24 junho 2021

Mostra Cinebitaca retorna com edição online de curtas mineiros em tempos de quarentena

 Edição reúne 26 curtas e homenageia bares saudosos da cidade (Fotos: Beth Freitas)

Da Redação


A Mostra Cinebitaca está de volta de hoje ao dia 27 de junho. O evento, idealizado pela fotógrafa Beth Freitas e pela produtora cultural Tamira Abreu, foi originalmente pensado como mostra de cinema independente no boteco, e agora  é retomado nessa segunda edição em versão online. 

Com programação gratuita e diversa de filmes mineiros, o público poderá conferir a mostra no canal do Youtube (https://www.youtube.com/c/CinebitacaMostradeCinema). São 26 curtas que abordam a pandemia de Covid-19 e a quarentena a partir de pontos de vista singulares, compondo um mosaico de experiências, angústias e imaginação do contexto pelo qual passamos.

Na impossibilidade de estar no boteco vendo filmes e conversando, a Mostra vai homenagear bares saudosos da cidade. Cada um dos quatro dias de programação leva o nome de um dos bares: Bar do Lulu, Pastel de Angu, Social Bar e Restaurante e Bar Aqui, Ó.

Curta "Eu Tô Morrendo" (Crédito: Milca Alves)

A primeira edição do Cinebitaca aconteceu em abril de 2019, no Bar Brasil 41 (Santa Efigênia). Inicialmente concebida para acontecer em bares da capital mineira e agora tornada online devido à pandemia, a mostra se estrutura em quatro sessões, que são abertas por um debate com diretores e seguidas pelos filmes, com uma duração média de 50 minutos. Os filmes selecionados para a Mostra Cinebitaca concorrerão à premiação por votação do júri popular, que será realizada também online.

Os filmes

Foram mais de 130 filmes vindos de todas as regiões do estado, de gêneros, abordagem, linguagens e duração variados. Desses, foram selecionados 26 curtas, com duração de 47 segundos a 15 minutos, numa amostra que manteve a marca da diversidade.

O processo de escolha dos filmes contou com a curadoria da cineasta, produtora e professora de cinema Cristiane Ventura e a pesquisadora, mestre em Estudos de Linguagens e cineclubista Renata Oliveira.

Curta "Morde & Assopra" (Crédito: Brota Cria)

As produções foram realizadas durante a pandemia, no período de confinamento e distanciamento social que configuram uma Mostra em que a pluralidade estética dos curtas se faz presente. 

Neles o público poderá perceber repertórios de gestos e imagens que já se cristalizaram na experiência e imaginário da quarentena: dançar em casa sozinho, se embriagar, fazer a própria festa, olhar pela janela e para dentro, trabalhar frente à tela, conversar pela tela, se reunir e produzir entre a tela e a câmera; cuidados com a casa de si, a busca pela luz solar, imagens do tédio e do trabalho doméstico que parece não ter fim. 

Curta "Telaraña" (Crédito: Carolina Correa)

Os curtas produzidos no contexto da pandemia revelam os dramas do isolamento social, a dificuldade de se adaptar, os transtornos causados pelo trabalho remoto ou a ausência dele. Mas também apresentam brechas nas quais se criam espaços para revisão da própria vida, outras formas de habitar o espaço, a relação com o corpo e tentativas de imaginar possíveis futuros.

Beth Freitas e Tamira Abreu (Crédito: Beth Freitas)

Beth Freitas é publicitária, fotógrafa e videomaker. Atua como fotógrafa de eventos culturais, festivais, músicos, bandas, teatro, projetos sociais, além do trabalho autoral e artístico. Tamira Abreu é produtora cultural em Belo Horizonte há mais de 15 anos, atua em produções nas áreas de audiovisual, música, teatro e literatura. 

Programação:

Bar do Lulu – dia 24/06 às 19h
- Morde & Assopra (10’18’’) - Stanley Albano
- Memórias de resistência (14’) - Felipe Nepomuceno
- Desabafo (3’48’’) - Karen Suzane
- Pulmões da Casa (1’47’’) - Sarah Queiroz
- Espectra 1 (3’19’’) - Carolina Correa e Thembi Rosa
- Silêncio (3’48’’) - Maria Leite
- Breath (3’20’’) - Julia Baumfeld, Paola Rodrigues, Randolpho Lamonier, Sara Não Tem Nome, Victor Galvão
- Todos, um (47’’) - Daniel Rabanea e Jackson Abacatu

Aqui-ó – dia 25/06 às 19h
- Eu tô Morrendo (8’50’’) - Milca Alves
- Sapatão: uma racha/dura no sistema (12’) - Dévora Mc
- Dois (10’) - Guilherme Jardim e Vinícius Fockiss
- Alô, quem fala? (9’15’’) - Luciano Correia
- Plano Geral 8 (1’44’’) - Luiz Malta
- Sisyphus (1’) - Bernardo Silvino

Crédito: David Martins

Pastel de Angú – 26/06 às 19h
- Vou ali no mercado e já volto (4’54”) - Fernanda Junqueira
- O Corpo que Habito (10’14’’) - Brisa Marques e Carolina Correa
- AM PM (8’43’’) - Jean de Jesus
- 999 (8’) - Carolina Correa
- Concentração (6’04’’) - Jhê
- Z: Crônicas de um cotidiano insólito (4’47’’) - David Martins

Bar Social – dia 27/06 às 17h
- Disneyloka 2093 (4’46’’) - Erick Ricco
- Não subestime (11’35’’) - Lipe Veloso
- Aqui nem eu (6’) - Gustavo Aguiar, Gustavo Koncht, Maria Flor de Maio, Raiana Viana
- Ator a granel (15’) - Fabiano Persi
- Telaraña (2’) - Carolina Correa
- Retratos de uma jovem em quarentena (2’12’) - Iago de Medeiros

Serviço:
Mostra Cinebitaca: filmes de quarentena
Data
: De 24 a 27 de junho, a partir das 19h
Onde assistir: As sessões acontecerão no canal do Youtube da Mostra Cinebitaca:  https://www.youtube.com/c/CinebitacaMostradeCinema

23 junho 2021

Irresistível e nostálgico, “Os Melhores Anos de Uma Vida” presta merecida homenagem ao icônico “Um Homem, Uma Mulher”

Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée retornam 50 anos depois para reviver sua grande história de amor (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Logo no início do longa, uma voz in off declara que “os melhores anos das nossas vidas são aqueles que ainda não vivemos”. A frase é atribuída a Victor Hugo, mas não é exatamente essa a ideia que Claude Lelouch quer passar. Diretor do eterno e icônico “Um Homem, Uma Mulher”, o primeiro filme da trilogia, agora, aos 82 anos, ele promete encerrar o ciclo com “Os Melhores Anos de Uma Vida” (“Les Plus Belles Années d’une Vie”). 

O filme entra em cartaz a partir de desta quinta-feira (24) em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Florianópolis. Ainda não há previsão de reabertura das salas de Belo Horizonte.


Somente quem nasceu a partir do final da década de 1940, e tinha, portanto, os necessários 18 anos impostos pela censura para assisti-lo em 1966, sabe o que significou “Um Homem, Uma Mulher”, representante típico da nouvelle vague. (Parênteses para lembrar que essa “nova onda” do cinema francês surgiu como uma espécie de oposição às superproduções de Hollywood, apostando em obras mais intimistas e pessoais).

O longa ganhou muitos prêmios na época e arrebatou plateias mundo afora com uma história relativamente simples: o piloto de corridas Jean-Louis Duroc vive um caso de amor intenso e tórrido com a roteirista de cinema Anne Gauthier, mas o romance não tem final feliz. Os protagonistas, belos e charmosos, eram Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée. 


Entre o primeiro filme e o atual, houve um segundo, em 1986, que pouca gente viu: “Um Homem, Uma Mulher 20 Anos Depois”. Passou quase despercebido. Já o terceiro tem tudo para matar as saudades dos mais nostálgicos e dos admiradores de Lelouch. 

Eis a sinopse: preocupado com seu velho pai (Trintignant, com 89 anos), que começa a perder a memória, Antoine (Antoine Sire) procura Anne (Aimée, com 88 anos), com quem Jean-Louis viveu um grande amor há 50 anos. Ele tem esperança de que esse encontro possa, de alguma forma, amenizar a solidão do pai, que vive numa confortável casa de repouso, mas não interage com os outros moradores.


As cenas que se passam, a partir do momento em que Anne se encontra e tenta dialogar com um confuso Jean-Louis, são puro deleite, com passeios de carro, paisagens lindas, recordações, diálogos estranhos, delírios e – por que não – alguma sensualidade. 

Até porque, “Os Melhores Anos de Uma Vida” acaba se transformando num filme dentro de outro filme, tamanho o número de lembranças e citações à obra de 1966 que, não por acaso, levou, entre outros, a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dificilmente o longa atual vai interessar a alguém que não viu o primeiro.


Pode ser que alguém enxergue, em “Os Melhores Anos de Uma Vida”, uma espécie de homenagem a “Um Homem, Uma Mulher”. Pode ser. E não há nada de negativo nisso. Rever o casal em longas cenas na Normandia tem o poder de levar o espectador a um outro lugar. 

Há canções lindas costurando as cenas e a música tema é quase um personagem da história. Impossível não viajar no tempo e ficar arrepiado ouvindo a inesquecível “sabadabadá” uma quase Bossa Nova composta por Francis Lai especialmente para o filme. Clique aqui para ouvir a trilha sonora completa de "Um Homem, Uma Mulher".


Além de Antoine Sire, o filme traz também Souad Amidou como a filha de Anne, Françoise, com atuações pequenas e discretas já que todos os holofotes estão concentrados na dupla de protagonistas em situações, poses e semblantes alternando hoje e ontem. As inevitáveis comparações, principalmente baseadas nos quesitos beleza e juventude, não fazem sentido nenhum diante do que se pretende contar.

Outro ponto alto, também reproduzido de um dos mais belos momentos de “Um Homem, Uma Mulher”, é o longo passeio de carro por Paris, às seis horas da manhã, a 100 km por hora, filmado para dar a sensação ao espectador de que ele está no volante. São esses detalhes que fazem de “Os Melhores Anos de Uma Vida” em um filme irresistível.


Ficha técnica:
Direção: Claude Lelouch

Roteiro: Claude Lelouch e Valérie Perrin
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas, sem previsão para exibição em plataformas de streaming
Gênero: Romance
Duração: 1h30
País: França
Classificação: 12 anos