguiu na vida. 

 
Já 22 é rejeitada por todos em sua dimensão e não consegue descobrir qual a sua missão. E será sua convivência com o mentor que irá lhe ajudar a descobrir respostas para perguntas importantes sobre sua existência.
 

 
Algumas abordagens são complicadas e geram dúvidas até mesmo em adultos.Uma animação boa para ser analisada por psicólogos e psicanalistas. Em meio a aventuras, corpos trocados e a descoberta de prazeres, delícias e também tristezas, Joe e 22 vão entendendo quais os seus propósitos na vida e quais podem ser deixados de lado, por não serem tão importantes quanto esperavam. 
 


"Soul" é bonito e sensível. A trilha sonora, especialmente formada por jazz, fazem o coração da gente bater forte. Mexe com o espiritual e o sentimento ao tratar a aceitação da morte. Oferece um show de sons, imagens e encantamento quando as notas começam a fluir do piano de Joe ou da banda que ele acompanha. Apesar de não provocar risadas ou choro, como alguns sucessos anteriores da Disney/Pixar, a animação é inspiradora e merece ser vista.

 

Ficha técnica:
Direção:
Pete Docter e Kemp Powers
Exibição: Disney+
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Animação / Aventura / Família
Nota: 4 (de 0 a 5)