22 março 2021

Apesar dos senões, “Filhas de Eva” cumpre, com talento e beleza, seu papel de celebrar o mês das mulheres

Giovana Antonelli, Renata Sorrah e Vanessa Giácomo estão nos papéis principais da nova série da Globoplay (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Ao assistir, exibidos num telão, aos vídeos antigos da sua própria vida na celebração das Bodas de Ouro, Stella, que é casada com um homem muito rico, se descobre insatisfeita. E, cheia de coragem, aos 70 anos de idade, decide ali mesmo acabar com a festa e pedir o divórcio. 
 
É esse o pontapé inicial do roteiro escrito por Adriana Falcão, Jô Abdu, Martha Mendonça e Nelito Fernandes para “Filhas de Eva”, série de 12 episódios em cartaz no Globoplay. A partir daí, entrelaçam-se outras tantas histórias de mães, amantes, esposas, amigas e namoradas em diferentes fases da vida, todas buscando espaço, independência, reconhecimento e liberdade.

 
 
Lançada com algum estardalhaço para celebrar o Dia Internacional da Mulher, “Filhas de Eva” faz jus tanto ao alarde quanto à data que almejou celebrar. Dirigida por Leonardo Nogueira, a série traz Renata Sorrah como Stella, Giovana Antonelli como sua filha Lívia, e Vanessa Giácomo como Cléo nos papéis principais. E como se trata de um tema fundamentalmente feminino, outras grandes atrizes brilham no elenco, como as veteranas Cecília Homem de Melo e Analu Prestes, além da jovem Débora Ozório, que interpreta a adolescente feminista Dora.



Apresentada como uma comédia dramática, “Filhas de Eva” procura dar leveza a temas normalmente ligados às mulheres, como a dependência financeira ou afetiva, virgindade, amamentação, traição, envelhecimento, solidão. E mostra também o outro lado da história, quando fala de amor na maturidade, amizade e, principalmente, do que se convencionou chamar hoje de sororidade – a solidariedade entre mulheres. 
 
 Os personagens são ricos, da corajosa Stella, feita sob medida para Renata Sorrah, à Lívia e sua psicologia de almanaque, em atuação também certeira de Giovana Antonelli. Fora da família, Vanessa Giácomo, que só entra na história por um desses acasos do destino, se sai muito bem como a suburbana Cléo, que vive na corda bamba entre um irmão malandro e uma mãe demente. A estreante Débora Ozório, como Dora, mereceria um troféu revelação tamanha a graça.


Embora não cheguem a comprometer, dois senões tiram o brilho total de “Filhas de Eva”. O primeiro deles: com honrosas exceções, os personagens masculinos são fora da curva. Tem covarde, mesquinho, invejoso, aproveitador, mentiroso, mau-caráter, bandido. Fica parecendo que, para falar bem da luta das mulheres, é preciso falar mal dos homens. 
 
Cacá Amaral (Ademar), Erom Cordeiro (Júlio), Stenio Garcia (o deputado Sampaio), Dan Stulbach (Kleber), Jean Pierre Noher (o vizinho argentino) e Marcos Veras (o jornalista Fábio) se viram como podem para não cair no estereótipo da vilania. Legal mesmo, no rol dos machos, só Juliano Lobreiro, que faz o maduro e compreensivo adolescente Gui.


O segundo senão da série fica por conta de uma cena linda, em que todas as mulheres da história se encontram numa manifestação feminista contra, entre outras coisas, a objetificação do corpo feminino. A certa altura, a mulherada levanta ou tira suas blusas e exibe os seios. Todas as coadjuvantes e figurantes ficam com os peitos à mostra porque isso faz parte do discurso. Menos as três protagonistas, que se abraçam para despistar, deixando aparecer apenas as costas nuas. Por que? Atrizes consagradas não podem se despir mesmo que o gesto tenha significado imprescindível para a obra? Pareceu incoerência.


Ficha técnica:
Direção:
Leonardo Nogueira
Exibição: Globoplay
Duração: 1ª temporada (12 episódios)
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: Drama

21 março 2021

"Liga da Justiça - Snyder Cut" é um dos melhores filmes de super-heróis dos últimos tempos

Muitas batalhas, grandes efeitos e histórias detalhadas dos personagens menos conhecidos (Fotos: HBO Max/Divulgação)

 

Maristela Bretas


Esqueça a primeira versão de "Liga da Justiça" dirigida por Joss Whedon. Apesar das quatro horas de duração, a que vale é a tão esperada de Zack Snyder que entrega um filme com muita ação, emoção e batalhas épicas, apesar de exagerar nas cenas em slow motion. Virou até piada entre alguns fãs, que alegam que a longa duração foi por causa da câmera lenta em várias lutas. 
 
"Snyder Cut" entrega o que se esperava de uma boa produção de super-heróis da DC Comics, depois de algumas decepções como "Batman vs. Superman: A Origem da Justiça" (2016), do mesmo Snyder, e da famosa frase "Salve Martha". Não fosse a batalha final, com a participação da Mulher Maravilha, o estrago seria ainda maior.


Na sequência, "Liga da Justiça" (2017) alivia a decepção, mas assistindo "Snyder Cut" é que a gente percebe como o anterior ficou com cara de filme de heróis bonzinhos, com final feliz e sem impacto. Até as cenas do epílogo são mornas perto das novas. Faltou no primeiro um "smash, smash" que até o Hulk fez melhor com  Loki em "Os Vingadores" (2012), da Marvel, dirigido também por Whedon.
 

Aí chega Zack Snyder com sua versão inicial e arrasa quarteirão desde a abertura até a última cena, sem dó de mostrar lutas sangrentas, heróis complexos e com dramas, sempre familiares e mal resolvidos, mas que se unem em defesa da Terra contra os vilões Steppenwolf (Lobo da Estepe), De Saad e o líder Darkseid. 
 


Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e até mesmo o Flash (Ezra Miller), com seu humor e simpatia, se mostram mais sombrios e atormentados por questões particulares mal resolvidas. Até a Mulher Maravilha (Gal Gadot) expõe seu lado de guerreira amazona e se iguala em participação e poder aos personagens masculinos. 
 
Se no primeiro filme, o colorido das roupas dela e de Flash quebram a escuridão do mundo de Batman, neste os tons escuros predominam, retomando uma característica mais dark do Universo DC. Outro ponto que foi perdido na edição de 2017 com a mudança de direção.


O Batman de Ben Affleck mudou pouco, manteve seu lado sombrio e, apesar de ser o líder da Liga, ficou quase como um coadjuvante na produção de Snyder. Quem dá show é o Superman de Henry Cavill com o traje preto e sangue nos olhos. Espetáculo em todos os sentidos. E olha que ele só apareceu mais no final para fechar a fatura. Algumas cenas são de arrepiar. Por sinal, Cavill, Affleck e Momoa formam um time de tirar o fôlego.
 
 
Na nova versão, Flash e Ciborgue ganham mais espaço que os heróis mais famosos e suas histórias são contadas com mais detalhes, assim como de outros, um segundo ponto importante que faltava. Isso ajuda a entender a origem de cada um e facilita para quem não assistiu aos filmes-solo de alguns deles, como "Mulher Maravilha" (2017) e "Aquaman". 
 
Flash também vai ganhar seu próprio filme, com estreia prevista para 2022, com Ezra Miller retornando ao papel do homem mais rápido do mundo. Já o Ciborgue perdeu em tudo, a começar pelo ator Ray Fisher que deixou o papel, e até o momento os estúdios estão descartando uma produção para breve sobre o herói cibernético.
 

  
"Liga da Justiça - Snyder Cut", mesmo utilizando muitas partes da versão anterior, é quase um filme novo, muito melhor, mais bem feito, sem saltos que deixam o espectador sem entender como surgiram algumas situações. Vendo este agora fica parecendo que o primeiro foi feito por Whedon para cumprir tabela e acabar logo, depois de pegar o carro andando. E acabou impondo seu estilo "Vingadores" de ser, o oposto de Zack Snyder que se afastou da direção por problemas familiares. 
 


Mas faltou falar sobre os efeitos visuais de "Snyder Cut". Simplesmente incríveis, o filme é o melhor de todos do diretor, pois conseguiu aproveitar e explorar bem os superpoderes e as histórias de cada herói, especialmente os menos conhecidos, destacou o lado emocional de cada um. O que o diretor fez foi um novo filme, acrescentou não só muitas e melhores cenas, mas também mais personagens, deu uma nova perspectiva e criou uma narrativa mais envolvente, apesar de mais pesada.


Foram quatro horas bem aproveitadas em frente à telinha da TV, com um filme dividido em seis partes. O diretor Zack Snyder pode dormir tranquilo, pois realizou uma de seus melhores trabalhos, talvez o melhor com os super-heróis do universo DC, respeitando os quadrinhos e os fãs. E apontou para o que seria o último filme da trilogia planejada inicialmente pelo diretor e que, em princípio, está adiada. 
 
"Liga da Justiça - Snyder Cut" pode ser alugado em várias plataformas digitais: Now, AppleTV, Claro, Google Play, Playstation, Sky Play, UOL Play e Vivo Play. Inesquecível e imperdível.


Ficha técnica:
Direção: Zack Snyder
Exibição: Plataformas digitais por aluguel
Produção: HBO Max / DC Comics
Duração: 4h02
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Aventura / Fantasia
Nota: 4,8 (de 0 a 5)